A arte de morar fora.
Decidir morar fora é um passo importante e muito delicado. Não é nada fácil abandonar toda uma vida e se jogar na aventura de morar longe do seu país e dos seus amigos e familiares. São muitos desafios e dificuldades enfrentadas dia após dia. A insegurança é sua grande companheira durante muito tempo. E esse glamour que alguns acham que existe, é puro papo furado. A realidade é dura e absolutamente nada é simples como parece. Estamos sempre presos à tentação do novo e à necessidade de ficar no nosso lugar. Escolher morar fora é escolher ter o coração eternamente dividido.
Quando você chega na nova terra, você não é ninguém! Você não tem amigos, não tem família, não tem história e não tem referências. Ninguém ao seu redor sabe quem é você, o que você realizou, de onde você veio, que tipo de educação você teve. As pessoas, em geral, pouco sabem sobre o seu país. A primeira coisa que se fala do Brasil é sobre futebol, depois samba e em seguida corrupção, mas também sobre o bom clima! E as pessoas se perguntam o que você veio fazer aqui. Claro, muito natural. Você simplesmente cai de paraquedas num lugar desconhecido, sem dominar a língua e sem nenhuma referência. É um momento de se reformular, de se reestruturar, de conquistar a confiança das pessoas e de refazer a sua história do zero.
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Somente quem vive esta experiência sabe o quanto é difícil esta reconstrução. Tudo o que a gente começa do zero é trabalhoso, imagina recomeçar uma vida inteira? Não, não é nada fácil mesmo. Tudo é frágil! Não existem relações fortes ao seu redor, é você com você mesmo e no máximo marido e filhos.
Viver fora é sem dúvida nenhuma uma arte. A arte da sabedoria, da paciência, de realmente aprender a viver um dia de cada vez. Uma bela arte mas também sofrida que me ensinou lições preciosas. A árdua tarefa de compreender o tempo e entender que nada é para já, talvez seja essa a lição mais importante e também a mais difícil de aprender. Ter que reconquistar coisas que você já havia conquistado durante a vida é um grande desafio e exercício diário de resiliência, de desapego, de coragem e de aceitar o tempo das coisas.
O sentimento é sempre contraditório, à frente, uma nova vida de oportunidades, de desafios, de novidades, de boas expectativas. Mas os risos que deixamos de dar junto de quem amamos nos assombram todos os dias, nos fazem olhar para trás com o peito apertado e com a mesma pergunta que fica martelando na nossa cabeça todos os dias: Será que fiz a escolha certa? Morar fora é a arte de estar sempre com um pé em cada lugar e, ao mesmo tempo, dividida entre o que você era e o que você quer se tornar, chorando porque queria estar lá e orgulhosa pelo que vem conquistando aqui. Ufa! Difícil é pouco! Saudade é palavra forte no seu dia a dia e a solidão insiste em lhe abraçar mesmo rodeada de gente.
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O preço é alto, mas há uma recompensa valiosíssima: o autoconhecimento. É impressionante como nos descobrimos durante essa caminhada. Há uma infinidade de coisas que nós aprendemos ou reaprendemos, transformando dores com persistência e percebendo o quão forte podemos ser sem o colo que nos acolhia. De repente, nos vemos num novo lugar com um furacão de incertezas e obstáculos que nos cercam, é neste exato momento que aprendemos que o segredo está em apreciar o caminho com olhar positivo, gentil e paciente, testando o tamanho da nossa força a cada dificuldade superada e da nossa coragem, que nos faz seguir em frente apesar de tudo.
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Posso dizer que o mundo visto por mim é diferente agora. Tudo mudou, o cheiro, o sabor, a cor, a começar por mim. Eu também sou diferente agora. A cada dia venho descobrindo do que sou capaz e mesmo perdida nos meus infinitos, vejo um novo mundo ali, bem a frente, e sei que a única saída é seguir adiante, e sigo, enfrentando os medos, um a um, me reconstruindo pouco a pouco, compreendendo o tempo e sendo gentil comigo mesma e com minhas escolhas.