A felicidade de um amor estrangeiro.
Algumas pessoas podem dizer que encontraram a felicidade de um amor estrangeiro. Ou seja, se apaixonaram e passaram a relacionar-se com alguém que vive muito distante, muitas vezes em outro continente. É algo incomum porque existem mil dificuldades que podem ser elencadas. Mas, e as benesses? É sobre esta mistura arrojada que pretendo escrever hoje.
Dificuldades iniciais de um amor estrangeiro
É fácil supor que um amor que ocorra à distancia possua muitas dificuldades. Uma delas é a dependência de mensageiros instantâneos. Outra, é a necessidade de compartilhar com seu amor tudo o que está ocorrendo em tempo real. O tempo vai se tornando escasso para tantos cuidados.
O expressar-se através de uma tela pode não permitir que transpareça toda a emoção, e sem dúvidas é muito diferente de um abraço ou um beijo. A falta do afeto presencial vai fazendo com que pouco a pouco adoeçamos.
As longas viagens que ocorrem de duas a três vezes por ano, os dias que sempre são poucos e curtos para estar com quem se ama, simplesmente voam. E ainda há os compromissos com familiares e amigos, que tomam o pouco tempo que resta. Aos poucos nos damos conta de que a felicidade de um amor estrangeiro é algo trabalhoso.
Passei por essa experiência durante dois anos. E quando pensamos que já existe estresse e cansaço suficiente, vem a fase das escolhas fundamentais: como faremos? Penso que tínhamos basicamente duas opções: ou destruíamos tudo ou construíamos o que faltava. Como em meu (nosso) caso a primeira opção estava fora de cogitação, escolhemos construir uma ponte.
As benesses e a felicidade de um amor estrangeiro
O amor
O amor? Ahhhhhh, o amor… Estudiosos de esoterismo dizem que tudo o que fazemos na vida é para a finalidade de amar e ser amados. Até mesmo as coisas mais grotescas ou violentas. Difícil perceber isso à primeira vista, mas se formos analisar lá no fundo, teremos fortes indícios de que é verdade.
Quando transporto esse tema para meu caso, posso afirmar sem sombra de dúvidas que o amor é parte fundamental da minha vida. E que a minha escolha de viver um amor à distância por um período, ainda que trabalhoso, foi a mais sensata que tive.
Não entrarei no cerne da questão: é amor, é “soulmate”, “alma gêmea”, “media naranja”, etc. Claro que esta questão é a mais essencial para decidir um relacionamento, ocorra ele perto ou longe. Mas eu sei que a leitora ou o leitor quer mesmo é saber da parte periférica e prática.
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Como funciona então?
Que não é fácil eu já disse anteriormente, e agora eu digo que compensa, e muito.
Os benefícios foram inúmeros. Tive que aprender uma língua estrangeira “na marra” e com rapidez. Porém o que se ganha é tão fantástico que é feito sem mesmo se dar conta.
Sempre tive um certo sentimento de “estrangeira” em meu próprio país, estranhava nas pessoas a maneira de pensar, o modo violento ou agressivo a que reagiam diante de coisas banais, as justificativas para a falta de ética, entre outras coisas. Sempre fui muito sensível às injustiças, e as pessoas que participavam de minha vida eram mais ou menos injustas, e isso com o tempo foi me cansando.
O machismo cotidiano
Outra coisa que me estranhava muito e me causava sofrimento era o machismo tão presente no dia-a-dia. Era tão forte que parecia estar enraizado até mesmo nas pessoas mais conscientes.
Ocorre que nunca me senti menos por ser mulher, ao contrário, sinto esta condição como uma dádiva. Sempre me senti segura e capaz de realizar tudo o que fosse necessário e importante para mim. E esse contraste entre meu autoconceito e o conceito que outros tinham a respeito de minha condição de mulher foi algo difícil de ser trabalhado.
Claro que com isso não quero dizer que todas as pessoas ao meu redor eram ruins ou que o povo brasileiro é ruim. Da mesma forma não gosto de generalizações, entretanto minha experiência pessoal nesse ponto não foi positiva. Enfim, quando nos dias atuais leio comentários absurdos questionando o termo “feminicídio”, por exemplo. Como se o termo feminicídio fosse um privilégio. Quando algo assim ocorre me sinto como recém-chegada de Marte.
Para mim, privilégio mesmo seria um mundo equânime, onde o termo feminicídio não existiria porque não haveria razão de ser. Onde vivo, na Espanha, há feminicídio, infelizmente. Porém o termo é normalmente aceito, e sua banalização só ocorre em círculos obscuros, distinto do que costuma ser em países com mentalidades menos desenvolvidas.
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Outros privilégios de encontrar a felicidade de um amor estrangeiro
Inegavelmente relacionar-me com uma pessoa que me trata como uma igual, e não como alguém inferior ou como um objeto qualquer é um ganho enorme. Não cheguei a sentir na pele o preconceito por ser brasileira, algo que preocupa as pessoas na mesma condição. E, se houve algo, foi muito sutil e provavelmente não sobreviveu até a segunda conversa. Uma pessoa educada e de bom caráter sempre é aceita e integrada onde for, e essa é a chave, na minha opinião.
Outro beneficio incontestável de um amor estrangeiro é a possibilidade de adentrar a um novo universo. Vivências diferentes, opiniões distintas, tudo isso engrandece muito. O restante fica por conta das afinidades pessoais, e isto não tem a ver com o local de nascimento do casal, e é um tema fora do escopo deste artigo.
Conclusão
Quero deixar alguns esclarecimentos sobre a felicidade de um amor estrangeiro. Relatei meu caso, que é uma experiência feliz. Antes de resolver aceitar definitivamente essa experiência passei por muitas dúvidas, sociais, profissionais, familiares, porém nunca tive dúvidas de que ele era a pessoa certa. Esse é o ponto fundamental.
Conheci meu atual marido em um evento familiar, ele é amigo de familiares, ou seja, não se tratou de um namoro online, nem era ele um estranho. Desde já não desmerecendo a prática de namoro online, que pode ser proveitosa e feliz, existem alguns pontos que não se pode deixar de observar. E é ainda mais importante tomar cuidados quando há uma larga distância física separando o casal.
Definitivamente, ao conhecer alguém através de uma tela, há uma série de cuidados que se deve ter. De antemão há que contar muito com a observação, e com a intuição, porque os golpistas de vários tipos são numerosos e é mais fácil aplicar um golpe através de uma tela que pessoalmente.
Eu sinceramente não sei se aguentaria o peso da responsabilidade de correr tanto risco. De qualquer forma, entendo que há pessoas que estão aptas a isso, em nome de uma paixão. O que eu sugiro é muita atenção e olho vivo. E o que eu desejo é muita felicidade em sua trajetória.
2 Comments
Muito obrigada por esse texto maravilhoso! Me identifiquei demais!!!! Sempre me senti um pouco peixinho fora dagua aqui no Brasil pelas mesmas razões que você e várias outras. Morei 5 anos em Londres mas a saudade apertou demais e decidi dar mais uma chance ao Brasil. Estou aqui há 7 anos mas depois dessa eleiçao definitivamente não quero mais estar aqui. Coinscidentemente conheci uma pessoa muito especial que estava aqui de férias e estamos bem apaixonados… Rs
Provavelmente, se tudo de certo com a faculdade, ano que vem estarei de malas prontas para a Belgica. O curso será em inglês mas terei que aprender as linguas oficiais (holandês e frances). Estou muito animada! Gostaria de manter contato com vc se possível… Amizade Brasileira com pessoas que pensam parecido com a gente é sempre muito bom quando estamos longe! 😉 Beijos
Olá, Miriam. Feliz ano novo!
Que legal receber teu comentário. Agradeço pela sua participaçao ativa em nosso portal. Também me alegra que você esteja em uma fase tao positiva! Espero que dê tudo certo, que você esteja aqui pertinho em breve, e que possa realizar todos esses objetivos queridos em 2019! Fico feliz a cada relato que recebo de brasileir@s contendo bons prognósticos para o futuro, já que aqueles que estao no Brasil hoje tem sérias dúvidas a respeito de um bom futuro próximo, como você mesma mencionou. E quando você estiver passando por Barcelona, lembra de me chamar para um café ;). Beijos.