A Bélgica é conhecida por seus doces chocolates, sua vasta e diversificada carta de cervejas e por sua peculiar e saborosa batata frita. Agora, não tão famosa, mas não menos importante é a adoração dos belgas pelos quadrinhos (em francês, Bande Dessinée), intitulada de Nona Arte e não é a toa que a Bélgica é reconhecida como a Capital Mundial dos Quadrinhos.
Ao circularmos pela capital Bruxelas, facilmente veremos imensos murais espalhados pela cidade homenageando os personagens criados pelos artistas locais. São mais de 50 murais pintados em laterais de prédios, casas e estações de trens que ilustram cenas de quadrinhos, principalmente nas ruas do centro da cidade. O projeto, lançado pelo governo belga em 1991, é parte da celebração da relação com as HQ`s e seus personagens, que são o orgulho do país, inclusive a Prefeitura de Bruxelas disponibiliza o mapa Comic Book Route para não perder nenhum atração.
A história da Bélgica com os quadrinhos é longa quando, nos anos 20, Hergé criou o repórter e herói Tintin, hoje o embaixador belga no mundo. Hergé na mesma época também criou o jornal com o mesmo nome voltado a juventude. Nos anos 30, o editor Jean Dupuis lançou o “Le Journal de Spirou” nos mercados franceses, o que consagrou e ajudou a tornar famosos seus personagens. O “ Spirou” mantém-se ativo e continua sendo uma das poucas publicações desse gênero no mercado belga. A partir da segunda metade da década de 40, vários jornais de quadrinhos nasceram o que fortaleceu ainda mais o sucesso da arte belga.
Leia também: Custo de vida na Bélgica
Outros grandes nomes surgiram e ainda continuam conquistando crianças e adultos. Lucky Luke, Os Smurfs, Gaston Lagaffe, Marsupilami, Boule e Bill, Papyrus (Fantasio) são alguns dos personagens que transformaram os quadrinhos belgas em um dos mais populares e criativos do planeta.
Atualmente a Bélgica possui mais de 700 autores do gênero entre os clássicos e vanguardistas. Em nenhum outro lugar do mundo há tantos artistas de HQ`s por metro quadrado.
A capital Bruxelas, principalmente, é muito ligada ao mundo dos quadrinhos, pois, além de oferecer esta disciplina gráfica na Escola de Belas Artes Saint-Luc, abriga muitos restaurantes e bares temáticos, lojas dedicadas aos personagens, rotas de murais e museus exclusivos. No coração da cidade, ao redor da exuberante Grand Place, existe o que chamam de “aldeia das histórias em quadrinhos” com mais de 1.500 metros quadrados dedicados ao gênero.
O Museu da História em Quadrinhos (Rue des Sables, 20) apresenta exposições de desenhos, animações, maquetes e esboços de Hergé (Tintin) e Peyo, outro dos grandes, responsável pela criação das criaturas azuis conhecida como Os Smurfs, ou Schtroumpfs em francës (aliás, palavra de ótimo treino da pronuncia francesa).
O museu é o único do mundo que narra a produção dos quadrinhos desde o rascunho até o produto final. Há também espaços dedicados aos mais ilustres personagens envolvidos em histórias e curiosidades.
Uma das histórias sobre o personagem Tintin e o seu criador é sobre a batalha com outro personagem famoso, o Spirou. De origens opostas e concorrentes, seus seguidores atestam que Tintin é o nobre belga, que representa a classe rica de Bruxelas, repórter e desbravador, realizava suas aventuras ao redor do mundo, mesmo o seu autor, Hergé, nunca ter tirados os pés da Bélgica e de outro lado, Spirou, de classe mais simples, nascido nos subúrbios de Charleroi, uma cidade conhecida por ter sido reduto de imigrantes em busca de trabalho nas mineradoras locais. Esta divergência, segundo os especialistas, acabou por direcionar e dividir o público leitor.
Há também um museu dedicado ao grande personagem Tintin, sempre acompanhado de seu cãozinho Milu, que narra toda a sua criação, a evolução de seus traços e o amadurecimento dos personagens secundários e vilões. O Museu Hergé fica na cidade universitária de Louvain-la-Neuve, a 40 quilômetros de Bruxelas.
Outra demonstração da paixão dos belgas pelas histórias em quadrinhos é a Comic Strip Festival, uma feira realizada anualmente no mês de setembro em Bruxelas, totalmente direcionada a Nona Arte. Há pavilhões de exposições e vendas de quadrinhos, inclusive com a presença de alguns criadores locais e internacionais distribuindo autógrafos, personagens personificados para alegrar a criançada e os mais velhos também, seminários e palestras com especialistas e um grande desfile de personagens infláveis que colorem as ruas do centro, a Balloon`s Day Parade.
Para os mais apaixonados há dezenas de lojas especializadas em HQ`s, não só revistas, mas todo material ligado ao gênero que podem ser encontradas nas ruas do centro de Bruxelas, em especial na Boulevard Anspach (a partir da Bourse) e arredores, em direção ao sul da cidade. Uma dessas incríveis lojas é a The Cartoonist que vende todo tipo de objeto relacionado a esse universo, além de peças colecionáveis.
Então se você como eu cresceu assistindo Os Smurfs e as reprises de Tintin ou simplesmente se encanta por quadrinhos, não pode deixar de visitar este grande acervo belga e conhecer um pouco mais sobre a Nona Arte. Ao menos uma fotinho de algum mural você com certeza terá de recordação.
1 Comment
reportagem legal sobre a BD. De fato a Bélgica é capital global dos quadrinhos… título que compartilha com os EUA e o Japão.