A mudança para a Espanha.
Odeio começos. Para uma pessoa considerada veterana de mudanças parece até piada, mas odeio, de verdade… Nunca sei como começar o assunto, acho sempre incômodo o primeiro dia em um trabalho ou a primeira vez em um lugar novo, mas acredito mais ainda numa praticidade que uso para viver e me leva a fazer o que é necessário (obrigada, pai, por sempre me dizer “só faz o que tem que fazer, Juliane e vai na fé, é um passo por vez”).
Sou neta de espanhóis e cresci numa casa espanhola, com a abuela mandando a la leche e o abuelo nos chamando de nenas, mas aquela vontade enorme de mudar de país bateu mesmo quando minha tia Carol (aquela tia que com pouca diferença de idade, que mais parece sua irmã mais velha) veio para cá.
Eu tinha uns 14 anos na época, como eu chorei para meu pai me deixar ir junto,
hoje sou mãe e super entendo ele, mas na época fiquei realmente chateada! Pensei, sem
problemas, vou estudar e faço minha faculdade por lá, mas então veio a vida, com aquele
roteiro trabalhado no capricho e eu tive a P1, entrei na faculdade de direito, tive a P2 e
começaram as mudanças.
Vamos encurtar aqui porque senão isso vira um livro. Resumindo… saí de MG para o ES (Serra) em fevereiro de 2012, depois de Serra para Vitória em fevereiro de 2013, de Vitória para Vila Velha em agosto de 2013 e logo sai do meu apartamento alugado em Vila Velha para meu apartamento próprio em Vila Velha em agosto de 2014… saímos de lá em maio de 2017 para voltar para a casa do meu pai em Jacutinga, Minas Gerais até a data do embarque para a Espanha em agosto de 2017 (ufa) . p.s. Aqui em La Coruña onde moramos já estamos no segundo apartamento.
Enfim, eu já tinha me formado em Direito, estava advogando, fiz pós graduação, abri meu
escritório e passava raiva, mas amava aquilo, só que faltava algo, não estava completo e não me sentia plenamente feliz. Resolvi que era hora de dar o próximo passo (a greve policial de fevereiro de 2017 e o fato de pessoas armadas entrarem no meu prédio deram um empurrãozinho). Comecei então a entrar em contato com universidades na Espanha e solicitar a inscrição para o Mestrado. Emails e emails depois, já era final de abril e fui “selecionada” tanto para a Universidade de Barcelona quanto para a Universidade de A Coruña.
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QUE INDECISÃO! Procuramos, pesquisamos, tínhamos que resolver tudo em poucos meses. Vamos? Ficamos? Meu coração pedia por Barcelona (nunca nem tinha ouvido falar em La Coruña) mas La Coruña parecia mais tranquilo e menor, estávamos nos mudando com 2 crianças… e foi quando entrou em jogo aquela praticidade eXXXperta pregada pelo meu pai (te amo!) que mandou logo um: “Vai para onde é mais barato, vê se vocês se adaptam e depois que terminar os estudos você muda até para o Japão trabalhando.”
Mudança definida, local definido, voltamos para Minas Gerais até vender tudo e chegar o dia da viagem, mas percebemos que não ia rolar ir de mala e cuia no melhor modelo família buscapé, é… não, não ia rolar… fui eu para MG com as ps (princesas na maior parte/pragas quando me tiram do sério), mozão ficou cumprindo aviso no trabalho até o fim de agosto e nós resolvemos que eu viria para a Espanha sozinha (para buscar um apartamento e arrumar tudo antes do início das minhas aulas), mozão viria no final de setembro, sozinho (para buscar um trabalho por aqui) e as crianças teriam a fantástica experiência de serem mimadas pelos avós até o final do ano letivo no Brasil, viriam somente no final de novembro, trazidas pelo avô.
Nunca tinha viajado para fora do Brasil, arrumei um Airbnb para os primeiros 7 dias, comprei minha passagem só de ida e aterrissei na terra do pulpo em 07/08. Me despedi das minhas filhas na noite anterior à viagem, pensei em sair sorrateira pela manhã, sem elas notarem, ENGANO, elas estavam lá no portão se agarrando na avódrasta enquanto eu entrava no carro com minha mãe, minha irmã e a tia Carol (sim, aquela que era a inspiração).
Minha mãe, educadamente, me mandou engolir o choro, que tudo isso era temporário e afinal fui eu quem escolheu, me enchi novamente daquela coragem, pensei na vida que tinha largado para trás e recordei dos sonhos que estavam por diante e me motivaram a seguir esta jornada, É SÓ MAIS UMA MUDANÇA… Chegamos em Guarulhos, fiz check in, vamos sorrir não é mesmo?
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A minha irmã estava repondo a água do sistema Cantarera com as lágrimas, minha mãe, chora até assistindo Pinocchio, pensei, vamos segurar a barra olhando a tia Carol. Ela é uma mulher forte, nunca chora vendo vídeos de filhotinhos de gatos, já passou por isso… e não é que a infeliz estava lá chorando?! Sabe aquela força e coragem? Se foram. Comecei numa choradeira desenfreada.
NÃO VOU MAIS! O que eu estava pensando? Entrei naquele embarque motivada apenas pelas minhas roupas que já estavam despachadas e segundo o moço da TAP, agora só retira em La Coruña e foi assim que vim parar aqui.
Fiquei num Airbnb com um casal de húngaros e uma mexicana. Sabe aquilo de odiar começos? Foi levemente superado e levo essas pessoas no meu coração para toda a vida. Inclusive, fiquei mais tempo que o programado inicialmente com eles.
DICA – se alguém quer se mudar para a Espanha, evite as datas entre 5 e 15 de agosto, aqui chamada de semana grande. É impossível arrumar qualquer coisa nessas datas, praticamente tudo está fechado e o que funciona tem horário reduzido.
Aluguei primeiro um apartamento perto de onde tinha ficado, mais no esquema “é esse que dá”, e fui feliz ali, era uma região de um novo centro comercial. No entanto, vi umas
dificuldades como escola para as crianças e queria uma experiência diferente durante
nossa passagem por aqui, então procurei um apartamento na cidade velha (centro histórico) e nos mudamos outra vez em janeiro de 2018. Sem nenhum arrependimento (exceto o meu banheiro – possível tema de uma série completa por aqui).
Para quem é mãe e quer se aventurar pelo mundo, a dica mais valiosa é manter o foco
em três palavras: “organização, planejamento e praticidade”. Lembrando da cena das
minhas filhas chorando, foi um momento em que eu realmente pensei em desistir, mas vendo elas por aqui, com a liberdade de brincar pelos inúmeros parques, poder andar pela rua sem aquela vigilância extrema e sempre de mãos dadas, passar na faixa de pedestres com a tranquilidade de que os carros irão parar e saber que elas terão oportunidades únicas com a educação que elas estão recebendo, percebo que sempre valeu a pena e que aquele roteiro lá, preparado pela vida, todo trabalhado nos detalhes, não poderia ter sido escrito por um escritor melhor.
Quanto aos começos, espero superar muitos mais pela frente!
2 Comments
Acompanhei toda esta história! Vigiei P1 e P2 na escola e com coração apertado imaginava a saudade que deveria sentir daquelas princesas lindas. Admirei a coragem e sabia que conseguiria. Imagino que o ES foi treinamento. Vejo todos os dias de manhã os avozinhos sentadinhos na porta da casa quando passo p ir ao trabalho… Lembro sempre de vc Ju. Vi seus sonhos nascerem e os da Carol também que também foi minha aluna e me contou suas aventuras na Espanha! Sorte e sucesso querida!Quando vier aqui,venha me ver! Bjs a todos!
Eu vi … Porque são os passos que fazem os caminhos! (Caminhos – Quintana)
Minha querida Juliane, as aventuras só estão começando. Fico aqui esperando pelas suas histórias e torcendo para que seus passos ampliem seus caminhos. Beijos para todos.