Indiscutivelmente o mundo não é mais o mesmo. Tornou-se fato comum em noticiários mundiais o relato de atentados terroristas, seja em países desenvolvidos, como na Europa e nos Estados Unidos, seja em países considerados em desenvolvimento, como na África.
Independentemente do alvo, as vítimas diretas, as quais foram feridas, ou mesmo que vieram a falecer, bem como as indiretas, as quais perdem entes queridos para ataques inesperados simplesmente por estarem no lugar errado na hora errada, sofrem as consequência. Entretanto, a mídia omite a existência de um terceiro tipo de vítima, aquela que não estava presente na tragédia, não sofreu a perda de amigo ou familiar, mas que fatalmente terá sua rotina afetada após um ataque terrorista, especialmente logo após o acontecido.
De imediato, as medidas de segurança serão reforçadas. E elas nunca serão agradáveis, apesar de necessárias. O que vou relatar a partir daqui são minhas impressões sobre as mudanças na minha rotina especialmente após os ataques em Paris em 13 de novembro de 2015.
Conforme relatei aqui no blog, no momento dos ataques eu estava retornando para Toulouse após uma rápida viagem para Londres. Superado o susto, a vida segue, mas não como antes. O governo francês autorizou, por um período determinado, que qualquer casa suspeita podia ser invadida para averiguação, bem como que todo e qualquer cidadão era obrigado a mostrar sua bolsa ao segurança ao entrar em qualquer loja, uma vez que a lei permitia isso agora. O cidadão de bem perdeu o direito à privacidade, ainda que momentaneamente, em prol da segurança nacional.
Mas não acredito que essa seja a pior consequência. O efeito mais devastador que senti foi a falta de confiança nas autoridades locais, pois nada tinha impedido um novo ataque na capital francesa, aonde supostamente as pessoas estariam mais protegidas. A desconfiança era tamanha que a todo momento surgiam boatos de ameaças terroristas, e não havia como saber se eram meros boatos ou se eram, de fato, notícias reais. A credibilidade do governo francês, construída à duras penas, caiu por terra em poucos minutos no momento em que uma bomba explodia num metrô ou enquanto pessoas eram atacadas numa boate durante um show.
As pessoas passaram a evitar multidões, uma vez que acreditavam que poderiam ser alvos fáceis. Com a circulação reduzida, o comércio local perdeu muito de seus consumidores. Indiretamente, a economia sofreu um baque com o novo comportamento adotado por boa parte da população. O movimento no transporte urbano, sempre tão agitado nas cidades europeias, diminuiu à olhos nus. As notícias nos jornais locais só confirmavam o que você sentia nas ruas.
Li atentamente notícias comparando a violência urbana brasileira com a insegurança proveniente destes ataques. Penso que não há como comparar as situações pelo simples fato de serem realidades completamente distintas. Não há como escapar de um eventual ataque terrorista, apesar das recomendações sobre como se portar caso você esteja envolvido acidentalmente. Ouvia muito de amigos brasileiros e familiares, preocupados com as notícias alarmantes que chegavam aos seus ouvidos, para me cuidar.
Apesar de compreender a apreensão das pessoas, pensava que não tinha como evitar o pior. Não havia como não circular por um local considerado mais perigoso, pela mera razão de que os ataques podem acontecer em qualquer lugar e em qualquer momento.
Engana-se quem pensa que as ruas ficam tomadas de policiais o tempo todo. Creio que a segurança certamente é reforçada, mas não é visível para o cidadão comum. Aparentemente a vida continua a mesma. Mas no fundo sabemos que não é verdade. Impossível ignorar que o perigo pode estar do seu lado e você não tem como impedir uma fatalidade. Aprendi que cada rotina apresenta seus perigos. Absolutamente ninguém está imune aos riscos inerentes ao país escolhido para viver, independentemente das políticas públicas exercidas pelos governantes locais.
6 Comments
Olá acabei de achar seu blog num grupo do facebook. Me achamos Luanda, amei sua matéria.
Eu estava lá no dia do atentado. Meu hotel era na mesma rua do Bataclan.
Amo a França, estou indo fim do ano morar no país.
Tbm possuo um blog http://www.vestidaderosa.com
Olá, Luanda! Em primeiro lugar, muito obrigada pelo comentário! Fico feliz que tenha gostado da matéria! O dia do atentado foi um dia complicado. Imagino o que você não presenciou estando tão próxima dos ataques. A França é um país adorável. Você vai adorar morar lá. Boa sorte com seu blog! Continue nos acompanhando! Abraços!
Olá Carolina! Só acrescentando, eu vi por meio de notícias que até o turismo em Paris (e provavelmente deve acontecer o mesmo em Bruxelas) caiu drasticamente por causa dos ataques terroristas. Não foi só a população local que sentiu esse “baque”, os turistas também. É uma pena para mim, porque são cidades com pontos turísticos muito interessantes. Mas é o que você falou, quem é vítima lamentavelmente estava no lugar errado e na hora errada, é algo que não dá pra prever. Obrigado pelo post!
Olá, Elias! Primeiramente muito obrigada pelo comentário! Concordo que todos sofrem as consequências de um ataque terrorista, inclusive os turistas. Acredito que um dos principais objetivos dos terroristas seja desencorajar as pessoas a visitar cidades como Paris e Bruxelas. Mesmo com a presença dessas ameaças, não devemos deixar de realizar nossos sonhos de estar nos lugares que desejamos conhecer! Continue nos acompanhando! Abraços!
Viajar pra França hoje está meio compliado com esses ataques que tem acontecido.
Oi, Fabiana! Concordo com você quando fala sobre as dificuldades de estar na França com tantos ataques. Infelizmente é uma nova realidade que precisamos nos adaptar. Obrigada por acompanhar o blog! Abraços!