Suíça, a sociedade que disse não aos imigrantes.
Um em cada quatro habitantes na Suíça é estrangeiro. Na cidade onde vivo (Basel) a proporção é ainda maior, 1 em cada 3. Todos os anos, o país recebe um contingente de imigrantes em busca de emprego, melhor qualidade de vida e segurança. A maior parte deles vem da própria União Européia que viveu (e ainda vive) dramáticos momentos de crise.
Aí um belo dia, um grupo de suíços montou uma proposta – que eles chamam de Iniciativa no sistema de Democracia Direta – para limitar a imigração no país. Esse mesmo grupo conseguiu 100 mil assinaturas da população durante um curto período de tempo. Com a iniciativa e o “abaixo assinado” em mãos, eles podiam levar à votação popular. E assim o fizeram.
Em 9 de fevereiro a população suíça votaria em plebiscito a favor ou contra a Iniciativa que sugeria a fixação de cotas anuais de imigração no país. Os meses e semanas que antecederam à votação geraram muitos burburinhos. Teve até campanha com placas e anúncios a favor da Iniciativa, mas muita gente não “botava fé” de que ia passar.
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No geral, os suíços são bastante conscientes dos prós e contras de cada medida que vai a votação. Como, por exemplo, quando votaram contra uma iniciativa que previa aumentar os dias de férias dos trabalhadores. Oi? Não acreditei, mas foi verdade. Eles argumentavam que não precisavam de mais férias e que essa medida teria um impacto negativo na produtividade do país. Não dá pra negar que é uma decisão bastante racional e verdadeira, né? Mas quem resistiria a uns diazinhos a mais de descanso?
Bom, o fato é que dessa vez a votação surpreendeu: 50,34% dos Suíços se mostraram a favor das cotas para estrangeiros no país.
Eu sou imigrante e diretamente impactada por esse tipo de decisão, mas venho tentando “entender” as causas desse resultado. Sinceramente, acho que essa votação acabou sendo influenciada por muitos fatores. Alguns deles, podemos ver no dia a dia.
Eu moro em um bairro onde vivem muitos imigrantes. E não dá para fechar os olhos para as muitas “transgressões” que acontecem por aqui. Desde um lixo descartado da forma e na data errada até aos carros estacionados em lugares proibidos. Ok, não chega a ser um festival de lambanças, mas visivelmente isso não acontece em bairros onde vivem mais Suíços.
Outro ponto decisivo no resultado do plebiscito foi o aumento da taxa de criminalidade no país. Os meios de comunicação recentemente noticiavam os casos de violência e uma grande parte deles eram causados por imigrantes ilegais na Suíça. Triste, mas infelizmente é um fato.
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Além disso, o esforço em comunicar e divulgar os benefícios da Iniciativa à população foi maior que às tentativas de conscientização sobre a importância dos imigrantes no país. Instalou-se um medo na cabeça dos Suíços de que os estrangeiros estavam aqui para roubar seu emprego ou roubar sua bolsa. (Essa interpretação é pessoal. Claro, que eles não falavam diretamente isso, mas sinceramente foi o que eu senti.)
Eu, pessoalmente, acho que a participação dos imigrantes na Suíça é fundamental. Tanto na economia, quanto na abertura cultural do país. Infelizmente, a Suíça não produz mão de obra suficiente para preencher diversas vagas que exigem maiores qualificações. Um país menor que o estado do Rio de Janeiro é sede de algumas das maiores empresas do mundo (Nestlé, Farmacêuticas, Grandes Bancos, etc) e precisa receber talentos internacionais para continuar funcionado. Além disso, alguns setores da economia simplesmente não atraem a mão de obra suíça, como é o caso do Turismo. Portugueses, alemães e outras nacionalidades acabam preenchendo essas vagas e fazendo a roda girar.
Eu entendo o medo, a “revolta” e os anseios da população suíça com relação a esse tema. Mas eu realmente acho que a solução não está em “fechar as portas”. É preciso achar maneiras mais efetivas de inserir esse contingente de imigrantes na sociedade. Buscar soluções onde os Suíços reconheçam sua importância e os próprios estrangeiros estejam conscientes (e cumpram) das responsabilidades e costumes desse país.
10 Comments
Achei o post tendencioso!! Sou imigrante aqui e nunca discordei da posição deles!!! Pensem… O voto foi por uma regularização!!!
Nossa Christiane, texto maravilhoso. Você expressou essa questão muito bem. Morei em Genebra por 1 ano e me lembro bem desse tema, vi muitas placas pela cidade, inclusive uma na porta do meu prédio. No começo não entendi muito bem o que era aquilo, afinal 56% da população de Genebra é composta por estrangeiros. Concordo com você que existem outras maneiras de lidar com esse problema, não dá para generalizar! Muito legal a forma como você abordou esse assunto.
Oi Christiane parabéns pelo texto, muito legal!
Aliás ontem vendo o jogo (Argentina e Suíça) estávamos falando exatamente disso, como será que são os suíços,porque não conheço aí, e nunca conheci um..rs..
Mas falando sério, como são eles no dia-a-dia? São preconceituosos com os estrangeiros, ou é como em todo lugar que tem um grupo ali que não gosta de nós. Porque aqui na França quando o Front National (que é o partido da extrema direita) ganhou em muitos estados foi um choque não apenas para mim mas para os franceses também,quer dizer, uma parte não gosta mesmo de estrangeiros e gritam sob o slogan “A França para os franceses” o que é muito chocante nos dias de hoje.
Porque o que você falou é importantíssimo e verdade não só para a Suíça mas para o mundo inteiro, os estrangeiros sempre ajudaram na construção dos países em que estão (assim como obviamente sempre tem uns que aproveitam do sistema) e além disso sempre foi assim, o que os locais não querem fazer os estrangeiros agarram como oportunidade e com orgulho!
Bisous!
Esse tema é realmente mto difícil de se discutir, né Chris. Eu moro na Áustria, e aqui também tem bastante imigrantes. Quando amigos austríacos comecam a falar mal de imigrantes na minha frente, eles já me dizem: mas sabe que nao estamos falando de você, estamos falando dos outros imigrantes… Acho super chato.
É, você, a Ana e a Mariana nem deixam espaço pra falar muito. Acho que todos os países “temem” um pouco os estrangeiros… e muitos acabam caindo nessa de falar mal da gente, sem sequer olhar para o próprio umbigo. Acho que é comum que países que recebem muitos imigrantes em algum momento pensem em uma política para regularizar esse tipo de situaçao, mas deve-se tomar em conta a forma que é feito e como se comunica esse tipo de medidas para nao causar incidentes internacionais…. Excelente texto, dá para muitas reflexoes 😉
Chris amada, acho que voce tocou em uma caixa de maribondo, rsrrsr este é um assunto complexo e que requere uma colocação dentro de um contexto regional e socio-economico, uma vez que como sempre a Suica, não é somente uma Suica, mas varias. Os 50,34% de Suicos que votaram a favor da medida, é referente aos 60% da população que votou, que no percentual net dos eleitores suicos representa aprox. 30% da população total. Outro fator importante, cantões como Genebra (nr 1) e Vaud (nr 3) no rank de alta porcentagem de estrangeiros, não tiveram resultados positivos, ao contrario do cantao de Ticino (nr 4) que teve um alto índice de eleitores a favor da medida, mas ai tem que olhar a estrutura econômica da região. Bem da minha parte não tenho a mesma perspectiva, acho normal um pais pequeno como a Suica querer regulamentar o processo de imigração em época de crise e discordo que este tipo de medida seja direcionada para os expatriados, que sao altamente qualificados, e ou os estrangeiros que trabalham de forma legal em funções onde os suicos não se interessam, vejo muito mais o problema em relação aos ” frontaliers” , trabalhadores que moram em outros países e trabalham na Suica, mas consomem e pagam impostos em seus respectivos paises de residência, trabalhadores de “alta estação” e PRINCIPALMENTE controle serrado contra imigrantes ilegais, vindo de países do leste europeu. A Suica central é mais conservadora. Queria ainda salientar que quando vim pra Suica ha 14 anos como expatriada, este tipo de política de contigente era vigente, e nem por isto, este tipo de regulamentação, impedia a Suica de ter ainda um dos mais altos percentuais de imigrantes em relação aos outros países europeus. Como disse “eu” acho o assunto complexo, pra ser discutido com base a um titulo de propaganda eleitoral tao curto e provocativo. Namasté querida, de toda forma um tema muito importante que tem que ser refletido de forma muito sensível, antes de tirarmos as armas contra ou a favor, ou bater o martelo final de “culpado” pra Suica. Lembremos que muitas das leis trabalhistas sao redefinidas no processo de implementação de cantao a cantao (somos 26 cantões na Suica) e não a nivel federal, sendo as leis a nível federal mais diretivas que absolutas, devido ao sistema de consensus do pais. Como bem diz um ditado em francês: “on peut pas avoir le lard et le cochon”, que significa que não podemos ter tudo, temos que fazer escolhas, não tem como ser um pais pequeno, rico e ao mesmo tempo acomodar todos os desempregados e não qualificados ilegais que veem do resto do mundo,sem distinção e que ao mesmo tempo não contribuem, nem tem potencial de contribuir devido ao seu perfil, pra esta riqueza. “Direito e Dever” andam de maos dadas em uma sociedade economicamente desenvolvida e com um sistema social de segurança, como o da Suica. Poderia escrever quase um livro sobre os diversos aspectos socio-econômicos, legislativos e culturais a serem levados em consideracao, mas acho o espaço de um blog, inapropriado pra tal ambição. De toda forma um bom texto é sempre ótimo “food for the brain”, pra aqueles que gostam e queiram se aprofundar devidamente no tema.
Ana Cristina ,
concordo com voce, e os pontos que voce levantou referentes á mão de obra se aplicam aqui na Holanda também….nos últimos meses o contingente de “asilados” vindos principlamente da Eritréia aumenta a cada semana ao ponto do país já ter que começar a pensar a usar campings e pequenos hotéis. Isso tem aumentado vários conflitos e questionamentos que já vinham se desenvolvendo por aqui a anos. Bjnhs
Hum, realmente um tema complexo, ainda mais para quem está neste roll de imigrante. Mas, apesar de ser imigrante e aqui em BAs esse também ser um tema complicado, eu concordo em parte com essas leis de proteções sim. A questão é que fala-se de imigrantes no geral, mas todos nós sabemos que cada grupo se comporta de forma muito diferente. Alguns contribuem e outros pioram. Não é por sermos imigrantes que devemos fechar os olhos para esse fato. Conheço aqui muitos imigrantes latino americanos (e vi a mesma coisa em diversos países da Europa) que mantém a vida como se estivessem em seu país de origem sem se preocupar com as leis ou costumes locais. Outros que acham que o país deve se adequar completamente a eles e discriminam a outros imigrantes como eles próprios. Não é fácil, mas com a permissão de tantos imigrantes um país também perde a sua identificação e Paris é um exemplo claro disso. Cheguei a entrar num vagão de metrô e não ver nenhum parisiense filho e netos de franceses. Ou como no comentário acima da Ana Lonzon que disse nunca ter conhecido um suíço na Suíça. Isso é grave, isso é sério e neste ponto que este tipo de política bate o martelo e não estão de todo errados, a questão é como equilibrar as coisas quando alguns países precisam de estrangeiros porque não têm pessoas suficientes para ocupar todos os postos sociais e não fazer com que estes estrangeiros faça com que a população do país se torne um grupo invisível dentro do próprio país.
Muito bacana a escolha de assunto e abordagem, Chris! Eu concordo com o que a Ana Kolb colocou em gênero, número e grau. Acredito que até para a segurança do imigrante a questão de regularizaçao é super importante. O que nao quer dizer que imigrantes nao sejam bem-vindos. Simplesmente que, para manter o alto nivel de vida do pais, é necessário que estes imigrantes estejam no país de forma legal. É , porém uma situação muito complexa e dificil de dar uma opinião que nao seja polêmica rsrs . Parabéns pelo texto. Gostei! Bjs
É bem esquisito esse preconceito contra os imigrantes se todos os imigrantes irem embora a economia entra em parafuso!!!!