Quando cheguei em solo suíço, a primeira coisa que me ensinaram foi como separar meu lixo. Na verdade, meuS lixoS. Assim mesmo, no plural. Enquanto no Brasil, a gente só se preocupava em separar as latinhas e garrafas PET (quando muito), os suíços contam com um sistema de coleta e reciclagem de dar inveja!
Apesar de carregar o título nada louvável de um dos países que mais produz lixo na Europa, a Suíça é também um dos líderes mundiais em reciclagem. São 689kg de lixo produzidos por pessoa no ano. Porém, mais da metade é reaproveitado. Bem mais que a média europeia, que fica entre os 20% e 40%.
Como os suíços conseguem reciclar tanto?
Bom, eu diria que é uma equação mais ou menos assim: 30% conscientização e 70% “vai doer no teu bolso”.
Pois é, quanto mais você produz lixo não reciclável, maior imposto você paga. Isso porque, o lixo orgânico, aquele que você produz no dia-a-dia (restos de comida, etc), deve ser depositado em um saco especial. Vendido nos principais supermercados, essa embalagem varia de preço e nome em cada região (aqui em Basel se chama “Bebbi Sagg”), mas no geral você desembolsa um valor considerável por saquinho utilizado. Algo em torno dos 5 reais, cada saquinho de 35L.
A coleta do lixo orgânico também não acontece todo dia. Aqui em Basel, só 2 vezes por semana. Esses dias variam de acordo com o seu bairro. Sempre no início do ano, você recebe um calendário como o da foto. Nele, todas as datas de coleta por tipo de lixo e endereço das estações de reciclagem mais próximas da sua casa. Além de algumas informações básicas do que se insere ou não naquela categoria de lixo. Por exemplo, Tetra-Pak não é considerado papelão e deve ser depositada no lixo orgânico.
Se você coloca o lixo no saco ou dia errados, o caminhão simplesmente não coleta. E o pior: reza a lenda que, nesses casos, eles podem recolher o lixo e “fuçar” para tentar descobrir seu dono. Um envelope com endereço ou uma fatura rasgada podem denunciar o “meliante”, que receberá uma generosa multinha.
A boa notícia é que você não precisa encher o seu “saquinho de ouro” com todo o tipo de lixo. Para economizar no saco de lixo, a orientação é separar vidros e alumínio para reciclagem. Existem estações de reciclagem por toda a cidade. Lá, você encontra uma caixa para cada tipo de material e, no caso do vidro, é preciso separar ainda por cor (transparente, verde ou marrom). Geralmente, nessas estações também é possível descartar baterias e pilhas.
A coleta de papel e papelão acontece na sua casa. Uma vez por mês você precisa separar direitinho, em pequenos montinhos (separados, papel e papelão) amarrados com uma fita (também reciclável) vendida nos supermercados. Se perder a data, só no próximo mês.
Garrafas PETs são coletadas nos próprios supermercados. Eletrônicos com defeitos ou que você queira simplesmente se desfazer, podem ser retornados às lojas de eletro-eletrônicos. Eles tem um espaço específico para receber esse material.
E o que acontece com aquele sofá velho que você não quer mais? Ou aquele quadro que você já enjoou de ver? Bom, doar objetos não é tão fácil assim. Como aqui existem lojas baratas para itens de decoração, geralmente o suíço acaba optando por comprar coisas novas. Quem não consegue vender ou doar, pode descartar esses itens na rua mesmo. Claro que, se tratando de Suíça, existe uma regra e você tem que pagar por isso.
Para objetos menores de 10kg, você pode descartar nos mesmos dias do lixo orgânico (na porta de casa). Para maiores de 10kg, é preciso ligar e agendar uma data. Em ambos os casos, você precisa colar um adesivo que custa cerca de 5 francos (aqui em Basel) por cada 10kg. Ou seja, um item de 100kg vai precisar de 10 adesivos = 50 francos. Isso mesmo, você paga para se desafazer.
É interessante porque o adesivo funciona também como uma paquinha de “Grátis”. Se antes do caminhão chegar, alguém passar e se interessar pelo seu sofá, ele pode levá-lo pra casa.
Infelizmente, ainda existem pessoas que não seguem as regras, não compram os adesivos (como na foto abaixo) e descartam lixo de maneira errada. No geral, porém, a coisa funciona. No início é um pouco estranho, você perde as datas, acumula montanhas de papel em casa. Mas com o tempo isso entra na rotina e você se pergunta como podia ser tão “relapsa” com o seu lixo no Brasil e toma consciência de que um pouquinho de esforço pode trazer um bem enorme ao meio ambiente.
19 Comments
Chris, td bem?
Vc disse que a embalagem cartonada (Tetra Pak) seria descartada como lixo ORGANICO? Nao seria INCINERAVEL? No meu lixo organico jogo somente restos de alimentos, cascas de legumes, ovos… sera que estou fazendo errado? Abraco
Oi Luciana, tudo ótimo!
na verdade, aqui em Basel, segundo a cartilha que eles distribuem o lixo orgânico vai junto no Bebbi Sag (o saco de lixo oficial da prefeitura) e alguns outros itens também vão lá. O Tetra Pak é um deles. De início também achei estranho… mas pelo que eu entendi o próprio Bebbi Sag é encaminhado para a incineração. Então, acho que no final do dia vai tudo junto. Mas se você conseguir alguma outra info oficial, por favor, me avise! =)
abs
Oi Chris! Cara, o lixo é realmente levado à sério na Suíça e na Alemanha. Minha tia mora na Alemanha e, um dia, tingi o cabelo na sua casa. Passei água nos potes e coloquei no lixo reciclável, crente que tinha feito minha parte.
Mais tarde, no mesmo dia, eu vi minha tia lavando tudo de novo! Eu perguntei porque e ela me disse: porque, se o lixeiro passar por aqui e não estiver limpo, ou ele se recusa a recolher ou nos vai dar bronca…
Eu não sei se teria a organização para viver na Suíça, mas acho que isso se aprende!
Parabéns pelo texto! Beijos
Oi Tati, pois é… acho que a Suíça herdou essa organização dos seus vizinhos! =) No início é chatinho, você se atrapalha, mas depois vai no automático. Eu já tenho compartimentos fáceis e práticos pra cada tipo de lixo…
bjao
Olá Christiane me chamo Rodrigo Lima, gostaria de saber se você mora na suíça, pois tocante a coleta de resíduos sólidos urbanos, a empresa a qual represento MundialTECH acabou de desenvolver uma tecnologia onde através do sistema reverso da matéria transformamos os resíduos sólidos em um material útil na construção civil, ” transformo lixo, em brita, tijolo, canaleta e outros” desde a utilização do papel, papelão, vidros em geral como garrafa de cerveja, vinho, refrigerantes, todos os tipos de plásticos, madeira, pets entre outros, estamos localizado em campina Grande- PB e sentimos a falta de ser um Pais sério onde em qualquer outro lugar já teriam abraçado essa tecnologia.
Rodrigo, a Christiane parou de colaborar com o blogue. Temos outras colunistas na Suíça, procure os textos mais recentes sobre o país no blogue.
Chris, voce me fez lembrar dos meus tempos de Londres….onde a coleta do lixo nao reciclavel era a cada 15 dias!!! Uma vez por semana o reciclado, para fraldas e lixo organico, tambem num saquinho diferente. Horas separando lixo! em compensacao, aqui nos EUA foi uma briga para aprovarem a reciclagem no meu bairro. Muita gente contra, acredita?
Bjs!
nossa, Monica… e pensar que os americanos são os que mais consomem e os que menos se preocupam… triste, né?
bjão
Oi Cris eu sei bem o que esta falando, pois aqui também, uma das primeiras coisas que temos que aprender quando chegamos.
E tao serio que uma vez logo no começo quando mudamos de cidade tivemos que alugar casa por conta e quando meu marido foi buscar as chaves, ficamos sabendo que nosso contrato não tinha sido aprovado pelo dono da casa, ai fiquei triste e ate pensei que era por que somos estrangeiros, mas não….O que aconteceu foi que a imobiliária ligou para o meu marido na empresa e la tem muito barulho e ele não conseguiu entender o que eles queriam e então quando fomos perguntar disseram que ele não sabia falar e não ia entender como separar o lixo.
Ai minha professora na época ficou tao pasma com isso e foi na imobiliária comigo e disse a eles que sabíamos bem sim, mas que já tínhamos visto outra casa e que ela ia ser nossa fiadora. mas ai então logo meu marido foi estudar mais um pouco em pouco tempo resolvemos comprar a casa que temos hoje. E aqui também colaboramos com a comunidade de bairro, sempre limpando e cuidando do deposito onde se coloca o lixo. pois toda semana um morador tem que fazer a limpeza do local. E aqui também existe pessoas que jogam de qualquer jeito e eles alem de não levar deixa um bilhete de alerta, pois no sacos de lixo tem que colocar o nome da família.
Nossa, Emilia! os japoneses conseguiram superar os suíços no quesito organização com o lixo! =) Bacana! E ainda bem que tudo deu certo no final das contas pra vocês!
bjão
Cara, tem que ter aula pra separar lixo por aí!! Eu ia confundir, com certeza!!! E ia ficar empilhando lixo até acertar as datas. Mas bem que podia ser assim em mais países, nao??? Muito mais ecologicamente correto.
Pois é, Joy… no início confunde um pouco, mas depois entra na rotina e até já uso o alerta do celular pra lembrar o dia certo! =)
bjão
Chris, é isto ai até o lixo é pago e regularizado na Suica, mas tenho que dizer que acho o máximo viver em um pais limpo e consciente do meio ambiente, e como vemos o resultado do nosso dinheiro literalmente em todos os lugares pago com o maior prazer, ótimo tema! Namasté Linda 🙂
Olá, moro na Suiça(Genebra) e adoro…gosto da organização, regras e ambiente, aqui me sinto em casa e faço tudo o que posso pra manter meu lixo bem separado e reciclo tudo que posso…Um abraço e parabéns pelo espaço.
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Christiane. Comecei a ler o artigo porque morro de inveja de países e povos (mesmo que seja porque mexe no bolso) que tem consciência de que compartilham o mundo com outras pessoas. Moro no Brasil, em Santos e me revolto por ver a falta de respeito das pessoas para com a cidade, as lixeiras e o ser próximo a eles. Conheço mais de 20 países pelo mundo e várias cidades nestes países e fico maravilhada quando olho e não vejo sequer uma “bituquinha” de cigarro no chão, lixeiras coloridas, limpas e bem cuidadas; aqui no Brasil em pouco tempo ou quebraram ou elas ficam mais nojentas que o próprio lixo. Desculpe-me pelo desabafo, mas é que um dos maiores aborrecimentos que tenho na minha Empresa é na questão do lixo. Minha Empresa funciona 24 horas e o pessoal no turno da noite joga restos de comida no lixo reciclável, garrafas pet pelo chão….fico só imaginando como é a casa deles. Fico revoltada ao ver um motorista jogar lixo pela janela do carro, acho que existem soluções simples e básicas que fariam este país ser um pouco mais civilizado. Obrigada por compartilhar suas experiências e vamos em frente.
Minha filha morou 6 anos em Basel, e eu estive 3 vezes lá, por 2 meses cada vez e sei bem que o que estão falando…Adorei o modo de ser dos suiços, e mais ainda a sua seriedade com a coleta de lixo!! Aprendi logo, pois tudo que é bom deve ser observado!!!! Saudade de tudo que vi e vivi na Suiça!!!!!!
Se vale o consolo aqui no Brasil, temos a lei PNRS 12.305/2010, já ouvi dizer que é uma “lei Suiça para uma realidade brasileira”. Fico triste com a nossa situação, aqui muita gente revira lixo porque passa fome! É uma realidade muito diferente dos países do “primeiro mundo”. Outros não fazem porque não tem hábitos e costumes, e acham que não fará a menor diferença se aderirem a reciclagem. Mas se cada um fizesse sua parte, seria muito melhor! Eu por exemplo reciclo resíduo sólido desde 1998, mas essa informação fui ter somente na graduação. Trabalho com educação ambiental aqui no Brasil, há mais de 10 anos, e realmente muita gente não tem informação de nada! Eu também não tinha, mas tive a oportunidade estudar e ir atrás de alguma informação que me incomodava, e descobri que na cidade de São Paulo a coleta seletiva acontece há muito tempo, antes de 2006, pela prefeitura da cidade, mas não há divulgação (se mora em São Paulo dá uma olhada no site da Loga ou Ecourbis), na realidade pela lei todas as cidades brasileira são obrigadas a fazer a coleta seletiva, mas poucas tem boa vontade ou condições para isso. É como a lâmpada fluorescente, você compra para economizar energia, mas e na hora do descarte ? Alguém sabe como deve ser feita? Muitas pessoas nem imaginam e misturam tudo no lixo orgânico e criam uma bomba de contaminação. A organização desses países para nós ainda é utopia, por aqui temos muito o que aprender com eles. O fato é que aqui no Brasil, podería ter muitos empregos e renda com a reciclagem, mas aqui só reciclamos 3% (2018, segundo a Abrelpe) , por aqui temos muito trabalho, mas precisamos correr atrás para melhorar nosso cenário, não dá para ficar na sombra e água fresca! Fora a população que é bem maior e o desafio também. Obrigada por compartilhar experiências de fora do nosso país.
Muito bom o modo como funciona a reciclagem na Suiíça, mas tentando adaptar isso para o Brasil não daria muito certo, pois o imposto já é caro, imagina para as pessoas que nçao tem condições, o único modo mesmo é dar informações para todos, o que é bem dificil mas ajudaria muito já.