A vida fora do Brasil: aviso importante!
Quando decidi sair do Brasil, tentei programar tudo da melhor forma possível, guardei dinheiro, pesquisei muito sobre a cidade que decidi começar a minha nova vida na Itália, como era a situação do emprego aqui, enfim, sabia que precisava me preparar para qualquer tipo de situação. No entanto, tem uma coisa que você descobre somente quando chega, quando passa a euforia inicial, quando percebe que seu irmão está crescendo e você não sabe mais qual é a marca de roupa que ele mais gosta, de como ele está estudando para conseguir terminar a faculdade, ou quando nota que a cada ligação por vídeo seu pai tem mais cabelo branco e sua mãe uma nova ruguinha.
Ninguém consegue planejar a saudade de casa. A gente até imagina que vai ser complicado, sabemos que teremos que lidar constantemente com a distância, e que não será fácil ir sempre para o Brasil, mas depois de um ano, dois, três, a coisa fica realmente feia. A saudade estará presente dia após dia, e tem uma coisa que nunca encontraremos em nenhum lugar do mundo: a nossa casa, com cheirinho de almoço pronto, com “que horas você volta?”, com abraço sincero. Abraço! Essa será uma das coisas que mais te fará chorar por dentro. Um abraço sincero, aquele de mãe, de vó, de irmão, de pai. Abraço de amor incondicional. Sair do Brasil é perder esse abraço, ou recebê-lo somente quando você pega um avião e atravessa o oceano.
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Morar fora é lindo, não me arrependo nem um dia sequer por ter tomado essa decisão. Não tenho vontade de voltar ao Brasil, porque infelizmente nosso país não nos dá condições mínimas para vivermos tranquilamente, sem ter medo de ser assaltado ou levar um tiro na cabeça enquanto esperamos o semáforo ficar verde. Não sinto falta da minha profissão, pois a advocacia não me causava mais nenhum entusiasmo, e nem de ter que trabalhar dez horas por dia, durante todo o ano, para poder fazer uma viagem nos dias contados das minhas férias.
Não sinto falta de ter que pagar plano de saúde, de pagar um vigia para estar 24 horas por dia na frente do portão da minha casa, de ter pagado caro para ter uma educação de qualidade. Não sinto falta de um governo corrupto que deixou todo um país à deriva, de não poder usufruir de transporte público eficiente, ou de pagar quase 5 reais (pelo menos era isso que custava quando eu morava em São Paulo) por uma passagem de ônibus ou metrô.
Obviamente eu não planejava morar com meus pais a vida inteira, mesmo se não me casasse, ou convivesse com alguém, sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria o meu espaço, mas muita coisa muda quando são 12 mil quilômetros de distância.
Mesmo que eu esteja rodeada de pessoas, às vezes, sinto a tristeza de não ter aquelas mais importantes da minha vida. Mesmo tendo um namorado aqui, que convivo há um ano e meio, quando discutirmos ou brigamos, sinto falta dos braços abertos para me receber e enxugar as minhas lágrimas. Ou mesmo se estamos bem, eu e ele, aquele almoço de domingo com a minha família nunca vai existir. Meus filhos vão sempre ter uma avó à distância, e a minha mãe nunca poderá ser completamente avó.
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Veja bem, eu não quero assustar ninguém, mas você nunca será completo, e isso é uma coisa que somente morar fora vai te ensinar. A saudade dos momentos que você não passou com a sua família, daquele aniversário por Skype, daquela noite que você só queria sentar na cama e conversar com a sua mãe até às 3 da manhã. Mesmo assim, te garanto que vai valer a pena, vai te fazer viver outras culturas, enxergar o mundo em todas as suas formas e cores, aprender outra língua, saborear novos sabores, conhecer milhares de pessoas novas, de vários países diferentes. Você também será uma dessas pessoas, que deixou para trás tanta coisa em busca do novo.
Morando em Roma, hoje trabalho com turismo, viajo a cada dois meses para algum lugar da Europa, tenho bons amigos, um companheiro de vida e uma cachorrinha vira-lata que trouxe do Brasil. Parece loucura, mas ela costuma ser o meu ponto forte quando me sinto sozinha. Quando ela me olha, por alguns instantes me sinto um pouco e verdadeiramente acolhida em um abraço sincero e tênero.
Estar longe de casa te faz ter um cantinho no coração que chora, um pedacinho de solidão que estará sempre ali, e se fará notar nos momentos mais tristes dessa nova caminhada. Um lado sombrio que te fará crescer e te inundará de autoconhecimento, te fará saber o que te faz bem e o que te faz mal. Nós aprendemos a nos amar ainda mais, e a ter orgulho daquilo que estamos construindo em um país que não é o nosso. Aprendemos a dar valor aos pequenos momentos de felicidade, pois são eles que fazem com que tudo valha a pena, e são o feixe de luz para iluminar aquela parte escura, ali no fundo, do nosso coração.
6 Comments
Amei o post. Não moro fora do Brasil (ainda), mas já imagino as coisas que sentirei falta. Mesmo assim, não tem um dia que eu pense em ficar aqui… acredito que nada pague a paz de viver sem medo de ser assaltada ou morrer a qualquer instante.
É verdade. Agora mesmo voltei do Brasil, e não há preço que pague a tranquilidade. Grande beijo.
Oi Marina. Estou hà 3 anos em Florenca e me identifiquei muito com o seu texto. Nao vou me estender mais, pois voce se expressou muito bem e somente quem tem essa vivencia consegue entender. Obrigada por compartilhar! Te desejo tudo de bom e mais momentos felizes!!!! Bjs Monica
Monica todo sucesso para nós. Um grande beijo e felicidade para você também!
Lindo texto!! Me identifiquei total
Fico muito feliz! Beijos