Recomeçar aos 40.
O recomeço requer o primeiro passo, o mergulho no desconhecido, o desprendimento de tudo que já foi seu um dia, e não estou falando do material. Dá muito medo do futuro, do que lhe aguarda! Não é fácil, pode ter certeza. A nova realidade põe à prova todas as suas fraquezas. Várias vezes a vontade de desistir é avassaladora e insistente.
Quando decidimos por uma grande mudança, por mais que estejamos cientes dos nossos desafios, de fato, nunca estaremos preparados até vivenciarmos esta experiência real. O caminho da adaptação é tortuoso, cheio de conflitos e muitas vezes os problemas nos derrubam e nos levam ao chão. Nem sempre tudo sai da maneira que planejamos, mas temos que colocar a cabeça no lugar para chegarmos onde queremos chegar. É aí que revelamos a coragem e a força para levantar. A força que, por vezes, nem sabíamos que existia em nós. E então a gente segue em frente.
A mudança para um outro país significa começar do zero. De repente, nos vemos perdidos numa nova cultura e temos que desbravar outra língua, outro estilo de vida, outras pessoas, outras paisagens, outros costumes. O início é um verdadeiro caos. Um exercício diário de desapego. Tudo que já foi seu um dia, deixa de ser, e você percebe que tem que reconstruir tudo de novo para poder viver! É preciso asas fortes para alçar este voo. A mudança é muito mais profunda do que a gente imagina. Essa busca por você mesmo é linda, mas ao mesmo tempo é apavorante. Não existe promessa que dará certo e é preciso uma coragem insana para percorrer o caminho até o fim.
Começar de novo aos 40, ou em qualquer idade – todas seriam igualmente difíceis –, é começar do meio do caminho. Você talvez tenha vivido mais do que ainda irá viver. Mas a maturidade dos 40 lhe permite um olhar peculiar. Me sinto plena. Construí uma família linda que é quem me dá sustentação e o conforto necessário para enfrentar este desafio. Construí uma carreira de sucesso que me trouxe orgulho pessoal. Construí amizades verdadeiras e enriquecedoras ao longo da minha vida e que influenciaram o que sou hoje.
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Deixar tudo para trás é muito penoso e a saudade e solidão começam a fazer parte do seu dia a dia. Por mais que você não queira, a insegurança aparece, e a todo momento você se questiona se tomou a atitude certa. Mas a vida se encarrega de colocar as coisas no seu devido lugar. A gente descobre que a arte de se reencontrar está na trajetória, em saber aproveitar este novo olhar sobre a vida ao seu redor e aprender com ele.
Descobrir o que te faz se encaixar neste novo contexto é o segredo! Lógico que não vamos gostar de tudo que nos vem sendo apresentado, mas tirar proveito disso é o que vai nos fazer criar nossas novas raízes. O dia a dia vai lhe posicionando diante da atual realidade e você, aos poucos, aprende a ser seletivo e absorver o que realmente importa neste mar de novidades. É difícil explicar como você se sente porque tudo isto lhe provoca um turbilhão de emoções, e na verdade o processo de reconstrução leva tempo e dedicação. E particularmente, no meu caso, ainda estou no começo.
O primeiro passo é acalmar o coração e acreditar na sua escolha. Se você tem convicção do que se propôs a fazer, você deu o primeiro passo. O segundo passo é exercitar a paciência. É ela que vai te fazer entender este momento de espera. O tempo é fundamental neste processo. É nesta etapa que você testa seus limites, suas fraquezas e seus medos. É um trabalho de formiguinha. Incorporar a estranheza que lhe cerca é de fato um processo lento. Mas é ele, o tempo, que vai propiciar que você alcance seu objetivo com êxito.
O terceiro passo, e talvez o mais importante, é se entregar ao aprendizado. É quase como voltar a ser criança. Você precisa aprender a se comportar, a falar, a viver de uma forma diferente e se adaptar àquela nova realidade. Você precisa se despir de preconceitos e frescuras. Esquecer velhas manias e reconhecer outras. O aprendizado da cultura, da língua, do estilo de vida local é a alma da sua reconstrução. Depois que você concluir este aprendizado, estará pronto para cravar o seu lugar ali, fazer amizades, encontrar um novo emprego e realmente se redescobrir. É neste momento que você começa a se desfazer completamente das amarras de tudo que viveu antes. É neste momento que você realmente volta a se sentir capaz. Reconhece os seus limites, mas já sabe como esticá-los.
Vão sempre existir os que dizem que você teve sorte, que foi fácil! Mas só você sabe o que teve que deixar para trás para poder seguir em frente. Só você sabe os riscos e a escuridão que teve que atravessar. Só você sabe as pedras que lhe machucaram durante a caminhada. Porque não podemos ter dúvidas de que o caminho é árduo, mas é totalmente possível e simplesmente inesquecível.
Recomeçar é revelar o seu novo “eu”, é mergulhar na própria alma e aceitar que você mudou, e desta maneira reescrever a sua história! Porque ainda que você volte ao seu antigo lugar, você nunca mais será o mesmo.
Certa vez, uma pessoa muito especial me disse que quando você escolhe alçar este voo, você pode escolher ser o que quiser! Você pode escolher ser uma outra pessoa. E talvez seja isso mesmo. Esta oportunidade pode te dar a chance de se transformar verdadeiramente.
Hoje ainda estou na fase da lagarta, mas sei que a borboleta em breve estará pronta para sair do casulo. E todos os obstáculos e sacrifícios só servirão para torná-la mais bela e forte. Então vamos aproveitar!
13 Comments
Wow Monique, que texto!
Entendo todas as suas “angústias”, medos, e todo esse mar de desafios qie surgem na sua frente. Também eu recomecei aos quarenta e poucos (42 para ser bem exata). Mas naquela altura foi relativamente fácil pra mim, tinha meus 3 filhos e meu marido comigo e fomos para um país qie nao era uma novidade para mim… eu me sentia em casa naquele lugar. Foi dificil para a minha família! Eu tirei de letra!! Aos 48 recomeçamos de novo em
outra parada…. outra vez do zero e dessa vez eu teria muitos desafios pela frente – uma língua doferente da minha, um país qie eu nunca tinha tido nem vontade de conhecer rs – sofri pra burro no primeiro ano, mas tinha toda a família ali comigo e como em um passe me mágica, um dia acordei feliz, amando estar lá, me sentindo parte daquele lugar. Se passaram 6 anos e meio e há 2 semanas estou recomeçando novamente… agora aos 53 anos (quase 54), em um lugar de sonho (os cenários de todos os cartoes postais qie minha mãe colecionava), novamente uma nova língua, tudo novo, começar do zero again…. dessa vez, apenas o marido e nossa filha peluda vieram… os 3 filhos ficaram em UK, tocando a voda deles.
Recomeçar nao é fácil, realmente! Mas é a melhor forma de exercitarmos o desapego com certeza, e um excelente meio de nos fazer sentir o valor de estarmos realmente vivos…
Bons voos!
Beijinhos
Rita xx
Rita, fico feliz que tenha gostado. Parabéns por ter recomeçado tantas vezes, imagino suas dificuldades. Muita sorte no novo recomeço. Beijos
Perfeito seu texto.
Parece que foi escrito para mim. Tenho 41 anos e estou tendo a chance de viver isso, recomeçar em outro país, aí na Alemanha.
Quem sabe um dia volto aqui para te contar o que passei e que estou bem.
Por enquanto, gratidão por esse texto lindo. Depois de lê-lo, tive mais certeza do que quero e mais força para chegar lá.
Grande abraço!
Oi Lu, fiquei muito feliz com suas palavras! Temos que ter força mesmo, não é nada fácil! Vou adorar ouvir sua história! Beijos
Monique! Que texto incrível….sensível..verdadeiro! Real!
Estou com 35, mas desesperada para conseguir uma oportunidade na Alemanha rss…
Sei que não deve ser nada fácil..todo esse choque da cultura…língua..longe do calor do Brasil e família…mas mesmo assim preciso ter a experiência pra não me arrepender a vida toda que nunca fiz né? E penso muito em meu filho e em dar uma vida melhor pra ele…
Por onde iniciar?…conseguir um emprego e poder me mudar? .. as vezes parece um sonho tao distante. =(
Obrigada Wanessa, fico feliz que tenha gostado! Realmente não é fácil, mas a caminhada é incrível, vale cada sacrifício. Não desista nunca, lembre-se que cada passo a levará para mais perto do seu sonho. Boa sorte! Beijos.
Oi Monique, adorei o seu texto!! Passei por isso quando me mudei pra Inglaterra.. Realmente a gente muda, se transforma e de certa forma vira criança explorando tudo que o novo país nos oferece. Mudamos nossa perspectiva de ver o mundo. Nos tornamos pessoas melhores. Bjs
Obrigada Paula! Beijos
Muito bom o texto e super me identifiquei! Parabéns e boa sorte no seu caminho!
Obrigada Adriana!
Bom dia! Gostaria de saber se podem me ajudar com suas experiências
Gostaria de saber como faria e se seria possível eu ir para o Canadá, eu tenho 41 anos, e sou divorciada, tenho uma filha menor de idade e gostaria muito de viver esta experiência. Será que consigo, o que vou enfrentar pela frente? Sempre quis ir para o exterior para ter uma vida melhor e e principalmente a segurança. e poder proporcionar algo para minha filha de 7 anos. Me ajudem! Quanto preciso de dinheiro no mínimo para poder ir, se é melhor ir a trabalho ou estudo… estou começando do zero e gostaria que me ajudassem tendo em vista que pretendo ir praticamente sozinha com uma filha menor.
Obrigada!
Olá Fátima,
A Monique Abbehusen parou de colaborar conosco, mas temos outras colunistas no Canadá que talvez possam te ajudar.
Você pode entrar em contato com elas deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Obrigada,
Edição BPM
Amei seu relato.
Estou com 43 anos e amadurecendo a idéia de ter essa experiência na Alemanha.
Tenho medo devido a idade. Não sei se já estou velha pra tentar a sorte num país tão diferente do Brasil.
Quem quiser trocar idéias comigo ficarei feliz. Um abraço