2019 chegou. E com o ano novo, os planos e desejos para os próximos meses. Desde que cheguei na Alemanha, no fim de 2016, aprender alemão é uma das minhas frequentes resoluções de ano novo e esse ano mais uma vez está na listinha, apenas com um nível mais avançado. E que difícil é chegar lá! Principalmente morando em Berlim, uma cidade internacional com gente do mundo inteiro, e trabalhando em empresa internacional onde o inglês é a língua oficial na comunicação entre as pessoas. Para completar o pacote, o namorado é polonês e nossa comunicação é também na língua inglesa.
Mas, então, vamos a pergunta que persiste: é possível viver na Alemanha sem falar alemão? E a resposta é: depende. Se você fala inglês e tem o objetivo de viver em uma cidade grande, como Berlim ou Munique, é possível, sim; e muita gente vive aqui há anos e sobrevive com o básico do básico do idioma. O fato dessas cidades serem sede de muitas empresas internacionais, também possibilita trabalhar sem precisar do idioma, principalmente se você é da área de tecnologia.
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Em Berlim, por mais que se queira aprender alemão, é bem comum chegar em um bar ou restaurante, por exemplo, começar a fazer um pedido e a pessoa mudar pro inglês naquele momento em que você para pra pensar se o verbo deve ir na segunda ou na última posição. E aí você já deixa pra lá e pede em inglês, mesmo, porque está com preguiça de declinar tudo quanto é artigo.
Burocracias e Dificuldades
O mais complicado na vida sem alemão na Alemanha é definitivamente enfrentar as burocracias e papeladas para se registrar e viver aqui. Em muitos casos, nos órgãos públicos, as pessoas, principalmente mais velhas, não falam inglês e nem estão dispostas a ajudar. Já passei por situações assim no início, em que tive que simplesmente adiar a solução de um “pepino burocrático” porque não entendi o que a pessoa me falou, e daí voltar no dia seguinte e esperar que a sorte ajudasse para encontrar alguém que falasse inglês. Há sempre a opção de contratar algum brasileiro que já more aqui há algum tempo e ofereça serviços de acompanhamento e tradução nessas tarefas.
Conversando com Monique Abbehusen, também colunista do BPM e que já morou em Munique e agora vive em Kaiserslauten, ela concorda que a pior parte é mesmo lidar com essas questões, e que até mudar de endereço torna-se uma dor de cabeça por não dominarmos o idioma. E quando eles mandam aquelas cartas enormes com quatro páginas, apenas para avisar que você está registrado e que tudo está ok, mas dá um desespero e você já acha que fez alguma besteira e que vai ter que pagar alguma multa ao governo e ser extraditada pro Brasil. Haja Google tradutor e ajuda de amigos alemães (sim, eles existem e sempre podem ajudar nesses casos).
E outras situações em que a gente se sente uma criança aprendendo a falar, como ao ligar para marcar uma consulta médica ou tentar falar com a recepcionista, pois muitas vezes elas não falam inglês. Já tive que desligar o telefone algumas vezes por não entender o que a pessoa estava falando e preferi ir pessoalmente, pois assim podemos usar mímica e até escrever, o que facilita na compreensão. Às vezes você só desencana de ir ao médico porque ninguém vai entender mesmo o que você quer e deixa pra ir no Brasil, se não for nada urgente.
Mercado de Trabalho
Hoje em dia já consigo me virar e entendo boa parte do que me falam e posso responder e manter a conversa em alemão, porém ainda não domino a língua para usar no dia a dia de um trabalho, por exemplo. E me frustrei um pouco ao achar que Berlim teria mais opções sem a exigência do idioma. Sim, até que tem, porém para áreas bem específicas como TI, ou atendimento ao cliente em empresas que lidam com público de outros países, além da Alemanha. E imagino que se em Berlim já é assim, nas cidades menores deve ser praticamente impossível trabalhar sem falar um nível bom da língua.
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Dicas para aprender e como se virar até dominar o alemão
Nesses dois anos, entre aulas em escolas, aulas particulares e tentativas de virar autodidata, acho que a terceira opção funciona muito bem, mas tem o porém da falta de conversação e de alguém para corrigir seus erros. Mas indico muito uma submersão no idioma, lendo na língua, escutando rádio e músicas, vendo TV etc., independente de você ir ou não à aulas em alguma escola. E para quem tem amigos ou namorado(a) daqui, é bom mudar a comunicação para o idioma local. Conheço gente que aprendeu assim, da convivência com parceiros e amigos alemães e praticando diariamente.
E uma dica essencial! Essa eu tenho também problemas em seguir… Não se intimide com a gramática do alemão! Cada vez que tentamos falar e travamos porque paramos pra pensar em que posição vai o verbo, qual a declinação daquele artigo ou o plural daquela palavra, a comunicação não flui e acabamos buscando ajuda no inglês. Por isso também considero mais fácil para quem não fala nada de inglês se soltar mais no alemão. A necessidade de se comunicar acaba nos forçando a aprender de uma maneira ou de outra e de não ter vergonha de errar.
Outra forma de acelerar o processo de aprendizado é passar um tempo em uma vila alemã, dessas em que quase ninguém fala inglês. Nossa colunista Larissa Wittig, que chegou no país em março de 2018, diz que as pessoas nas vilas são mais pacientes para ajudar e que sente na pele diariamente a necessidade de se comunicar no idioma. O vilarejo onde vive, chamado Schöffau, tem cerca de 300 habitantes e pouco menos de 3.000 contando com a área do município do qual faz parte. Ela já é conhecida por quase todos por ser uma das poucas estrangeiras e aos pouquinhos consegue dominar o idioma.
Já Marcia Noczynski, que vive em Kuppenheim, lembra também da importância de se entender os códigos de comunicação, que vão além da língua, envolvendo o entendimento e interpretação dos gestos e atitudes das pessoas, e o que elas falam ou deixam de dizer. Para ela, isso é ainda mais complicado e com certeza por mais que dominemos um idioma e mesmo vivendo muitos anos fora, nunca seremos tão locais quanto os locais de tal país e tão naturais como em nossa cultura.
3 Comments
Clarissa,
Como jornalista foi difícil entrar no mercado de trabalho alemão?
Tenho muitas dúvidas nesse quesito, pois pretendo trabalhar com audiovisual.
Att Martha Dias
Olá Martha, apesar de formada em jornalismo, não trabalho na área. Sem dúvida, algumas áreas que envolvem comunicação são mais complicadas sem o domínio do idioma alemão. Mesmo considerando que quase todo mundo fala inglês, a mídia e produção local ainda é predominantemente alemã. Espero que tenha ajudado. Um abraço!
Olá Clarissa!!! Moro em Berlim tb e me acabei de tanto rir com trechos de seus textos.
Eu costumo dizer.que a ALEMANHA É PARA OS.FORTES!!!!
Espero que possamos.nos.encontrar
Sucesso!