Antes de mudar para Berlim, ainda morando em Atenas, meu sonho era não ter que usar transporte público diariamente e poder circular na cidade em bicicleta. A única vez que tentei fazer isso, em Atenas, fiquei doidinha de medo e nunca mais tive coragem de repetir (os motoristas gregos não são os mais cuidadosos). Apenas andava de bicicleta em ruas mais tranquilas sem muitos carros ou em áreas de parques. Ao mudar para Berlim, quase sempre listada entre as 10 cidades mais “bike-friendly”, uma das primeiras coisas que fiz foi comprar uma bicicleta e sair pedalando por aí. Bom, nem tanto, porque me mudei em novembro, mas só foi a primavera chegar e fiquei na maior alegria!
Pedalar no inverno não é impossível. Vejo muita gente fazendo isso e, com roupas apropriadas, a chance de congelar é bem pequena (rs). Ainda assim, prefiro não arriscar (também por conta do chão muitas vezes úmido ou molhado) e aposento a magrela pelo menos durante 4 meses. Independente do frio, Berlim é uma cidade bem preparada para bicicletas, praticamente toda plana e com muitos parques e áreas verdes.
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Para quem não está acostumado, pode surpreender o número de gente que se vê na rua indo de bicicleta diariamente pro trabalho, às vezes para não ter gastos com transporte público (que pode custar 80 euros por mês ou mais, dependendo de onde você circula); ou carro (gasolina, estacionamento etc.); às vezes, para exercitar-se, ou uma combinação dos dois motivos. E também porque é uma delícia pedalar, não é mesmo? Cerca de 13% das viagens realizadas na cidade são em bicicleta. Outra coisa que me surpreendeu é como as pessoas, às vezes, pedalam bem arrumadas, de paletó, mulheres de vestido e até de salto! Muito profissionais esses alemães!
O costume de usar bicicletas como transporte é adotado desde a infância. Há diversas versões com carrinhos acoplados para levar as crianças. E depois de certa idade elas têm suas próprias bikes e acompanham os pais no caminho para a escola ou para as compras no mercado. Calcula-se que na cidade há cerca de mais de 700 bicicletas a cada 1000 habitantes, o que significa que boa parte das pessoas, vivendo aqui, tem a sua.
Além disso, são mais de 1000 km de ruas com ciclovias próprias para bicicletas, ou compartilhando com outros transportes ou com pedestres, além de ruas com prioridades para bikes onde os carros não podem ultrapassar 30 km/h. Os ciclistas também podem contar com os transportes públicos para longas distâncias, carregando as bicicletas nos metrôs (U-bahn), trens (S-Bahn), trams (ou bondes) e em alguns ônibus noturnos. Apenas lembre-se de que é necessário comprar um bilhete especial e utilizar apenas os vagões sinalizados para tanto.
Regras e cuidados
Berlim é segura, mas não é Amsterdã ou Copenhagen. Roubos de bicicleta aqui são mais do que comuns e não é bom deixar nada de valor na cestinha ou bolsa lateral (caso tenha uma dessas). É o crime mais registrado na cidade e foram mais de 30.000 roubos em 2014, segundo dados do site Exberliner. Cadeado é um item essencial e vale investir em um com boa qualidade. Outros acessórios essenciais são as luzes para quando está escuro, uma vermelha (atrás) e uma branca (na frente), e uma “touquinha” para o banco nos dias de chuva (que pode ser substituída por um saco plástico. Ninguém vai julgar você por isso).
Uma observação muito importante é que os motoristas e ciclistas de Berlim costumam respeitar a sinalização e uns aos outros, mas vale sempre conduzir com cuidado, pensando que podem aparecer loucos por aí. Calcula-se que 25% das mortes relacionadas ao trânsito em Berlim são de ciclistas. Algumas regrinhas que devem ser seguidas para não entrar nas estatísticas: não ande pela calçada (apenas crianças até 8 anos de idade podem fazer isso). Quando não houver ciclovia, siga pela rua sem medo; circule sempre na mão correta, como os carros. Dê sinal com o braço quando for virar e respeite os semáforos. Alguns são especiais para bicicletas, mas quando não houver, siga o semáforo para carros.
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O uso de capacetes não é obrigatório, mas muita gente opta por utilizá-los. É uma questão de prevenção. Confesso que desde que cheguei quero comprar um e nunca lembro, mas acho importante. Apesar da estrutura da cidade ser bem avançada, ela ainda não alcança os números e a organização das cidades mencionadas acima. Portanto, todo cuidado é pouco. E cuidado ainda com as ofensas se ficar irritado com alguém. Mostrar o dedo pode render uma multa de 4 mil euros!
Aluguel ou aquisição de bike
Para quem está visitando Berlim, andar de bicicleta é definitivamente uma das atrações da cidade. O número de locadoras cresce a cada ano, e você pode, também, alugar essas que ficam na rua (bike-sharing), com aplicativos bem simples de usar. Em média, 24 horas de aluguel de bicicleta podem custar 12 euros. E há a opção de fazer tours guiados pela cidade, conhecendo mais em menos tempo e curtindo o ventinho no rosto. Apenas lembre-se que bicicletas em Berlim são um meio de transporte e não apenas de lazer, e as pessoas estão acostumadas a pedalar em seu ritmo.
Para quem está de mudança ou já vive em Berlim, fica uma dica: você só vira berlinense de verdade depois de comprar a sua magrela. E há muitas opções, desde grupos no Facebook de pessoas vendendo bicicletas por estarem saindo da cidade (assim comprei a minha), a feirinhas em parques vendendo de segunda mão (cuidado para não comprar uma bicicleta que tenha sido roubada), ou você pode simplesmente adquirir uma nova. Não recomendo essa última opção pelo motivo óbvio. As chances de sua bicicleta ser roubada são muitas e você não quer ficar no prejuízo, certo? Caso queira arriscar, aconselho que faça um seguro, afinal, o que não falta são empresas de seguro nesse país!
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