Algumas impressões dos franceses sobre o Brasil.
Há mais ou menos um mês, estava no Brasil, matando um pouco as saudades, terminando de preparar um casamento (dessa vez o religioso) e contando os minutos para o grande dia chegar. Poderia ter sido só mais uma festa no Brasil, mas foi também o momento em que mais ou menos 15 convidados franceses, entre parentes e amigos do meu marido, desembarcaram em terras canarinhas. Vários deles iam pela primeira vez ao meu país.
Alguns cheios de receio devido a toda visibilidade que a nossa violência urbana tem ganhado no exterior, outros (a grande maioria) cheios de curiosidade e vontade de se lançar pelos quatro cantos do Brasil e tentar entender mais sobre esse lugar que caiu no gosto popular dos franceses de uns anos para cá. Uma amiga francesa costuma dizer que, já faz algum tempo por aqui, “o Brasil está na moda”. Quase tudo que é relacionado a nossa cultura, nossa culinária e nossas paisagens mexe com o imaginário deles. Pudera, nosso país é mesmo um lugar instigante e curioso se o olharmos com a grandeza que ele tem e que exige para talvez se fazer compreender.
Eu amo falar sobre o Brasil e sobre minha cultura, tanto sobre o que conheço a respeito da cultura nacional quanto sobre a cultura da minha região e do meu estado (do nosso carnaval guiado por frevos e maracatus ao nosso Movimento Manguebeat é até difícil saber por onde começar). E amo ver o encanto das pessoas descobrindo tudo isso, saber o que elas pensam sobre e como elas entendem essa realidade que estão desbravando.
Sabia que depois da viagem e da festa de casamento teríamos longas e interessantes conversas sobre as experiências de cada um lá. Até porque quase todos aproveitaram a deixa da viagem para se darem miniférias em terras brasileiras, óbvio, e os destinos escolhidos para antes e depois do casamento foram bem diversificados. Alguns foram até os Lençóis Maranhenses; outros para Jericoacoara; outros para Porto de Galinhas; alguns desceram até Salvador; alguns mais longe, até o Rio; e os mais dispostos chegaram às Cataratas do Iguaçu.
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Viagem terminada, volta à realidade concluída, os reencontros aqui na França com os amigos e com os parentes que foram festejar nossa união com a gente vão acontecendo aos poucos e em cada um deles tento descobrir um pouquinho de como essas pessoas viram meu país e esse tempinho lá. Aqui vou compartilhar alguns dos comentários que mais se repetiram até hoje entre as pessoas com quem falamos. Vale dizer que não são verdades absolutas ou apenas coisas com as quais concordo. Talvez algumas, inclusive, soem como clichês, mas foi o que ouvi das pessoas com quem falei até hoje.
A organização do casamento é estranha
Como o esquema de realização do casamento francês tem particularidades que os casamentos brasileiros não têm, eu imaginei que nossa forma de cerimônia pudesse ser algo novo e que causaria estranhamento neles. Na celebração, resolvi fazer coisas segundo o protocolo brasileiro, já que já havíamos feito o casamento aqui na França do jeito deles. Uma das coisas que confundiu um pouco eles foram as entradas, sobretudo porque alguns amigos do meu marido entraram como padrinhos e madrinhas, conceito que não existe aqui na França. Introduzi para eles previamente a ideia e no dia entreguei na mão do cerimonial.
Minha cerimonialista, como muitas fazem, deu a eles orientações como de que lado ficar, quantos botões abotoar, como manter o braço e/ou as mãos, etc. Isso não foi uma exigência minha, até porque, honestamente, não me importo com esse tipo de coisa, mas depois uma amiga que fala francês veio comentar, rindo, que um dos amigos do meu marido ficou surpreso ao ver “como eu era exigente e específica” com relação à forma como eles tinham que entrar. Não sei se o que o surpreendeu mais foram as inúmeras recomendações ou se foi pensar que isso vinha de mim. Haha. Dei muita risada imaginando a cena!
Outra coisa diferente é a refeição francesa e a ordem quase orquestrada que a rege. No Brasil não é bem assim que acontece. Já tinha avisado a eles que não ficaríamos todos à mesa ao mesmo tempo e que as sobremesas eram doces que eles poderiam pegar na mesa principal, mas não contava com o atraso enorme que aconteceu por parte do buffet. Resumindo, acabei descendo para pista de dança sem comer e muitas pessoas acabaram fazendo o mesmo. Senti que alguns dos franceses ficaram confusos com essa “desordem” porém acabaram descendo pra dançar também. No fim das contas quem teve fome entendeu que poderia ir comer quando quisesse e depois voltar a dançar. Deu tudo certo.
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Os brasileiros gostam de dançar
Falando em dançar… Eles ficaram encantados com nossa desenvoltura e paixão pela dança. E olha que quando ouso falar em “nossa” desenvoltura mesmo não sendo a melhor das dançarinas é porque hoje sei que na maioria de nós, latinos, tem mesmo uma coisa que ajuda a gente a encontrar o ritmo e seguí-lo. Grande parte dos franceses tem mais dificuldade que nós para isso. Entre coreografias de funk, forró, quadrilha junina improvisada, uma sambadinha aqui e outra ali e visitas ao Paço do Frevo, a maioria deles disse ter curtido muito essa relação da gente com a música e com a dança.
Os brasileiros realmente amam jogar futebol
O meu cunhado e um amigo nosso fizeram o mesmo comentário, ainda no Brasil, depois de passar pela praia várias vezes à noite e ver sempre alguém improvisando uma pelada: “Vocês jogam mesmo futebol a qualquer hora aqui, não é?”. Acho que é, né? Nessa linha de pensamento e também em meio a um debate sobre a Copa do Mundo e porque isso mexe tanto com a gente, cheguei à conclusão de que o futebol, além de ser uma das nossas marcas (uma marca um tanto clichê e meio que imposta por estrangeiros, eu sei, mas ainda assim uma marca), é um esporte popular e democrático. Eles também são apaixonados por futebol por aqui, tanto é que contam com o nosso famoso (e caríssimo) número 10 na equipe de Paris, o Paris Saint-Germain, com o maior orgulho. Mesmo assim, eles pareceram perceber que há uma relação de carinho com esse esporte que é só nossa.
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Os brasileiros são, de fato, bastante calorosos
Não é difícil para um parisiense notar a diferença de postura das pessoas aqui e no Brasil. Eu, enquanto brasileira, tenho mil críticas a fazer com relação aos bons modos do meu povo, mas se tem uma coisa que não podemos negar é que sabemos acolher. Não é raro para a maioria de nós retribuir um sorriso, ter curiosidade de saber quem são as pessoas que estão vindo conhecer nossa casa, tentar ajudar, tentar falar mesmo com as limitações causadas pela diferença de línguas, saber receber. Fiquei apreensiva de nossos amigos ou família terem problemas com pessoas desonestas no Brasil, mas para meu alívio e para alegria deles, todos voltaram para casa com a sensação de terem sido muito bem recebidos.
E vocês, conhecem estrangeiros que têm outras opiniões e impressões sobre o Brasil?