Amizades interculturais em Malta
Ceder. Aceitar, ou não. Entender. Concordar e discordar. Viver!
Quando decidi fazer as malas e ir morar fora por 6 meses, sabia que viver sozinha não seria tão moleza assim. No dia 15 de maio do ano passado, embarquei em Porto Alegre rumo a Malta. No dia seguinte, estava pisando no Luqa, o aeroporto internacional.
Minha prima mora aqui há 4 anos. Ela estava me esperando na hora em que cheguei. Assim que a vi, comecei a chorar. Quando me dei conta do que havia feito, desabei. Foi um choro sem um significado específico: medo, alegria, arrependimento, expectativa, ansiedade. Não sabia o porquê e nem de onde aquele soluçar infinito estava vindo.
Havia chegado a hora de conhecer meu flatmate (colega de apê). Ele é mais velho, búlgaro e trabalha no mesmo local em que eu iria começar a trabalhar. Aí, começaram alguns problemas. Ele começou a demonstrar interesse em mim e eu não sabia como lidar com a situação de maneira eficiente e sem ser grossa – aí, entram em cena os famosos sorrisinhos bobos e forçadamente educados. Contudo, dois dias depois, as investidas ficaram piores, e precisei sair do apartamento dele.
Estava na Ilha havia quatro dias e queria embora. Estava detestando cada minuto. Tinha medo da cultura das outras pessoas. Como não podia largar tudo e voltar para o Brasil, resolvi focar no trabalho e no meu blog pessoal. Estava trabalhando no Surfside Restaurant, em Sliema, e conheci meus melhores amigos daqui lá. Passei os melhores 6 meses da minha vida com malteses que falam alto – bem alto! –, ingleses mega educados, franceses engraçados, italianos divertidos, búlgaros festeiros e venezuelanos amáveis. As características regionais dessas pessoas me fizeram amá-las. Aí, tudo começou a melhorar.
Lá no início, entre junho e agosto, morei com uma brasileira e uma maltesa que estão no meu ciclo de melhores amigos. Inclusive, dessa experiência, surgiu possibilidade de a brasileira Tali e eu trabalharmos juntas. Agarramos a oportunidade, temos projetos pessoais em construção desde então e está sendo muito divertido. Infelizmente, Tali precisou voltar para o Brasil por um tempo Bex, a maltesa, resolveu voltar para a casa dos pais.
Sendo assim, tive de procurar outro lugar para morar e encontrei abrigo na casa de uma das minhas melhores amigas. Sue, irlandesa ruiva doida e maravilhosa. Os pais dela me acolheram de uma forma incrível. Dona Paula, a mãe, foi uma benção na minha vida. Era tratada como filha em relação a carinho, a broncas e passeios.
Depois de um mês, soube que dois amigos franceses estavam voltando e queriam dividir apartamento. Aí, minha vida mudou.
Em setembro, conheci um inglês. Em princípio, não queria nada com ele. Nem atraente o achava. Mas fui conquistada! O carinho com que ele me tratava, o respeito que tinha por mim e a educação com que conduzia as conversas me encantaram. Começamos a nos relacionar e encontrei nele algo que não havia encontrado em um brasileiro antes: compatibilidade total – gostos, restaurantes, festas, viagens, valores, família. Ele é mais velho e um cavalheiro.
Meus amigos se tornaram amigos dele no meio do caminho e viramos, todos, uma verdadeira família. Uma mistura europeia e sul-americana maravilhosa que não poderia, jamais, dar errado. Somos cúmplices uns dos outros. Lutamos e vibramos juntos a cada conquista de cada um de nós. Perdemos uns durante nossa jornada, mas continuamos firmes. Somos um time!
É divertido manter relacionamentos interculturais. É glorificante, mas trabalhoso. É difícil se adaptar não somente à diferença entre as tradições de cada ser humano, mas também aos seus hábitos pessoais. E as personalidades não são moldadas apenas pelo país em que se vive: é um mix dos lugares de onde seus pais vieram – afinal, eles te educaram e sempre exercerão influência sobre a sua vida –, das pessoas que você gosta e das atitudes que você admira, dos objetivos que você quer atingir na vida – seja pessoal, seja profissional –, dos filmes que você assiste e das músicas que você ouve.
Às vezes, você acorda e abre as cortinas, mas seu amigo quer fechá-las por conta da claridade; você organiza a geladeira e, no outro dia, está tudo “bagunçado” novamente. Você, brasileira, guarda azeite de oliva na geladeira e sua amiga francesa coloca no armário. Você gosta de deixar a louça escorrendo, sua amiga irlandesa seca direto. Você ama Ed Sheeran; seu amigo, música indiana. É complicado encontrar um equilíbrio, mas com paciência, respeito e flexibilidade, tudo se resolve e se encaminha perfeitamente.
É impossível querer que tudo seja do jeito que era na sua casa no Brasil, ou como você gostaria que fosse quando morasse sem seus pais. Mas, para ser sincera, que bom que não é 100% da maneira que desejávamos e – ainda – desejamos.
São nas nossas diferenças que nos espelhamos uns nos outros. Nas nossas fraquezas que encontramos suporte. Nos nossos medos que encontramos motivações. Nas nossas inseguranças que encontramos confiança. Nas nossas dúvidas que encontramos respostas.
Na nossa jornada, construída diariamente, que encontramos amor. Intercambista ou estrangeira residente, não se arrependa! Viva com alegria e humildade cada dia. Se cerque de amor e lealdade. Regue bons sentimentos dentro de você e dos outros. Colha sorrisos, abraços, amigos, irmãos.
Não importa da onde você vem, para onde você vai e de quais lugares são as pessoas que cruzam seu caminho, seja grata! Agradeça a oportunidade de poder conviver com culturas tão diferentes da sua, mas com pessoas tão parecidas com você. E não me refiro somente àqueles com os quais você tem total reciprocidade em personalidade. Me refiro a humanos.
Somos diferentes em idiomas, hábitos, gostos, mentalidade, mas todos temos um coração que bate a mil ou a milhão por hora. Uns são claros como a água, fáceis de ler e de entender. Outros, não.
Cabe a cada um de nós olhar para o outro com olhos de quem quer ver. Sejam felizes!
4 Comments
É bem assim mesmo Isadora, tudo a seu tempo, e as pessoas entram e saem da nossa vida mas sempre deixando um pouquinho delas e levando um pouquinho de nós. A vida é uma escola onde devemos aprender a nos relacionar com todo o tipo de cultura, isto é essencial para o nosso crescimento, pois nos fortalece e nos ensina a ter respeito e admiração pelo próximo. Esta canção diz tudo.
Trem – Bala (Letra) – Ana Vilela
Não é sobre ter
Todas as pessoas do mundo pra si
É sobre saber que em algum lugar
Alguém zela por ti
É sobre cantar e poder escutar
Mais do que a própria voz
É sobre dançar na chuva de vida
Que cai sobre nós
É saber se sentir infinito
Num universo tão vasto e bonito
É saber sonhar
E, então, fazer valer a pena cada verso
Daquele poema sobre acreditar
Não é sobre chegar no topo do mundo
E saber que venceu
É sobre escalar e sentir
Que o caminho te fortaleceu
É sobre ser abrigo
E também ter morada em outros corações
E assim ter amigos contigo
Em todas as situações
A gente não pode ter tudo
Qual seria a graça do mundo se fosse assim?
Por isso, eu prefiro sorrisos
E os presentes que a vida trouxe
Pra perto de mim
Não é sobre tudo que o seu dinheiro
É capaz de comprar
E sim sobre cada momento
Sorrindo a se compartilhar
Também não é sobre correr
Contra o tempo pra ter sempre mais
Porque quando menos se espera
A vida já ficou pra trás
Segura teu filho no colo
Sorria e abraça teus pais
Enquanto estão aqui
Que a vida é trem-bala, parceiro
E a gente é só passageiro prestes a partir
Laiá, laiá, laiá, laiá, laiá
Laiá, laiá, laiá, laiá, la
Seja FELIZ sempre, onde estiver!!!
Verdade, Ligia! Tem sido o maior e melhor aprendizado da minha vida!
olá!! tudo bem? Eu sou gaucha também kk, gostaria de saber se tem como conseguir trabalhar em Malta sem nunca ter trabalhado em outros lugares (fora do Brasil) antes…? tipo se eu fosse para ai como eu quero muito.. gostaria de poder trabalhar e aproveitar e conhecer o país!!
Fala, Raquel. Desculpa a demora em responder!
Gauchada na área! 😀
Acredito que consiga, sim! Assim que cheguei aqui, comecei a trabalhar em um restaurante. Já havia trabalhado antes, mas não como garçonete. Foi uma baita aprendizado e até hoje sou grata a esse emprego, apesar de não estar mais lá como funcionária.
Mas, esses dias, conheci uma menina polonesa que trabalha lá, e ela nunca havia trabalhado na vida antes. Então, imagino que super experiência deve estar sendo para ela.
Ainda farei um post aqui sobre mercado de trabalho.
Posso te dar umas sugestões sobre onde procurar, principalmente se você tem o inglês em nível intermediário:
– empresas de iGaming (é onde trabalho agora; sou gerente de conteúdo em uma empersa de apostas em jogos online aqui);
– team leader de alunos em escolas de idiomas (principalmente se você vier para estudar na escola. Eles estão sempre de olho nos alunos que mais se destacam em termos de simpatia, extrovertimento e bom humor para fazer passeios com os alunos e acompanhá-los a festas – eu tentei esse emprego ano passado, mas, por estar namorando, eles não me contrataram. Dizem que, normalmente, dá problema).
– lojas de roupas (aqui, as lojas abrem de segunda a sábado, das 9 às 7 da noite. Normalmente, você tem um dia off durante a semana – além do domingão relax). Trabalhei na Diesel por um tempo como vendedora de roupas aqui também.
– restaurantes, bares, hotéis. Normalmente, não é o melhor emprego do mundo, mas super aconselho, nem que seja por um tempo, para praticar o inglês. Trabalhar nesses tipos de locais te permite praticar o inglês de forma absurda, uma vez que você está sempre em contato com estrangeiros. E aqui, em Malta, tem muito inglês – éramos colônia inglesa até 1964, então temos muita influência britânica no nosso dia a dia. Isso não inclui o sotaque, OK?! O sotaque inglês dos malteses é bem peculiar.
É isso! Fica ligadinha aqui no blog que logo logo sai um post mais detalhado sobre trabalhar aqui, alugar apê, escolas de idiotas, entre tantos outros.
Espero ter te ajudado um pouco! Minha resposta ficou meio longa só, perdão!
Tenha um ótimo dia, Raquel! E espero te ver por aqui!