Todos os anos, o verão de Malta acolhe milhares de turistas e estudantes. Muitos vêm com hotéis e casas estudantis reservados, mas, às vezes, é preciso alugar um apartamento (flat, como chamamos aqui). Sente confortavelmente na cadeira, pegue algo para beber. A ‘diversão’ começa aqui. E boa sorte, você vai precisar.
Não se assuste, mas em 1 ano já realizei 9 mudanças: morei em 8 locais diferentes e assinei 3 contratos. Isso é relativamente normal. Aconteceu, também, porque eu iria ficar somente 6 meses na Ilha e acabei por decidir esticar minha estadia em Malta sem ter prazo de volta. Então, para você evitar dor(es!) de cabeça ao se aventurar por esse ambiente de contratos e locadores, fiz uma lista com os principais aspectos a serem considerados desde o início ao se locar uma propriedade.
Antes de começarmos a entender como funciona, gostaria de fazer uma observação. Nosso leitor Crocco pontuou que não havia compartilhado uma informação e ele está certo. Sua colocação foi pertinente. Portanto, é importante prestar atenção a este detalhe:
Em Malta, locatários precisam de uma garantia de que o locador está legal no país no momento de assinatura do termo de locação e durante todo o período em que a pessoa morará no apartamento. Para isso, normalmente, eles solicitam passaporte de todos que habitarão a residência – original e cópia – e, na maioria das vezes, o contrato/visto de trabalho e/ou visto de estudante são requisitados também. Ser cidadão europeu é uma incomodação a menos nessas horas. Agora, se você veio passar férias, não possui cidadania europeia nem outro documento que te permita residir no país por mais de 3 meses (tempo máximo para brasileiros permanecerem na Europa legalmente), você, provavelmente, terá que mostrar que possui passagem de volta para o Brasil e que deixará a Ilha dentro de 90 dias – contados, obviamente, a partir do momento em que você pisou em solo maltês.
Anotado? Então, vamos lá! Confira o passo a passo para alugar um apê e evitar problemas:
Faça parte dos grupos no Facebook
Você pode se tornar membro de todo e qualquer grupo no Facebook que fale sobre aluguéis em Malta. Os agentes imobiliários – às vezes, até mesmo os donos das casas – postam os locais que estão disponíveis, fornecem informações a respeito do apartamento (quantidade de quartos, banheiros, mobília presente na casa, etc.) e, na maioria das vezes, o valor do imóvel. Você também pode perguntar se existe alguém alugando quarto em algum apartamento/alguma casa próximo às regiões que você preferir. Durante o verão, é mais fácil de achar moradia, mas, como você já deve imaginar, os preços ficam salgados durante a alta temporada.
Pesquise, pesquise, pesquise!
Não se jogue no primeiro “bom preço” que você achar. Olhe todas as condições informadas previamente pelo agente imobiliário do apê. Veja se as contas de água, luz e condomínio estão inclusas, qual o valor de depósito a ser pago, onde o flat está localizado. Muitas vezes, o barato sai caro. Sempre é melhor prevenir que remediar.
Encontrou um que agrade? Não pule de cabeça. Se informe sobre o depósito.
Sem exceção, todas as propriedades são alugadas mediante depósito, sempre pago juntamente com o primeiro mês de aluguel, que serve para proteger os locadores dos locatários. Como assim? Eles cobram um valor que será usado se algum dano ao imóvel for causado por você. Se você for fechar contrato de aluguel para um apartamento que custa mil euros, o valor do depósito será mil euros. Assim, quando você assinar a papelada, você precisará desembolsar 2 mil euros para seu primeiro mês de estadia.
Se você alugar um quarto por €350, normalmente o valor do depósito será o mesmo. Às vezes, pode ser mais caro ou mais barato. Atenção: o valor do depósito é reembolsado ao final do contrato se você não causar nenhum dano à propriedade e se cumprir o prazo de moradia que está descrito no documento assinado. Caso você saia antes, o seu depósito estará perdido. Solicite também uma lista de tudo o que a casa oferece para evitar correr o risco de ser acusada(o) de ter quebrado ou dado um chá de sumiço em algum objeto
Tudo certo? Hora de pegar a caneta e as chaves!
Por favor, leia atentamente tudo o que você assina. Não entendeu? Pergunte. Não concorda? Tente encontrar uma solução com o locador que seja benéfica para você também, não somente para ele. Os donos de apartamentos são muito ligeiros – experiência própria – e sempre tentam uma maladragem, ainda mais com estrangeiros e mulheres.
Verifique todo o apartamento.
Sim, cheque tudo. Todos os cantos da propriedade: as cortinas, sofá(s), cadeiras, mesas, armários, louça, lençóis, camas, vasos, paredes. Tudo. Qualquer detalhe que você note que possa te trazer prejuízos no futuro – ou que está visivelmente em má condição – precisa ser fotografado. Normalmente, está citado no contrato o prazo limite para você enviar as fotos tiradas do imóvel.
Ao término do acordo, antes de entregar as chaves, repita o processo e esteja presente quando um dos representantes da agência – ou o próprio dono – for averiguar o apartamento. Desse modo, você se mune e pode se defender caso ele acuse você de danificar a propriedade.
Se mude… e seja feliz!
Mudança feita, é hora de aproveitar. Lembre-se: você está sob cláusulas de um contrato reconhecido legalmente. Seja honesto e evite transtornos. Assim, sua estada será maravilhosa!
Experiência pessoal
Todas as dicas acima são válidas e acredito que ajudam – e muito – brasileiros mundo afora. Quero somente compartilhar um episódio que aconteceu comigo. Abaixo, confira a ilustração dramática da lista apresentada anteriormente.
Aluguei um apartamento em Sliema, área central de Malta, no dia 9 de dezembro de 2016. O contrato, válido por 6 meses, permitia 4 moradores na casa. Todos deveriam estar listados no acordo, bem como as cópias de nossos passaportes. Até aí, tudo às claras. Um dia, minha colega de apartamento voltou de uma festa em Paceville e acendeu um cigarro dentro de casa, sentou e… Dormiu! O resto você já deve imaginar. O cigarro caiu de sua mão e fez um buraco no braço do sofá.
Quando fui até o locador contar o que tinha acontecido, fui alvejada por palavras grosseiras e ameças de despejo. Nós havíamos pagado o depósito de 950 euros e ele me cobrou mais 600 euros pelo sofá. Ao total, foram 1550 euros na mão do dono do flat. Depois de ser insultada diversas vezes, a poeira foi varrida para debaixo do tapete, porém nós sabemos que um dia alguém a destapa e tudo volta à tona.
Era final de maio, o que significava que o contrato estava chegando ao fim (terminava em junho deste ano). Sentamos para conversar e ele me disse que tinha outra propriedade em Sliema disponível para mim e meus colegas de apartamento. Acertamos tudo com ele e nos mudamos na quinta-feira, 8 de junho. Na segunda, dia 12 do mesmo mês, acordo com um belo e-mail na minha caixa de entrada dizendo o seguinte: “Devido aos inúmeros danos causados à propriedade anterior, você tem uma semana para sair do atual imóvel. Atenciosamente, Senhor X”.
Essa mensagem foi um choque para mim, afinal, não lembrava de ter deixado o apartamento em ‘péssimo’ estado, como ele havia dito. Respondi ao e-mail e não obtive resposta. Escrevi outro. De novo, nada. Então resolvi sair mais cedo do trabalho e ir me encontrar pessoalmente com ele no seu escritório. Que ideia terrível.
Cheguei lá para ouvir, aos gritos, que ele iria me expulsar de sua sala assim como ele me expulsaria de sua propriedade. Ele chegou perto, muito perto de mim, e berrou tanto que senti sua saliva em meu rosto. Me encheu de adjetivos nada agradáveis e sequer aceitáveis. Ele não me permitia falar. Me interrompia. Era grosso, inapropriado e machista. Saí de lá tão humilhada e brava que resolvi buscar meus direitos.
Contatei uma advogada que atua especificamente nesses casos e ela me informou que minha situação era favorável, pois:
– Ele foi verificar o apartamento sem a minha presença e a dos outros moradores, o que é extremamente errado, uma vez que não podemos confirmar o que foi feito por nós e por ele. Ou seja: ele não pode cobrar nada se não puder provar o prejuízo que, alegadamente, foi causado por nós. Boom, primeiro fator a nosso favor!
– Ele trouxe à tona, novamente, o assunto do sofá, me chamando de descuidada e ‘horrorosa’. O problema havia sido resolvido. Obviamente, eu paguei a mais pelo dano e não tiro a razão dele em ficar ressabiado conosco. Porém, por que assinar outro contrato com uma locatária tão ‘burra’, ‘estúpida’ e ‘desleixada’? Foi mais um alerta vermelho para a advogada.
E aí, o que aconteceu?
Ganhei o caso. Ele me devolveu o valor remanescente do depósito e ficou com o pagamento do sofá, obviamente. Justo!
Lição? Leia tudo. Pergunte tudo. Esclareça tudo. Não fique com dúvidas, receios, medos. São leis, direitos e deveres que devem ser cumpridos por todos! Foi um basta ao machismo do Senhor X e um grito por minhas prerrogativas!
Precisando de auxílio, não hesite em me contatar. Estou disponível a ajudar e a, inclusive, indicar a maravilhosa advogada que trabalhou tão bem no meu caso. Não vamos nos calar.
Bora se mudar?
14 Comments
Parabéns pelo texto. Apenas uma sugestão e uma crítica construtiva. Quem mora ou morou de aluguel em alguma fase da vida, não vê novidade do seu post. Claro, se tratando de morar no exterior a estória muda, legislação, língua etc. Pelo seu post, aparentemente todos conseguem alugar um imóvel em Malta. Acho que deveria esclarecer as condições no que se refere à estadia legal. Ser brasileiro, estar estudando, ter visto de estudante ou trabalho, ser cidadão europeu, etc etc. Certo? Seu caso por exemplo… “Já realizei 9 mudanças…” Quem lê pela primeira vez como eu, imagina: pessoa com cidadania europeia vivendo na Europa. Para os leigos ou viajantes de primeira mão soa fácil alugar um imóvel em Malta… Forte abraço….
Olá, Crocco! Muito obrigada pela colocação. Muito pertinente seu comentário. Concordo que essa informação está faltando no texto. Respondendo aqui rapidamente: sim, sou cidadã europeia e, realmente, é um fator que facilita para contratos a longo prazo. Irei acrescentar o que falta. Obrigada, novamente, pela sua observação! Tenha um ótimo dia. Abração!
No meu caso, a mensagem que seu texto passou foi diferente da do Crocco: houve novidade, pois estou procurando ler o máximo de experiências de quem mora/morou fora e precisa/precisou alugar um imóvel para quando chegar minha vez ir armada de todas as probabilidades possíveis. kkkkkkkk
Sobre o caso das 9 mudanças, soou mais lógico para mim uma vez que você menciona que “iria ficar somente 6 meses na Ilha e acabei por decidir esticar minha estadia em Malta sem ter prazo de volta” do que sinaliza que é fácil arranjar apartamento por aí. kkkkkkk
Mas enfim, só dando uma outra visão de como interpretei seu texto.
Abraços.
Muito obrigada pelo comentário, Lara. Compartilhar experiências é aprendizado, não?! Confesso que cansei de me mudar tantas vezes, mas faz parte e hoje estou muito feliz no apartamento em que moro. E, sim, encontrar apartamento aqui não é um caos, não. Claro que não é a coisa mais fácil do mundo, mas nós sempre damos um jeitinho de combinar direitinho custo-benefício.
Sim, venha – ou vá, depende de onde escolheu viver – preparada. Lidar com business men não é moleza hahaha. Boa sorte na sua jornada! Se vier para Malta, não hesite em me procurar. Aqui é lindo, relax e multi-cultural – majoritariamente no verão. Beijão!
Oi Isadora,
Achei seu post pois quero me mudar pra Malta. Também sou cidadã europeia, atualmente vivendo na Itália. Eu gostaria de tirar algumas dúvidas fora desse tema. Você se importa? Meu Instagram é @rambueno me deixa uma mensagem com sei contato? Pode ser o próprio Instagram, e-mail, telefone, o que preferir…
Olá Isadora, muito pertinente o teu post. Estou me programando para ir a Malta em julho de 2018, estou olhando os alugueis por temporada (salgados !), e a minha dúvida é se todos esses cuidados que você se refere no post, também valem para os aluguéis de curta duração.
Grande abraço
Mariano
Obrigada pelo seu comentário, Mariano. Sim, os cuidados valem tanto para aluguéis de curta e longa durações. É importante prestar atenção nesses detalhes para não ter problemas no final – como os que eu tive. Sempre melhor pecar por precaução, não é? Quaisquer outras dúvidas que você tiver, e se eu puder ajudar, sinta-se à vontade para entrar em contato comigo via qualquer meio. Beijos e boa sorte na tua futura nova jornada!
Oi , eu e meu marido estamos nos preparando para ir em novembro de 2018, tem alguma informação sobre como podemos ficar mais de 3 meses caso a gnt goste dai? é facil pedir o visto de estudade ou trabalho já estando ai? se souber vai me ajudar muito!! Parabéns pelo blog, foi de grande ajuda! ah e se puder, coloca o nome do grupo do facebook.
Oi, Clara. Tudo bem? Obrigada por seu comentário. Então, para se conseguir visto de estudante, é necessário estar matriculado em uma escola e comprovar, se não me engano, que você tem como se sustentar pelo período em que estiver no país, uma vez que visto de estudante não permite que você trabalhe. Já o visto de trabalho é aplicado pelo empregador. Ou seja, você, enquanto pessoa física, não pode solicitar visto de trabalho. É necessário haver uma empresa com a intenção de te contratar e, assim, ela verificará e realizará todo o procedimento necessário para você receber o visto de trabalho. O site JustLanded é confiável e, ali, você pode encontrar informações pertinentes a respeito do assunto. Dê uma olhada nas páginas https://www.justlanded.com/english/Malta/Malta-Guide/Visas-Permits/Student-Visas & https://www.justlanded.com/english/Malta/Malta-Guide/Visas-Permits/Work-visas-permits.
Em relação ao aluguel, confira abaixo uns grupos do Facebook:
– Rent an Apartment / Flat to Let / Share a Room in Malta
– Do you need a flat in Malta?
– Apartments Malta
– Malta Accommodation Rentals
– Malta Property: Sales & Rentals
– Accommodation Malta – Share, Rent, Buy – Apartment, Flat, House, Room
Deixo aqui, também, o grupo só para meninas que criei no Facebook assim que me mudei para a Ilha. Ali, trocamos informações e experiências a fim de facilitar a vida das mulheres Malta. Só procurar por Papo Calcinha em Malta.
Espero ter te ajudado e, qualquer coisa, me procure nas redes sociais (Facebook & Instagram) ou envie um e-mail para isamarcante@hotmail.com. Estou à disposição para ajudar no que eu puder. Beijos!
Oi, Isadora ! Pretendo ficar 2 meses em Malta estudando inglês. Vc acha que é confiável eu alugar um apto sem olhar, apenas vendo as fotos ? Fico com medo de chegar e não conseguir alugar algo, pois irei agora em Maio/18.
Obrigada !
Ahhhh… esqueci de falar: quero ficar em St Julian´s
Olá! Li agora! Quero passar 4 semanas ai num curso de intercâmbio. Mas gostaria de ter um lugar certo para ficar mais cômodo para nós. Somos em três: eu, meu marido e minha menina de 13 anos que fará as aulas. Como vc mora no local pode me dar umas dicas de escolas de intercâmbio e lugar pra ficarmos que seja msis acessível?! Obrigada! Roseles.
Olá Roseles,
A Isadora Marcante parou de colaborar conosco e, infelizmente, não temos outra colunista morando no país.
Obrigada,
Edição BPM
Ótimo texto Isadora, estou pensado em fazer um intercâmbio em Malta e como vou com um amigo acho que vou optar por alugar um apartamento! sua dica ajudou bastante no esclarecimento de duvidas!!