Amsterdã e Paris com a família.
Essa viagem aconteceu no final de 2014, quando minha família foi passar as festas de fim de ano em Amsterdã e Paris. Eu, minha mãe e minha irmã saímos do Rio um pouco antes do Natal para encontrar meu pai em Amsterdã. Ele estava trabalhando em Den Helder, uma cidade no norte da Holanda com rajadas de vento de 80km/hora.
O voo do Rio para Amsterdã foi horrível, um calor insuportável no avião, misturado com a gastura dos efeitos de Dramin e a ansiedade de conhecer um lugar novo. A imigração foi tranquila. Apenas informei que iríamos passar o fim de ano na cidade e o agente nos liberou sem muitas perguntas.
Antes de nos encontrar, meu pai tinha alugado um carro para ficar mais fácil de se locomover até o local de trabalho. Mas depois que chegamos em Amsterdã, ajudei no planejamento da viagem.
Primeiro, pegamos um metrô do aeroporto até o hostel. Sim, nós ficamos em um hostel. Toda a família. Também foi ideia minha e a família adorou! No início estavam com medo, pois nunca tinham ficado em um “hotel” deste tipo. Hostels não são apenas opções de hospedagem mais acessíveis, mas eles tornam a viagem mais dinâmica. Ficamos em um quarto com uma beliche e uma cama de casal. Tomamos café da manhã com outros hóspedes e no Natal ainda fizemos uma ceia. No meio da viagem, um dos meus melhores amigos se juntou a nossa família, pois estava fazendo um intercâmbio na Holanda.
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Foi uma das melhores viagens da minha vida. Ficamos cerca de quinze dias na Europa, em Amsterdã e Paris. Geralmente viajo sozinha ou com amigos. Viagens com a família toda geralmente são para a Região dos Lagos, que é no quintal de casa. Ou quando a família vem me visitar nos EUA. Mas viajar com a família para longe necessita de uma logística maior. Foi a primeira vez que ficamos em hostel e dependendo de transporte público.
Em Amsterdã, o hostel ficava bem perto de uma estação de trem e de ônibus. Ficávamos na rua até tarde, a família toda. E quando eu e minha irmã saíamos com nosso amigo, pegávamos o ônibus corujão.
O mais difícil no inverno de Amsterdã era o vento forte, a chuvinha congelante, e esperar o sol nascer às 10 da manhã para morrer às 4 da tarde. Mas o mais legal era andar pelas ruas lindas, limpas, e com uma arquitetura peculiar. Os canais são uma paisagem perfeita para qualquer foto. Os museus de Van Gogh e da Anne Frank são experiências únicas e tocantes. Os parques são aconchegantes e cheio de ciclistas. O quiosque de batata com maionese é a melhor larica da madrugada.
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Depois de passar o Natal em Amsterdã, pegamos um trem para Paris. Compramos as passagens com antecedência, fomos de primeira classe. Era a primeira vez que eu andava em um trem “tipo de filme”. No caminho de Amsterdã para Paris, o trem cruzou a Bélgica. As ruas estavam cobertas de neve, constituindo um belo cenário na janela do trem.
Ao chegar em Paris, o cenário foi um pouco mais estressante. Sugeri que minha família pegasse o metrô até o hotel. Não era horário de pico, mas era de noitinha e o trem não estava muito vazio. Passamos um pouco de perrengue com todas as malas e a caminhada ladeira acima (cerca de 10 minutos) até o hotel. Por sorte, deixamos algumas malas no hostel de Amsterdã, já que iríamos voltar para lá depois.
Em Paris, ficamos em um hotel bom, pois meus pais queriam curtir uma lua de mel em um quarto separado. O café da manhã era maravilhoso! Comi muitos queijos, pães, e sobremesas. O hotel tinha um bar com ótimos drinks e organizava eventos para os hóspedes, como a ceia de reveillón que participamos. Também tinha um piano no hall de entrada, onde fiquei tocando e sendo cantada pelo garçom do salão. Passamos a virada no hotel, com uma vista dos fogos na Torre Eiffel.
Ficamos cinco dias em Paris e andamos a cidade inteira. Meu pai no último dia já estava meio doente de tanto tomar vento no rosto no passeio de barco pelo Rio Sena, e nem subiu no Sacré-Cœur. Minha irmã também já estava cansada de tanto andar na Champs-Élysées e passou o dia no hotel tomando um banho de banheira. Só minha mãe que subiu comigo no lugar mais lindo de Paris. O Sacré-Cœur (Basílica do Sagrado-Coração) fica no maravilhoso bairro de Montmartre, com pequenos restaurantes, ruelas, becos, baixa iluminação, e um clima bem boêmio e romântico. Se eu voltar a Paris com um joelho bom e um namorado gostoso eu quero ficar a maior parte do tempo nesse bairro, que transmite arte, cultura, e história.
Outra coisa que gostei em Paris é que não foi difícil de se comunicar, mesmo sem saber francês. Em Amsterdã todo mundo fala inglês. Na rua, a maioria das pessoas conversa em holandês, mas ao pedir qualquer informação, em lojas, restaurantes, cardápios, tudo está em inglês (ou tem a tradução para o inglês). Mas em Paris, as pessoas realmente evitam falar inglês. Eu falei bastante em espanhol. No hotel e em alguns restaurantes os funcionários falavam português muito bem.
Viajar em família é sempre bom, apesar das brigas até todo mundo sair junto, escolher um lugar para comer, e decidir os passeios. Mas é uma boa troca de experiências. O que mais gostei foi construir ótimas lembranças com meus pais, principalmente no dia em que fomos no NEMO, um museu de ciência que foi diversão para toda família. Lá em casa todo mundo é meio nerd, curtimos muito o passeio, e saímos cheios de assuntos para conversar.
Nesta viagem, meu pai adorou a conexão que a família teve por estar fora de casa e fora da “zona de conforto”. A preocupação que tínhamos em garantir um bem estar coletivo e até se conhecer melhor durante atividades para sair da rotina. Minha mãe se impressionou com a organização da cidade e o estilo de arquitetura. Também adorou os museus, principalmente o da Anne Frank. Ficamos mais de três horas no frio e na chuva esperando para entrar na casa onde Anne Frank se escondeu e revivemos todas as emoções vividas por ela na Segunda Guerra Mundial. Minha irmã tinha apenas 18 anos na época e também amou os museus, a exposição à arte e à cultura. Ela também se sentiu muito segura ao andar pela rua de madrugada, coisa que infelizmente não temos muito no Brasil.
Eu gosto de viajar sem criar muitas expectativas. Pois as viagens, principalmente acompanhadas de pessoas queridas sempre surpreendem e trazem boas lembranças. Assim que chegamos no Brasil, ocorreu o atentado terrorista em Paris no jornal Charlie Hedbo. Ao chegarmos, tivemos um momento de reflexão em família, onde valorizamos mais ainda a nossa vida. Vivemos em um mundo que não temos controle sobre outras pessoas e a vida é uma coisa efêmera. Temos que aproveitar cada dia, especialmente perto daqueles que amamos.