Morar em outro país é uma experiência incrível em todos os aspectos. O fato de conhecer a língua, a cultura local e se deparar com os novos desafios trazem conhecimento e aprendizado. Você cresce e amadurece. O que não significa dizer que tudo será perfeito como num conto de fadas, mas é exatamente dos altos e baixos que se podem tirar muitas lições para a vida. E nesse cenário a adaptação é uma delas.
Dentre os vários significados que a palavra possui um deles é “integração de uma pessoa ao ambiente onde se encontra”. Tudo muito bonito e de fácil compreensão. Porém, quando a adaptação salta do dicionário para a vida real nem sempre parece tão simples assim.
Mudar de escola, trabalho ou profissão é uma adaptação. Mudar de bairro, cidade ou estado também é. Agora, imagine quando tudo isso é feito para outro país, com comportamento e idioma tão diferentes.
Quando surgiu a proposta da mudança para a Suécia foi uma mistura de sentimentos. Felicidade e apreensão. Era a possibilidade de realizar um sonho, mas ao mesmo tempo gerava certa insegurança em ter de recomeçar.
Mesmo lendo e tentando absorver as informações sobre o país, eu não sabia realmente o que me esperava. Após um turbilhão de emoções entre pré-viagem e mudança acabei adoecendo. Uma completa indisposição que parecia não ter fim. Me sentia triste e solitária. Eu que sempre tive uma vida agitada em São Paulo e não tinha tempo para as redes sociais, me via naquele momento comentando o status de todos. Estava longe da família e dos amigos e essa era a forma que eu me sentia próxima a eles. Mas ainda faltava alguma coisa.
O interesse pelo novo não havia sido despertado. Não havia motivação nem mesmo para sair de casa. Me perdia entre pensamentos e com a dúvida de que “o que estou fazendo aqui?”. Meu corpo estava ali, mas a cabeça e o pulsar do meu coração estavam no Brasil.
Não importava se estava rodeada pela natureza e pela paisagem vibrante do verão sueco, tudo parecia tão irreal. Perfeito demais eu diria. Como chamar esse novo país de “minha casa”? Impossível! A Suécia não era minha casa. Afinal, onde estava o afago dos amigos e o aconchego do meu lar? O alvoroço da família? A loucura profissional? E a rotina, aquela que me deixava estressada e que eu reclamava? Pois é, tudo estava à milhas de distância. Será que o sonho realizado estava para se tornar um pesadelo? Afinal, eu havia conseguido o que queria e mesmo assim me sentia infeliz.
Foi quando caiu a ficha de que mudar de país não é fácil. Não existe manual de instruções para lidar com as adversidades e com o que nos assusta. Percebi que “a vida continua e se entregar é uma bobagem” como diria Renato Russo. E para que esse sonho não virasse o tal pesadelo dependia exclusivamente de uma pessoa. Eu! De repente algo aconteceu dentro de mim. Me deixei permitir e decidi encarar tudo de uma forma divertida e bem-humorada. Ah, e quando isso aconteceu a vida mudou. Conheci pessoas interessantes, cidades bonitas, vivi situações engraçadas e enfrentei os desafios como gente grande numa terra desconhecida.
Aprendi e continuo aprendendo todos os dias. Assim como eu, outros brasileiros espalhados por aí têm suas histórias, experiências e desafios, os quais são únicos e insubstituíveis. E eu sou apenas mais uma nesse mundo afora.
Saudades? Sim, essa danada da saudade. Ela aperta e dói no peito. Deixa o coração pequenininho e solitário. E só consegue ser amenizada, graças aos avanços da tecnologia. Mesmo a milhas de distância, parece que tudo é tão perto, não é mesmo.
E a felicidade? Ela faz parte da minha rotina e está presente em tudo que vejo, toco, ouço e sinto. Me descobri e ainda continuo me descobrindo. Será que após esses três anos de Suécia eu sou uma pessoa melhor? Afinal, o que é ser uma pessoa melhor? Bom, eu ainda não sei a resposta, mas de uma coisa eu tenho certeza, algo mudou em mim e permitir em me reinventar é só o começo.
18 Comments
Que ótimo relato Vânia, me sinto mais forte lendo isso, porque também passo por essa mesma situação.
Realmente não e´nada fácil recomeçar uma vida longe de nossas raízes, mas, como tudo nessa vida que nos engrandece e nos faz crescer tem uma certa dificuldade, então que aproveitemos cada instante desse nosso momento que a vida nos ofereceu para conhecer coisas novas, belas e transformar tudo em felicidade. Vivo no Chile a um ano e ainda tentando me acostumar. Um grande abraço e tudo de bom para você!
Olá Elli!
Toda mudança mexe bastante com a gente, principalmente quando temos de sair da nossa zona de conforto, não é mesmo? Minha mudança para a Suécia não foi fácil, principalmente no primeiro ano. Mas resolvi deixar de ‘mimimi’, levantei a cabeça e segui em frente para aproveitar a oportunidade que me foi dada. O que eu posso dizer é que seu sucesso depende de você. Se sinta forte e acima de tudo acredite. Acredite em você e nos seus objetivos em você, pois o céu é o limite para quem sonha. 😉
Um super beijo e sucesso pra ti.
muito legal seu comentário ,muito bem editado,transparente e sincero,poxa bacana,o titúlo é show .
Obrigada Simone pelo carinho e saiba que fico muito feliz que tenha gostado, até porque escrevi com o coração. 😉
Um super beijo.
Parabéns Vania!! Você sempre arrasando nos seus textos. Quem vive essa aventura deliciosa e saudosa de viver fora do Brasil, sabe entender perfeitamente cada palavra do seu texto. Bjs Thaísa Carneiro (Zürich-Suiça)
Thaísa, muito obrigada. Não tenho palavras para agradecer esse carinho que vocês leitoras queridas tem comigo. Tudo isso que vivemos no exterior é uma bagagem e tanto que levaremos para toda a vida.
Mega beijo pra ti.
Adaptar-se é sobreviver. É difícil mas vem com o pacote… Quando a gente acha um equilíbrio as coisas ficam um pouco menos difícil, né???
Olá Joy!
E como, viu? Você disse tudo em apenas uma única palavra: EQUILÍBRIO. Achar o tal equilíbrio pode levar tempo, mas depois que a gente acha ninguém nos segura. A vida vai entrando nos eixos, a gente começa a se encontrar e a desfrutar das boas oportunidades que aparecem em nosso caminho. Apesar de ter demorado um pouquinho pra mim, tenho consciência de que eu precisava passar pelas dificuldades também. 🙂
Um super beijo.
Ola Vania! Ja estou em Gote ha 3 dias.Ainda conhecendo,acostumando com a lingua o clima, que para mim, esta sendo uma surpresa.Muito calor! A cidade ate onde vi, e linda mesmo,Vamos ver como vai ser.Agradeco mais uma vez pelo carinho do retorno do email e vamos manter contato
. Beijo
Olá Sheila!
Wow, que delícia saber que você chegou a Gotemubrgo e que está aproveitando tudo por aí. Esse ano o verão está surpreendendo a Suécia novamente, então nada de ficar em casa, hein, até porque ele dará as caras novamente só no ano que vem rs.
E saiba que foi um prazer responder a sua mensagem. Precisando de qualquer ajuda é só me avisar.
Beijos e boa sorte nessa nova fase. 😉
Oi Vania,
Te entendo porque sei exatamente do que está falando. Eu, inclusive, quando mudei para os EUA odiei. Sabe, muitas vezes deu vontade de fazer as malas e correr para o aeroporto, mas nem tudo é tão fácil quanto parece. Na verdade, especialistas dizem que é um sentimento natural e aqui tem até nome para isso: homesick. Quando alguém me pede para traduzir o termo, digo que é um sentimento muito ruim e sem explicação…rs… porém uma coisa eu tenho certeza, isso passa 🙂
Beijos
Ai Cleo as coisas são tão complicadinhas no início da nossa mudança, né?
Muita gente acha que tudo são flores, mas só quem passa por essa experiência sabe o quanto não é.
E foi como você disse… com o tempo isso passa. Ainda bem, porque caso contrário estaríamos perdidas. 😀
Beijos.
Parabéns, Vânia!!!
Um texto muito interessante. sincero, claro! Alias, como todos que estão por aqui! Eu também vivia em SP e precisei também sair e passar por mudanças drásticas… mas no final somos nós que determinamos até onde isso nos afetara e o que podemos fazer para revertermos os efeitos da mudança! Ainda não sai do Brasil, mas estou planejando e os relatos de vocês estão ajudando e muitttooooo!!! Parabéns, excelente texto, sucessssooo sempre!!!
Um grande abraço!!!
Olá Be!
Eu acho que toda mudança é boa. A questão é que sair da zona de conforto dá trabalho, né? E nem sempre estamos preparados para abrir mão de algumas coisas. Mas se queremos alcançar nossos objetivos, isso se faz necessário. Sem dizer que com o tempo a gente aprende também, principalmente quando a idade começa a bater rapidamente a nossa porta. 🙂
Muito obrigada pelo carinho e por estar aqui no Brasileiras pelo Mundo nos prestigiando. Adoramos isso!!!
Sucesso para ti também.
Abraços.
Devo ser louca viu, pois não sinto saudades de nada, me adaptei muito bem a Irlanda e amo isso aqui, voltar pro Brasil, só pra ver minha família a cada 1 ano e meio, e só vou pq se não for ela reclama, mas acho que entendo a saudade, porém não sinto mesmo, tenho uma frase na minha cabeça, qdo vc é amada, bem tratada, útil e querida no lugar que vive, a felicidade é uma consequência.
Oi Mary Jane! Chique, o seu nome, não? 🙂
Você não é louca, de maneira alguma. Esse relato foi baseado no primeiro ano de Suécia e confesso que não foi fácil. Claro que sinto saudades do Brasil, mas sinto saudades das coisas boas, das coisas que mexem comigo e que fazem lembrar a razão de ser brasileira. Porém, hoje posso dizer que também estou bem onde estou. E super concordo contigo quando “qdo vc é amada, bem tratada, útil e querida no lugar que vive, a felicidade é uma consequência”… ta aí uma frase que carregarei comigo também. Muito obrigada por compartilhar a sua opinião com a gente do Brasileiros pelo Mundo. Um grande beijo!
Obrigado Vânia pelas dicas você é uma ótima pessoa!
Estou aqui. Na Suécia cheguei tem duas semanas está sendo difícil mais creio que no começo nada é fácil mesmo , obrigado pelas dicas .
Olá Ronaldo!
Own, obrigada pelo carinho. 🙂
Todo início é difícil mesmo, mas não desanime. Lembre-se de que essa fase passará, basta você estar de mente e coração abertos. Se precisar de alguma coisa estou por aqui, tá?
Beijos.