A cada dia nós, mulheres, temos que lutar para ter igualdade e conquistar nosso espaço em todos os níveis sociais. As meninas da Índia já começam a lutar no ventre materno e depois que nascem, passam o resto da vida lutando dentro de uma cultura extremamente machista e patriarcal.
Nascer mulher em um país como a Índia já é uma grande vitória. De acordo com o Instituto de Pesquisa Médica de Chandigarh, todo ano, cerca de 500 mil abortos de fetos do sexo feminino são feitos e estima-se que, nos últimos 10 anos, mais de 10 milhões de mulheres foram eliminadas da Índia.
Quando você está andando nas ruas indianas você já parou para pensar por que você vê tantos homens? Onde estão as mulheres? Não é mera coincidência você andar pela Índia e ver aglomerações de homens; na verdade, as mulheres estão sendo eliminadas. E essa triste realidade não está afetando apenas a Índia e a China, mas também todo o leste Europeu.
Aqui na Índia após o nascimento de um menino é feita uma celebração, dependendo da região; são dias de festa. Todos ficam felizes, dançam; a esposa ganha presente, principalmente se for o primeiro filho. Pela tradição indiana, apenas o filho homem pode acender o fogo sagrado quando o pai morre. É o filho que vai perpetuar o nome da família, administrar os negócios, cuidar dos pais na velhice e herdar a fortuna. Quando nasce uma menina não tem festa, é uma decepção na forma como eles pensam, o que as tradições impõem. A menina é vista apenas como uma despesa, porque de acordo com a tradição, a família da menina terá que pagar o casamento e o dote – mesmo sendo proibido, a tradição manda: o dote é o valor pago em dinheiro e presentes para a família do noivo. Ao casar, a mulher passa a pertencer à família do marido. Então, para os indianos, ter uma filha não é um bom “negócio”.
Pense bem antes de casar com um indiano e ir morar com a família dele, porque muitos pressionam a esposa a ter um filho homem e infelizmente, quando isso não acontece, muitas mulheres são vítimas de discriminação, maus tratos e violência. Muitas mulheres acabam abandonadas por não terem dado à luz um filho homem. Por causa dessa tradição e desses costumes tão enraizados é que o infanticídio está deixando o número de homens e mulheres muito desproporcional a cada ano. Existem mais homens do que mulheres na Índia e em alguns estados indianos já é um grande problema arranjar casamentos e formar novas famílias.
O aborto é permitido na Índia em casos específicos como: a mulher é portadora de alguma doença séria e a gravidez pode colocar sua vida em risco; quando o feto corre o risco de nascer com anomalias físicas ou mentais; caso ela tenha gerado filhos com anomalias congênitas anteriormente, e outros casos específicos, porém apenas é permitido até as primeiras 12 semanas de gravidez. O sexo do feto só pode ser determinado por ultrassom após cerca de 14 semanas. Desde 1994, uma lei proíbe e criminaliza o aborto feito por identificação do sexo feminino, e é proibido no ultrassom o médico revelar o sexo do bebê, pois após as famílias descobrirem que é uma menina, elas fazem o aborto, cometendo um crime. Existem hoje na Índia 40 mil clínicas de ultrassom registradas e muitas mais sem registro, fora os anúncios de aborto que já são oferecidos ali, mesmo, no momento do exame de ultrassonografias, tudo ilegal. A suprema corte da Índia também proibiu os sites de busca de oferecerem nomes de laboratórios ou clínicas que ofereçam revelar o sexo do bebê.
Engana-se quem pensa que abortos só acontecem em famílias mais humildes. A classe média e pessoas com ótimas condições financeiras, a elite, são as que mais realizam, pois têm condições financeiras de pagar por tudo e o peso da tradição é maior, principalmente se já possuem uma menina na família. Já as famílias pobres não possuem dinheiro para realizar o aborto seguro e fazem clandestinamente; muitas vezes nem a mãe, nem o bebê sobrevivem. Outras tomam remédios, não se alimentam direito, e muitas crianças já nascem com sérios problemas de saúde, morrendo logo em seguida ao parto. Quando não realizam o exame de ultrassonografia porque não têm dinheiro, depois do nascimento, muitas mães matam as meninas no nascimento; elas são jogadas em poços, enterradas vivas, abandonadas à própria sorte. Existem ONGs e casas de abrigo que recebem esses bebês rejeitados pela família e ali a criança é cuidada na medida do possível. Ainda bem que existem esses abrigos, pois muitas não têm nem a oportunidade de nascer e sobreviver.
É muito triste a realidade da Índia e, mesmo com a lei não sendo cumprida, o governo tenta incentivar o nascimento de meninas com algumas ações, oferecendo às famílias de baixa renda o programa de Proteção da Menina, um fundo aberto no nome da criança onde se deposita dinheiro até ela completar 18 anos, quando pode ser usado para pagar pelo casamento ou pela educação universitária da menina.
Como todo projeto ou lei, esse também precisa de fiscalização, pois também pode ser burlado e as pessoas pensam que com dinheiro se pode tudo, até matar. Acima de tudo, somente uma educação eficaz pode transformar e salvar essas vidas. Caso as pessoas não tomem consciência e aprendam com seus erros, o país ficará sem leis e marcado para sempre.
A mulher gera vidas, ela é esposa, é mãe, irmã, amiga, é um ser humano que merece todo respeito e, assim como seus deuses, deve ser tratada como sagrada, pois ela é fonte da vida. Vamos todos lutar por nossas meninas. Elas são valiosas.
Namastê!
4 Comments
Nossa Joice!! Fiquei chocada com a realidade das meninas/mulheres indianas!
Oi Janine, sim é uma realidade muito triste. É difícil entender como costumes e tradições podem ser tão crueis e regem sim toda uma nação. Espero que mais e mais pessoas estejam conscientes e que unidos possamos salvar nossas meninas. Falando sobre o assunto, debatendo, gerando informação e cada um buscando fazer sua parte. #savethegirlchild
Obrigada pelo comentário, continue nos acompanhado. Namastê
Essa é uma realidade muito triste e você descreveu de uma forma muito verdadeira e profunda. Ótimo texto Joice.
Oi Brenda, muito obrigada pelo comentário. Ao fazer esse texto tive que controlar todas as minhas emoções. O que mostrei como dizem é apenas “a ponta do iceberg”. Mas sim, é uma realidade muito triste. Existe muitas pessoas já lutando por essa causa e espero que com o texto outras saibam que não apenas a India, mas o mundo precisa de ajuda, de amor, de atitude. Cada um fazendo a sua parte e que unidos possamos salvar nossas meninas. #savethegirlchild
Obrigada, continue nos acompanhado. Namastê