Barcelona é uma cidade segura?
Barcelona é a capital da comunidade autônoma da Catalunha e a segunda cidade mais populosa da Espanha, perdendo apenas para Madrid. Atualmente vivem aqui em torno de 1 milhão e 620 mil pessoas, de acordo com o censo de 2016. A área metropolitana ao redor da cidade tem, no entanto, 4,7 milhões de habitantes. Em relação ao turismo, Barcelona é uma das cidades mais visitadas do velho continente e do mundo. No ano passado a cidade recebeu 4,8 milhões de turistas! Estabelecido este cenário podemos nos perguntar: com um fluxo de pessoas tão grande, a cidade é segura?
Do meu ponto de vista existem três respostas diferentes para essa pergunta. E isso é justamente o que vou explicar no decorrer deste texto. Se fizermos uma comparação com as cidades brasileiras, principalmente com as grandes como Rio de Janeiro e São Paulo, posso te garantir que Barcelona te parecerá muito segura. E essa seria a minha primeira resposta. Quem mora nas metrópoles brasileiras já está acostumado com a falta de segurança no dia-a-dia: andar paranoico pela rua, não poder frequentar determinados lugares ou sair de casa a determinada hora da noite é, infelizmente, algo muito comum para a maioria das pessoas. Sendo assim, estar em qualquer outro lugar que seja um pouco menos violento já é lucro para a maioria dos brasileiros e já somos capazes de andar mais relaxados.
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É justamente aí que entra minha segunda resposta. Se você é turista em Barcelona: “¡Ojo!” (expressão espanhola para: “Cuidado!”). “Ser turista em Barcelona” te fará ser alvo de situações de furto. Infelizmente, o índice de furtos a turistas aqui é bastante elevado. É aconselhável que você preste bastante atenção aos seus pertences (principalmente celular e carteira) quando estiver nos transportes públicos, em atrações turísticas ou em lugares muito cheios. O pickpocketing aqui rola solto! Verdade seja dita. Mas acalme-se, pois este provavelmente é o nível mais elevado de violência que você poderá sofrer enquanto estiver por aqui: ter seus pertences furtados (sem se dar conta). Justamente porque a cidade é super bonita e tem muitas atrações, os turistas costumam andar distraídos e acabam sendo as maiores vítimas. Casos de assalto a mão armada, tiroteios ou seqüestros não são nada comuns por aqui.
Eu quase fui vítima de um furto quando levava uma amiga brasileira, que estava de visita, para conhecer o Parc Güell. Estávamos muito distraídas e conversando em português quando percebi um casal caminhando muito próximo de mim. Imediatamente reparei que metade do zíper da minha bolsa já estava aberto. Por pouco a mulher não conseguiu pegar a minha carteira sem que eu me desse conta. Não relatei o caso à polícia, pois no fim das contas não tinha sido furtada. Minha dica é: fique esperto, ande atento, mas não se preocupe que a chance de te acontecer algum outro tipo de violência física aqui em Barcelona é muito pequena.
Minha terceira resposta engloba o contexto de quem escolhe Barcelona para morar. Uma cidade com pouco mais de um milhão e meio de habitantes é uma cidade grande e cheia de vida, porém não é uma cidade caótica. É uma cidade com movimento, mas que consegue conservar um ritmo de vida ainda tranquilo, ao meu ver. Tenho que ressaltar que eu venho do Rio de Janeiro (o purgatório da beleza e do caos, como diz a canção) e que se você vem de uma cidade menor e mais tranquila talvez não tenha a mesma percepção que eu. Por aqui muitos estabelecimentos fecham durante um período da tarde (a famosa siesta) e grande parte do comércio não abre aos domingos. Só isso já torna a cidade mais tranquila. Existe respiro.
“Pivete” é uma palavra que não existe no vocabulário daqui. Não há crianças na rua. Nenhuma. Durante o dia estão todas nas escolas. Aliás, há sim várias crianças na rua, mas sempre com as professoras. É muito comum as turmas fazerem programação fora da escola (ir a museus, parques, centros culturais), desde os pequeninos até os maiores. Frequentemente vejo grupos de crianças muito pequenas (2, 3 anos) todos de mãos dadas andando pelas calçadas, atravessando as ruas (com o auxílio das professoras, é claro). Há algumas escolas que inclusive colocam as crianças dentro de um caixote acoplado a uma bicicleta e os professores saem pedalando com eles pela rua. Completamente diferente das escolas particulares do Rio, onde as crianças são deixadas e buscadas na porta pelos pais (ou motoristas) e ficam encarceradas o dia inteiro atrás de portões gradeados, vigias e seguranças.
Esses são apenas alguns dos exemplos que servem para demonstrar como, para mim, a cidade é segura para quem vive aqui. Poderia destacar ainda que a população de rua é pequena e que a polícia tem um salário digno; fatores também determinantes quando o tema é criminalidade.
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O que me levou a abordar o tema “segurança” foi o fato de eu ter recebido uma carta da prefeitura de Barcelona pedindo aos cidadãos para responder à pesquisa anual sobre “vitimização”, que busca justamente receber informações sobre os tipos de violência sofridos pelos moradores no último ano. As perguntas eram sobre o convívio na cidade e abordavam itens como: a relação entre vizinhos, a depredação/vandalismo de espaços e mobiliários públicos, furtos, assaltos, sequestros, violência sexual, nível de ruído nas ruas, confiança na polícia, etc. Nessa pesquisa pude relatar o caso do meu quase furto, detalhar o lugar e explicar exatamente como ocorreu. Apesar de não ter comunicado a polícia no dia, me sinto mais tranquila em ter tido a oportunidade de dividir o episódio com uma autoridade. Nunca havia recebido uma pesquisa desse gênero em outras cidades onde morei e isso fez eu me sentir valorizada como cidadã. Não sei ao certo qual são as ações que essa pesquisa anual gera, mas posso dizer que ter a chance de respondê-la é mais um motivo para que eu me sinta segura e acolhida aqui.