Brasileiros no Japão.
Desde que cheguei no Japão, esta é uma sensação que se faz presente todos os dias. Nunca tinha morado fora do Brasil antes, talvez seja igual em todo lugar do mundo: os brasileiros se unem.
Mais ainda, as nacionalidades se unem. Aqui, percebi que é comum os brasileiros de uma cidade se conhecerem e, de maneira geral, andarem juntos. Aliás, não só os brasileiros. Os filipinos, chineses, vietnamitas… geralmente, andam todos juntos, divididos pela nacionalidade. Não que as pessoas não se misturem, longe disso! Fiz amigos japoneses, filipinos e até um neozelandês, além dos brasileiros, mas tenho a sensação de que é mais fácil fazer amizade com outros estrangeiros do que com os próprios japoneses. Talvez pelo idioma, talvez pela cultura deles e talvez até pela empatia que um estrangeiro tem com o outro, do tipo: “Hey, também estou longe de casa, te entendo!”
De início, acho que todo brasileiro que se muda para outro país pensa em ficar longe dos seus conterrâneos, mas já vou avisando: é impossível! Primeiro porque tenho a sensação de que em todo lugar que eu vou, tem alguém do Brasil. Já tinha ouvido falar nisso, mas não botava fé. É verdade, tem brasileiro em tudo quanto é canto.
Mas não vá achando que isso é ruim. Depois de pouco tempo, você percebe que é muito bom ter alguém com quem conversar em português. E que existe uma coisa mágica, e inexplicável, que só brasileiro tem.
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Tem a parte chata do complexo de vira-lata, sim. Uma mania estranha de falar mal do Brasil. Mas é unânime: as únicas pessoas que têm autorização para falar mal de lá, somos nós que de lá viemos, porque todo brasileiro torce o nariz quando vê alguém difamando a nossa terra. E isso enche o peito de alegria, porque você percebe que tem muitos motivos para amar e sentir saudades do Brasil.
Além, é claro, de brazuca ter esse nosso jeito de abraçar se der vontade, de cumprimentar calorosamente, falar alto, rir alto (e rir muito), gesticular, fazer amigos. Aqui, percebi que dá para identificar um grupo de brasileiros de longe, pela quantidade de gente falando ao mesmo tempo e pelo volume da voz de cada um. Me parecia tão normal isso, antes de vir ao Japão! Mas esse jeito é só nosso mesmo.
Sem contar que, pelo menos com os brasileiros que conheci até agora, o pessoal se esforça para agir conforme a cultura do Japão, que é repleta de educação e segurança. Tenho a impressão que aqui os brasileiros se respeitam mais também por estarem inseridos em uma cultura diferente.
Mais do que isso, sinto que as amizades aqui são diferentes. Mesmo entre os brasileiros, tem pessoas aqui que, provavelmente, se eu tivesse conhecido no Brasil, não teria muito o que conversar por termos histórias e vivências completamente diferentes. Por termos outros gostos ou até mesmo sermos de outra “tribo”, por assim dizer.
Acontece que quando se mora no exterior, você automaticamente entra para a “tribo dos estrangeiros”. Ou, indo mais a fundo, para a “tribo dos brasileiros”. Essa tribo vira mais ou menos a família de cada um de nós, de uma forma única. Não é obrigação de ninguém, mas todo mundo se ajuda, mesmo que não tenha muita intimidade. Mas se tiver, melhor ainda! Eu e meu marido já temos mães, irmãos, tias… tão queridos quanto nossa própria família mesmo!
É uma troca muito rica. Confesso que é preciso ter a mente aberta, às vezes, porque as pessoas podem ser muito diferentes de você. Nem sempre é fácil entender as opiniões ou atitudes de uma pessoa, ainda mais quando talvez as únicas coisas que você tenha em comum com ela sejam: ser brasileiro e morar no Japão. É desafiador e envolve muito respeito e jogo de cintura, mas é uma delícia! A parte boa é que o seu ponto de vista sobre as coisas e as pessoas começa a mudar, porque você acaba ouvindo e vivendo novas histórias. De tanto conviver com pessoas diferentes, você muda a si mesmo (e acaba se conhecendo mais ainda).
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É diferente de ter alguém que você conheceu na faculdade, no trabalho, por outro amigo, ou com qualquer outro elo que demonstre interesses em comum. Aqui, a aproximação acontece por conta da nacionalidade, e os laços se criam justamente com a troca de vivências.
“Na minha família”, “na minha cidade”, “quando eu dava aula”, “estudava”, “atendia”, “escrevia”, “editava”, “consertava”… Por incrível que pareça, o fato de ser estrangeiro faz com que a gente conheça pessoas e histórias completamente diferentes do resto do mundo. Histórias que não conheceríamos nem se rodássemos o Brasil inteiro. E o fato de ser brasileiro faz com que tenhamos uma tribo que, literalmente, fala a mesma língua, se entende e aprende a se amar.
1 Comment
Oi Ju
Até arrepiou só de pensar nisso tudo… ficar longe da família e amigos… não deve ser fácil…
Mas em contrapartida, isso tudo que relata sobre a união dos brasileiros é muito gostoso de saber, sem egocentrismo e com todo respeito, nosso povo é f@d@…
Sair do País dá uma sensação de medo, medo de ficar perdido, medo de se expressar (por melhor que sejam suas mímicas e o pouco inglês falado), medo de ser mal interpretado, medo de infringir alguma lei… e por aí vai… Mas viajar é muito bom, conhecer lugares e curtir ainda mais quando estamos com pessoas queridas ou muito queridas…
Não sei se teria coragem de viver em outro País, por trabalho ou qualquer outra coisa… por isso admiro tanto quem vive, pela força, pelo foco e pelos frutos.
Que você e todos os outros que vivem por aí ou em qualquer outro lugar do planeta, tenham paciência, persistência e perseverança.
Fui…