Muito se fala sobre o custo de vida no Japão juntar dinheiro. Inclusive tem bastante brasileiro que vem para cá com a intenção de melhorar de vida trabalhando nas fábricas japonesas: juntar dinheiro para mandar pro Brasil, sustentar a família, etc.
A verdade é que, sim, os salários nas fábricas são mesmo bons se considerarmos o custo de vida no Brasil. Dependendo da fábrica e do serviço, são altos até para os japoneses. Geralmente, um funcionário de loja de conveniência ganha menos por hora do que um funcionário de fábrica, por exemplo.
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Porém, não é como antigamente. Antes da crise de 2008, era muito mais fácil ganhar dinheiro e guardar ou mandar para o Brasil. Hoje em dia, o Japão tem um dos custos de vida mais altos do mundo. Então, mesmo que se ganhe bem, apesar de ainda ser possível guardar dinheiro (dependendo do emprego e do seu estilo de vida, é claro!), viver no Japão consome boa parte do salário.
Eu vivo na periferia de Yokohama, bem próxima a Tóquio, e posso falar com base nos meus gastos. É claro que se você morar em cidades do interior (onde já morei também), os custos variam.
Para ter como base, eu moro apenas com o meu marido, não tenho filhos. Nós dois trabalhamos. O salário médio do Japão para um trabalho de escritório, por exemplo, é de 240 mil ienes por mês (cerca de 8.200 reais na cotação atual).
Quando morávamos em Kisarazu, uma cidade pequena no interior de Chiba, ganhávamos menos que isso, e pagávamos 50 mil ienes de aluguel. Como trabalhávamos fora, nossas despesas com água, luz e gás eram de mais ou menos 10 mil ienes. Nessa época, normalmente cozinhávamos em casa, então nossas despesas com comida ficavam próximas a 30 mil ienes por mês. Com celular e internet, mais uns 10 mil ienes. Quanto à saúde, se você tem boa saúde e menos de 40 anos, pode considerar 10% do seu salário destinado a seguro saúde e previdência social. E não seja enganado por empreiteiras picaretas: o seguro é obrigatório e se você não paga por um período, terá que pagar retroativo depois!
Nessa época, nós juntamos um dinheiro para o Brasil e uma parte foi destinada a viajar: fomos conhecer outra região do Japão e fomos ao Brasil visitar. Nós não somos muito de balada, então nosso lazer era mais passear em Tóquio, ir ao cinema, ir ao barzinho… não gastávamos tanto assim com lazer. Porém, também não temos veículo próprio, e o transporte público japonês é caro. Daria para considerar uns 30 mil por mês de lazer.
Depois, nos mudamos para Yokohama. Apesar de termos trocado de trabalho e nosso salário ter aumentado, nossos gastos aumentaram também. Aqui, tivemos a boa sorte de encontrar um bom apartamento por 70 mil ienes, apesar da média da região ser bem mais alta! Não trabalhamos no mesmo lugar e nossas rotinas são diferentes, o que faz com que não tenhamos tanto tempo para cozinhar quanto gostaríamos. As despesas de alimentação aumentaram consideravelmente: hoje destinamos quase 50 mil ienes para isso. Quanto às outras despesas (água, luz, gás, internet…) são mais ou menos a mesma coisa.
É preciso considerar também o estilo de vida, como disse acima. Tem muita gente que vem ao Japão apenas com a intenção de juntar dinheiro. Nesse caso, se você tirar os gastos com lazer, viagens, passeios, compras e até reduzir os gastos com alimentação e moradia, é possível guardar mais dinheiro em menos tempo. Porém, eu particularmente acho que não vale a pena cortar todos os seus gastos com lazer. Primeiro porque o Japão é um país lindíssimo que merece ser desbravado, e não há experiências ruins para se tirar disso. Segundo porque a rotina japonesa é bem puxada e muitas vezes os trabalhos são pesados. Se você não tiver um escape para relaxar, sair um pouco da rotina de casa-trabalho, trabalho-casa, é possível que acabe ficando deprimido. Aí, na minha opinião, não compensa todo o esforço. Estamos na vida para sermos felizes, afinal. Aproveitar a viagem, não é mesmo?
Para se ter uma base, vamos analisar algumas médias de custos no Japão. Se você for comer em restaurante, a média de um combinado no estilo “prato feito brasileiro” (aqui, geralmente a sopa de missô, o prato escolhido com arroz e uma salada) sai em torno de 600 a 700 ienes – entre 20 e 25 reais na cotação atual.
Um café expresso em loja de conveniência, por exemplo, vai custar em torno de 200 ienes (cerca de 6 reais na cotação atual). O transporte público depende do quão longe você vai, mas na região de Tóquio o mínimo que você vai pagar por uma passagem de trem é 130 ienes (em torno de 4 reais na cotação atual).
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Quanto aos impostos, prepare-se: os impostos sobre produtos são de 8%. Há o imposto de renda, que se você for assalariado, já é descontado do seu salário automaticamente; o imposto residencial (geralmente 10% do rendimento do ano anterior); imposto sobre veículos (se tiver); seguro nacional de saúde (que não significa que você não paga atendimento médico! As consultas só barateiam um pouco.), previdência social… Portanto, fica a dica: se vai morar no Japão, aproveite o primeiro ano para guardar dinheiro para ser descontado de imposto no ano seguinte e não ficar tão apertado. São caríssimos e obrigatórios.
E aí? Você acha que o Japão vale a pena, apesar do custo de vida altíssimo?