Ser migrante é, pra mim, uma experiência muito interessante. Nem sempre a vida é fácil longe do nosso país. Mesmo não estando satisfeito com tudo que se passa a nossa volta no Brasil, temos uma certa familiaridade com o lugar onde nascemos e estar longe disso, num lugar que tem seus jeitinhos de nos mostrar que é diferente daquilo a qual estamos habituados pode, às vezes, ser bem cansativo.
Nesses meus quatro anos e meio em Bruxelas eu vivi e vi bastante coisa, muitas delas com as quais eu somente sonhava quando estava no Brasil, outras eu nem sequer sabia serem possíveis!
A vida na capital Européia pode, de certa forma, ser dividia em uma conjunção de pequenos mundos. Você encontra um pouco de tudo. Pessoas de diferentes lugares, com diferentes histórias e hábitos se chocam pela cidade.
Isso não quer dizer que tudo seja realmente uma grande democracia cultural, onde todos se dão bem com todos e vivem juntos em linda harmonia e felicidade. Tem muito conflito, muitos problemas, muita divisão implícita – sendo até bem explícita geograficamente em alguns casos, com algumas comunidades migrantes se concentrando em pequenos guetos específicos.
Porém minha ideia aqui hoje não é falar dos inúmeros problemas que Bruxelas pode ter, mas sim das oportunidades que ela também pode nos dar.
Acho que viver por aqui e ignorar totalmente “o outro” é impossível. Dá sim pra ficar quase alheio a esses mundos diferentes, se fechar no seu e até ser feliz assim. Ou dá pra aproveitar um pouquinho de tudo que esses mundos tiverem a oferecer.
Foi em Bruxelas que descobri a culinária indiana, marroquina, etiopiana, vietnamita, congolesa e pasmem, até a Belga! Aqui que partilhei meu primeiro jantar coletivo feito depois de um dia de ramadã, onde vi shows de músicos afegãos
dentro de uma igreja, de música senegalesa no consulado do Brasil, de declamação de poesia concretista brasileira num prédio histórico belga.
Descobri que cream chese no sushi é pecado, mas as vezes dá saudades, que batata frita se come com maionese, que cerveja depois do vinho pode, mas nunca o vinho depois da cerveja, que existem Siks no Afeganistão, que existem mulheres de luta e muito corajosas usando hijabs (os véus mulçumanos) porque querem, que o romeno não é assim tão diferente do português, que cabelo brasileiro é supervalorizado no mercado de apliques para as mulheres da África Central, que os turcos comem requeijão, os bolivianos, pão de queijo e os paquistaneses, pastel. Mas recheiam com batata, curry e ervilha, ou seja não é nada igual ao pastel apesar de parecer (não se enganem pela aparência, mas é gostoso mesmo assim).
Isso sem falar nos passeios às feiras de rua, que muitas vezes tem barraquinhas de inúmeros países diferentes!
Também existem muitas lojas de produtos específicos de um país ou região, abrindo um pouquinho as portas para essa cultura.
Eu descobri também que mudar a cidade e a nossa maneira de viver nela é possível. Dá para consumir menos, doar o que a gente tem e já não quer, trocar o que não usamos por algo que precisamos.
Dá para fazer horta coletiva na cidade, dá para usar bicicleta como meio de transporte. Comer mais alimentos orgânicos, reciclar o lixo e fazer compostagem no jardim.
Obviamente, nem todo mundo precisa vir a Bruxelas pra aprender isso tudo e nem tudo que falei é exclusivo da capital Européia. Porém, foi aqui, nessa conjunção de mundos que pude vivenciar tanta coisa diferente, pude comprovar mil esteriótipos e depois quebrá-los em mil pedacinhos. Pude aprender com quem é diferente, experimentar coisas novas e mudar meu olhar.
Foi nesse encontro de mundos que eu abri o meu mundo e sou muito grata a Bélgica e a Bruxelas por me possibilitar tantas trocas e descobertas.
6 Comments
Muito legal, moro aqui na Belgica e me sinto abençada, o povo sao hospitaleiro e muito gentis. Essa misturas de raças e culturas é sensacional, muito importante, ensina muita coisa. Temos uma visao do mundo diferente daquela que vimos na tv….
Oi Bia,
Adorei seu texto e estou rindo com suas citações e comparações. Comer batata frita com maionese e não ketchup me parece estranho, e essa regra sobre a cerveja e o vinho, apesar de estranha, faz sentido. Bem, acho que seria no mínimo intrigante morar em um país tão pequeno como a Bélgica e encontrar uma infinidade de coisas do mundo todo.
Muah!
Bia vc fez Das suas palavras a minha! Parabens pelo texto.
Olá Bia, se tudo der certo daqui um ano pretendo desembarcar ai, mas ainda tenho muitas dúvidas a respeito de burocracias e ensino superior. Você poderia enviar seu email para irmos conversando? Obrigada
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Amei esse texto! Parabéns! Em breve irei a Bruxelas e espero ver um pouquinho disso tudo!!