Maior festa de rua da Europa, o Carnaval de Londres, em Notting Hill, começou na década de 60 com a comunidade caribenha de Londres. Uma expressão de uma sociedade multicultural, todo mês de agosto, no fim de semana prolongado de feriado, as ruas do rico bairro de Notting Hill ganham por três dias muita cor, ritmo e música.
Em doze anos morando em Londres, estive no carnaval três vezes, e confesso que neste último senti ainda mais a importância de um evento como este. Estava com um amigo do Canadá, que visitava a cidade pela primeira vez e queria muito ir ao evento, apesar da chuva, resolvi acompanhá-lo. Nunca fui a um carnaval no Brasil, neste caso a minha comparação reflete muito do que eu conheço pela televisão, mas tenho certeza que apesar de não ser tão grandioso como o carnaval do Rio de Janeiro – sonho de consumo de muitos estrangeiros, a minha impressão é de ser mais comunidade, social do que o nosso.
No carnaval que desfila pelas ruas de Chepstow Road, Westbourne Grove e Ladbroke Grove coloca crianças, idosos, turistas, locais e todos os mais interessados em carnaval em um mesmo lugar.
Pouquíssimo é possível diferenciar o background social das pessoas, não tem camarote da Brahma e as pessoas que desfilam pelas ruas de uma das cidades mais importantes da Europa são pessoas normais. Vi poucas mulheres de biquinis de passista com “corpos perfeitos” e achei isso lindo. Não vi nenhuma celebridade com um histórico de várias cirurgias plásticas vendendo a imagem de como uma mulher deveria ser. Vi desfile que incluía pessoas em cadeiras de roda. Também vi policiais e outros seguranças chacoalhando o corpo, vi o estacionamento de uma igreja tocando música pop e convidando todos a participarem.
Estava chovendo. Um típico dia londrino, embora se espere dias melhores para o mês de agosto, era um dia feliz. O cheiro do milho-verde, banana frita e do frango no carnaval que vinham das barraquinhas contagiavam as ruas do código postal W10, assim como as de rum. Embora tinha outros tipos de alimento, os pratos caribenhos eram predominante, e a comunidade descendente de caribenhos se fazia presente. Uma Londres mais multicultural, uma Londres com cara de Salvador, uma Londres que poucos brasileiros conhecem.
Quando já estava me preparando para ir embora, avistamos o desfile de uma escola de samba brasileira, a Paraíso School of Samba. Ficamos. Estava bonito, organizado e inclusivo, era visível que alí tinha espaço para todos, mas os brasileiros eram os que cantavam mais alto, uma emoção que refletia uma mistura de saudade e de alegria. Uma energia gostosa para um dia de chuva.
Mas a festa não para. DJ’s se espalham pelas ruas de Notting Hill e uma mistura de estilos musicais criam um espaço em que todos podem fazer parte. Na verdade eu achei um pouco de poluição sonora, devido à música ser muito alta, levando em consideração que em um raio de aproximadamente 100 metros, você encontra outro tipo de música e por ai vai. Em uma só rua, encontrei quatro tipos de música. O mais importante é que as pessoas podiam mudar de ritmo conforme andavam-dançavam pelas ruas.
As estações de metrô mais próximas são Notting Hill, Holland Park and Ladbroke Grove. Áreas caras. Só pra se ter uma ideia, um apartamento de um quarto em Notting Hill sai por mais de 400 libras por semana. Talvez seja por isso que vi muitas propriedade privadas e comércio com uma proteção extra na porta; a maioria do comércio colocou madeira para proteger a vitrine.
O carnaval foi muito seguro nas três oportunidades que tive que conferir a festa, além de policiais para todos os lados, teve um momento que tinha tanto deles que eu e meu amigo brincamos que teria um desfile especialmente para a polícia. Bom, brincadeiras a parte, mas que apesar da segurança que eu senti, todo ano há casos de agregação durante o Carnaval, além de roubos, porte de drogas e isolados casos mais graves. Infelizmente alguns aproveitam a oportunidade para cometer crimes, mas neste ano a Polícia Metropolitana de Londres colocou por volta de 6 mil policiais para garantir a segurança dos foliões.
Embora divida opiniões, o Carnaval de Notting Hill faz parte da história da cidade, da comunidade caribenha e de todos as outras que chegaram antes, durante e depois, das pessoas que ainda chegam nesta cidade em busca de uma vida melhor, como registrou uma foto da Reuteurs durante o Carnaval em um faixa perto do metrô de Ladbroke Grove, “O Carnaval é feito de imigrantes”, assim como eu.
Foi bom ver música brasileira por lá. Foi bom ver o mundo se reunindo por lá. Com o guarda-chuva na mão poderíamos até fazer um pouco mais do Brasil com um improvisado Frevo.
Que o Notting Hill Carnival continue sendo inclusivo e que continue celebrando a multiculturalidade londrina por muitos e muitos anos.
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