Quando você decide morar fora de seu país natal, uma das grandes preocupações que se deveria ter é em relação à saúde. Quando conheci o sistema aqui no Chile, e depois de acompanhar de perto alguns casos de conhecidos que vieram para cá, sempre que posso aconselho a quem venha, mesmo que seja por poucos dias, que contrate um seguro de viagem. Porque, acredite, pode ser bem caro ficar doente por estes lados.
Mas vamos por partes. Há um “plano de saúde” do governo, chamado FONASA (Fondo Nacional de Salud). Dentro dele há diferentes categorias: A, B, C e D. Fonasa A é aquele que garante saúde gratuita em pronto-socorro, consultas, procedimentos e alguns medicamentos.
As pessoas que podem usufruir desse benefício do Estado, são: os carente de recursos, aqueles sem um trabalho formal, mulher grávida ou crianças até os seis anos de idade (Nota: As mulheres grávidas são conduzidas para ter um parto normal a menos que se apresente alguma condição que o impossibilite – mas falaremos disso mais profundamente em outro post).
Se a pessoa trabalha com contrato ou é autônomo, passa a fazer parte de alguma das demais categorias. A diferença é que os trabalhadores com contrato tem a sua afiliação feita automaticamente pelo empregador, que destina 7% do salário desse funcionário à saúde; no caso dos autônomos, eles podem decidir com quanto dinheiro vão contribuir, sendo que o mínimo deve ser 7% do valor do salário mínimo vigente.
Na categoria B, estão os trabalhadores cujo ingresso mínimo é menor ou igual ao salario mínimo ou acima de 306.600 pesos chilenos (aproximadamente R$1.200,00) com mais de 3 pessoas como carga familiar. Nesse caso, ainda podem receber assistência gratuita em consultórios de cada comuna (algo assim como bairro) e nos hospitais públicos, mas podem optar por atendimento em clínicas e hospitais particulares. Fonasa C é para aqueles que ganham um valor superior ao salario mínimo até (atualmente) os 306.600 pesos chilenos e têm menos de 3 cargas familiares. A categoria D corresponde à quem tem ingressos superiores aos 306.600 pesos chilenos. Em ambos casos, o beneficiário podem escolher entre ser atendidos na rede particular ou pública, só que devem pagar uma porcentagem do valor da consulta ou procedimento, enquanto a outra fica por conta do Fonasa. A diferença entre uma e outra é o valor final a ser pago: Fonasa D tem maior desconto que C.
Além dessas possibilidades, estão as Isapres (Instituciones de Salud Previsional) que são o mais similar aos nossos planos de saúde no Brasil, com a diferença que, mesmo pagando uma quantia considerável por mês, ainda deve-se desembolsar uma certa quantia a cada procedimento, consulta ou internação. Atualmente, não existe no Chile um plano de saúde que cubra 100%. A única forma de conseguir chegar à esse tipo de cobertura é pagando ainda mais por um seguro complementar que te restringe à atendimentos em uma clínica específica.
As Isapres têm diferentes planos (todos com alguma ressalva, as famosas “letras pequenas”) mas geralmente funciona da seguinte forma: você pode ir à consultórios, clínicas ou laboratórios que aceitem a sua isapre e paga um valor X para cada serviço, mas se você for àqueles dois ou três indicados em seu contrato, o valor a pagar será menor do que em outros estabelecimentos. A maioria das Isapres funcionam com o desconto online, onde basta você colocar o dedo índice em um leitor e pronto: o sistema indica o valor a pagar. Mas há procedimentos e aqueles dias famosos em que “o sistema cai” onde você deve pagar o valor integral do procedimento e solicitar o reembolso com a nota fiscal.
Ok, aí você me pergunta: e se eu sou turista e fico doente no Chile? O que acontece é que você vai a um pronto-socorro e paga pelo atendimento, insumos utilizados e medicamentos que forem administrados na saída. Para ser justa, já ouvi relatos de pessoas que dizem ter ido à hospitais públicos e não tiveram que pagar nada, mas a maioria das histórias que se conhece por estes lados não é bem assim. Obviamente indo à rede pública o gasto vai ser menor e, apesar da aparência decadente, a maioria dos hospitais públicos têm bons médicos e equipamentos, só que a espera pelo atendimento pode maior que na rede particular (que também colapsa, especialmente nos meses de inverno).
Já para você que está decidido a sair do Brasil e vir pra cá com a cara e a coragem, a recomendação é ir diretamente ao consultório da comuna onde você for morar e se inscrever por lá. Converse com a assistente social e explique seu caso, geralmente eles te aceitam com o visto em trâmite e você tem acesso à Fonasa A pelo tempo que espera o visto ser aceito e poder solicitar o RUN (Registro Unico Nacional, o “RG” chileno). Com o RUN em mãos fazem uma nova avaliação onde solicitarão que você passe a contribuir com os 7% do salário mínimo como trabalhador independente ou te manterão como Fonasa A por mais alguns meses, dependendo dos critérios nos quais você se encaixa.
Com tanto dinheiro que se desembolsa por cada consulta, passei a entender porque os chilenos sabem de cor e salteado o nome de tantos medicamentos e em que casos tomar, abusando da auto medicação. Mas ainda não caí nesse “costume”: prefiro ir nos especialistas mesmo tendo que pagar.
10 Comments
Amei o que foi escrito e dia 11 de setembro estou indo morar no chile, e o que mais me preocupa e a questão da saúde.
Elaine, que bom que você gostou do texto e sinta-se à vontade para ler outros posts sobre o Chile aqui no blog.
Espero que o Chile te acolha com os braços abertos!!
Oi Joy. Sou brasileira e vou me casar em janeiro com um cidadão chileno. Vamos morar em Santiago. Adorei seu post!
Beijo
Marilice, que bom que você gostou do post. Acho que você vai gostar do que escrevi sobre os casamentos “brachilenos”, vai lá dar uma olhadinha: https://brasileiraspelomundo.com/chile-casando-com-um-chileno-36114123
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Boa Noite;
Viajaremos, eu , esposa e duas filhas, a passeio para o chile, ficando parte dos dias em Santiago e outra parte na região dos lagos. Estou contratando seguro saúde e como não tenho nenhuma referencia dos preços dos serviços de saúde praticados ai, minha maior dificuldade está em definir o valor da cobertura para assistência médica a contratar.
Agradeço por toda ajuda que puder me dar.
Valmir
Olá Joy, obrigada por dividir suas experiências conosco. Dera que vice poderia me dar um conselho? Vamos lá. Não gostaria de morar no Chile, mas descobri recentemente que estou grávida, e como a situação no Brasil está crítica por causa do Zika vírus uma das possibilidades é que eu passe uns 2 ou 3 meses no Chile, que é um lugar mais seguro quanto ao mosquito que transmite a doença. O problema é que tenho hipotireoidismo e devo fazer acompanhamento a cada mês com um endocrinologista, no caso dois meses sem pré natal pode ser perigoso para mim. Você tem alguma informação sobre atendimento pré natal aí? Exames e tal? O que acha dessa idéia? Obrigada.
Olá, Sandra. Parabéns pela gravidez. Infelizmente, nesse caso, você teria que pagar todo o cuidado pré natal de forma particular, o que nao sairia muito barato. Nao creio que os seguros de saúde de viagem cubram esse tipo de cuidado, já que é preventivo, mas você teria que dar uma pesquisada. Como turista, você nao tem nenhum benefício nesse sentido, somente o teria se tivesse o visto temporário ou definitivo.
No seu caso é bom pesquisar muitíssimo antes de tomar essa decisao. Você pode procurar os valores nas clínicas e no site do FONASA.
Boa sorte.