Como falamos no post sobre saúde, vamos nos aprofundar um pouco no mundo dos partos no Chile. Para começar, vamos aos dados oficiais. A cifra indicada pela OMS (Organização Mundial de Saúde) é de que, no máximo, 15% dos partos terminem em cirurgia, seja por casos de emergência, seja por necessidades específicas da mãe ou do bebê.
Os países de terceiro mundo, em geral, estão bem longe dessa cifra. E no Chile a coisa não é muito diferente. Os dados de 2013 indicam que as cesáreas (tanto no setor público quanto no particular) chegaram à 49%. A maior quantidade de casos são em clínicas particulares, onde são realizados somente 20% dos partos mas onde a taxa de cesárea chega à 75%!
Mas como funcionam essas cifras na realidade das brasileiras que moram aqui em Santiago?
Para saber mais sobre o assunto, coletei o depoimento de algumas compatriotas para conhecer diferentes pontos de vista.
Cesárea de emergência no sistema público
Juliana teve seu primeiro filho na Venezuela através de uma cesárea de emergência e seu segundo bebê veio nascer em Santiago, no sistema público. Ela não fez o pré-Natal pois pensava que somente as mulheres que trabalhavam tinham acesso à saúde. Nesse momento, ela não tinha conhecimento da lei que dá a toda mulher grávida (legal ou indocumentada) o direito de ter acompanhamento médico até o final da gestação e esperou a bolsa romper, com 38 semanas, para ir ao Hospital.
Tudo corria para um parto normal, até que o bebê entrou em sofrimento fetal, sendo conduzida à uma cesárea de emergência novamente. Ela foi atendida através do sistema FONASA.
De acordo com seu depoimento, mesmo sem ter feito o pré-natal, ela ficou satisfeita com o atendimento que lhe foi dado e seu marido pôde acompanhar o nascimento do bebê.
Cesárea programada no sistema particular
Anelise é hipertensa e teve sua filha aos 42 anos em clínica particular. Por sua condição e por que queria fazer a ligadura das trompas, sempre optou por uma cesárea. Ela conta que manteve o mesmo médico desde o início do pré-natal e teve acompanhamento do cardiologista e de um urologista no fim da gestação por causa de uma retenção de líquidos.
A cirurgia foi realizada da forma que havia sido explicada e não houveram complicações. No entanto, na hora do pagamento tiveram uma surpresa porque o valor veio mais alto do que o estipulado inicialmente. Ao verificar com a Isapre, ficou sabendo que os honorários de seu médico eram mais caros pois ele não era parte do staff da clínica. Mas nada que uma boa conversa não solucionasse. No fim das contas, o doutor aceitou baixar o valor de seus honorários e o total voltou a ser o inicial.
Parto natural no sistema particular
Gabi teve o parto sonhado em umas das clínicas particulares mais renomadas de Santiago. Ela passou por cinco médicos, mas conseguiu uma matrona humanizada que a ajudou durante a preparação para o parto natural.
No fim, ela não pôde acompanha-la no dia do nascimento de sua bebê, mas foi cuidada por sua doula (que veio diretamente do Brasil para apoiá-la) e pelo marido durante todo o trabalho de parto, que foi a maior parte em casa.
Ela chegou à clínica com 9 cm de dilatação e foi assistida no processo final pelo médico e pela matrona, por quem foi respeitada em todo momento. Ao nascer, a bebê foi direto para o colo da mãe e a equipe médica esperou pacientemente e por um longo tempo antes de examiná-la.
Ela tem um lindo relato sobre seu parto. Se você ficou curioso, pode ler aqui.
Parto normal e violência obstétrica no sistema particular
Lígia não sabia muito sobre partos quando engravidou. Mas depois de assistir um documentário sobre parto normal e seus benefícios, decidiu o caminho a seguir: não queria intervenções desnecessárias nela ou em seu bebê e conseguiu uma matrona humanizada para acompanhar seu pré-natal.
No entanto, quando começou o trabalho de parto, a matrona não estava disponível e lhe foi atribuída outra, quem terminou por colocar ocitocina sintética através do soro, aumentando as dores do trabalho de parto, levando-a a solicitar analgesia e culminando em uma manobra de Kristeller para “auxiliar” a descida do bebê.
Como não sabia como proceder legalmente e já que tinha seu bebê nos braços são e salvo, Lígia seguiu o caminho da maioria das mães que passa por esse tipo de violência e vê a situação como um aprendizado para a próxima gravidez.
Cesárea de emergência no sistema particular
Camila esperou pacientemente pelo trabalho de parto, mas quando chegou às 40 semanas a sua pressão subiu e ela teve o parto induzido, mas não sem antes entrar numa discussão porque não haviam quartos disponíveis e queriam mandá-la de volta para a casa.
Depois de 5 horas tentando parto normal, foi levada para realizar uma cesárea. Segundo ela, a cirurgia foi rápida e a recuperação foi boa, além disso, os médicos informaram sobre o procedimento e esclareceram todas as dúvidas em todo momento.
Finalmente, temos meu caso, que foi um parto normal no sistema público, mas os detalhes dessa história você vai conhecer no vídeo que acompanha este post.
*O nome da entrevistada foi modificado para preservar sua identidade.
21 Comments
Adorei o post!!! E adorei fazer parte dele! hehehe
Super importante ter informações sobre como funcionam as coisas onde estamos! Especialmente no parto, um evento tão significativo e emblemático! Nos sentirmos acolhidas em um país na hora de ter nosso filho pode fazer toda a diferença sobre o acolhimento que sentiremos pra seguir vivendo nesse lugar, não é?!
Beijos e obrigada!
Eu que agradeço demais a tua colaboração!!! Com depoimentos como o seu podemos dar um pouco de apoio às nossas conterrâneas nesse assunto e momentos tão lindos e delicados. Abraços!!
Olá Gabi, estou de 12 semanas em breve, mudarei para Santiago. Eu e meu marido estamos preocupados em relação aos procedimentos e custos do pre Natal e parto
Poderia me auxiliar? Ficarei altamente grata.
Obrigada
Michele, aconselho a ler meu post sobre saúde para ter uma ideia generalizada de como funciona a saúde aqui. Para saber como será e quanto custará o cuidado pré Natal e o parto, depende se vocês vêm com contrato de trabalho, se negociaram isapre ou vao ficar em fonasa, se estao vindo com seguro de saúde…. enfim…. há muitas variáveis que podem alterar consideravelmente os valores e locais desses cuidados.
Espero que o outro texto deixe o seu panorama mais claro. Abraços.
Adorei!!!Aliás ;curto bastante seus posts,adoro sua maneira de escrever pra gente!!bjo
Dani, fofa!! Que bom que você gostou! É pensando em todas nós que eu escrevo e agradeço do fundo do coração!!! Beijos!
Que emoçao, hehehe, ver meu nome alí… revivi os momentos mais lindos da minha vida 🙂 Obrigada querida, nota 1000 para este blog e, claro, vou compartilha-lo 🙂
Anelise, agradeço demais o seu comentário e sua colaboração!! Um beijão e compartilhe à vontade!
Parabens Joy e muito obrigada! Acho esse assunto muito importante nao somente pelas razoes que ja foram mencionadas, mas tambem como um processo de desabafo. Acho que quase todas nos temos o desejo e a necessidade de desabafar sobre esse momento ate mesmo para curar o trauma que muitas sofreram. Por isso, deixo aqui uma sugestao e um convite para um encontro onde possamos compartilhar nossas historias dos nossos partos.
Cida, querida. Obrigada por comentar e fico MUITO feliz de que tenha gostado do texto. Eu amo falar de parto, mas sei que ainda tem muito tabu e controvérsias sobre o assunto. Por mim, conversamos quando quiser!! Vamos levar adiante essa ideia pro grupo de mamaes 😉
Que lindo! Gostei das várias visões. Parabéns.
Oi, Ju!! Que bom que gostou. E acho que ainda faltou tempo porque esse assunto tem muuuuita história.
Muito importante ter informações sob parto principalmente quando se trata do tema em outro país … Adorei descobrir o blog!! Estou morando aqui no Chile com meu marido (ambos brasileiros) estou com 3 meses de gestãcão e gostaria saber dicas/indicações de clínicas, hospitais, médicos etc … obrigada!
Suelen, que bom que você gostou do blog! Acho que um bom começo pra decidir a clínica que vc prefere, seria avaliar quais são as que têm melhores convênios com a sua Isapre. Também é bom decidir o que você acha mais propício: Parto Normal ou Cesárea e ver a taxa do hospital ou clínica que vc preferir. Se você não tem nenhuma condição de risco e prefere parto normal, aconselho procurar uma matrona… Veja os sites: http://www.nacersonriendo.com/ e http://www.almademama.cl/ caso prefira parto normal e entre em fóruns de grávidas que moram no Chile para indicação de médicos. Boa hora pra vc!
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Oí joy tudo bem?Eu e meu esposo estamos pensando em ir pro Chile e pensando em ter filho tambem,se o nosso filho nascer no Chile tera nacionalidade chilena?
Olá, Miriele. Se ele nascer aqui, claro que terá nacionalidade chilena!! Mas se ambos sao brasileiros, isso nao necessariamente significa que vocês conseguirao o visto definitivo. Abraços!!
Sendo brasileira, posso ter meu filho no Chile? assim como muitas brasileiras decidem ter filhos nos EUA? somente para que os mesmos tenham cidadania americana?
Olá Priscila,
A Joy Matta parou de colaborar conosco, mas temos outras colunistas no Chile que talvez possam te ajudar.
Você pode entrar em contato com elas deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Obrigada,
Edição BPM
OI jOY, LI SEU ARTIGO SOBRE OS PARTOS AI NO CHILE. QUERO MUITO UMA ORIENTAÇÃO SUA. SOU BRASILEIRA, MORO EM RIBEIRÃO PRETO – SP. E E ESTOU DE VIAGEM MARCADA PARA SANTIAGO A PASSEIO, DE 6 A 10 DE JUNHO, E ESTAREI DE 33 SEMANAS. E ESTOU COM MUITA PREOCUPAÇÃO SE CASO MINHA PEQUENA, RESOLVA NASCER ANTES DA HORA. QUERIA UMA DICAS, E ALGUM HOSPITAL QUE POSSO IR, CASO EU PRECISE DE ALGUMA ASSISTÊNCIA. ESTOU PENSANDO EM FAZER UM SEGURO DE VIAGEM ALTO, CASO PRECISE PAGAR UM PARTO PARTICULAR AI. AGUARDO SEU CONTATO ! OBRIGADA. MEU email. talita@corral.com.br
Olá Talita,
A Joy Matta parou de colaborar conosco, mas temos outras colunistas no Chile que talvez possam te ajudar.
Você pode entrar em contato com elas deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Além disso, sugerimos também que você acesse nosso outro site: https://www.brasileirinhospelomundo.com/ e verifique se há colunistas no Chile.
Obrigada,
Edição BPM