A sociedade chilena, no geral, pode ser considerada um tanto quanto conservadora. Uma boa parte da “culpa” pode ser atribuída à ditadura que tanto tempo durou e que marcou muitíssimo a forma de ser dos chilenos. E as novas gerações mantém, talvez sem saber, alguns costumes dessa época.
Com o toque de queda obrigatório, naquela época não havia muita opção. Nada de baladas abertas madrugada afora, nem barzinho com mesas e cadeiras na calçada durante a noite, nem mesmo um after office pra amenizar o stress do dia a dia.
O que restava eram as confraternizações nas casas dos amigos. Sempre tinha um que colocava a casa, camas, sofás e qualquer canto para se encostar e passar a noite. Assim nasceram os famosos “carretes”. O negócio é tão típico e característico que até virou verbo: “vamos a carretear toda la noche”.
Pra nós, brasileiros, que adoramos uma vida social o carrete pode ser um pouco estranho. Afinal, a gente até se junta na casa de um ou outro pra um “aperitivo” antes do evento principal, ou vamos na casa do amigo em ocasiões como aniversários e outras comemorações, mas o carrete é outra coisa.
Num aniversário a gente come bem, tem bolo, guaraná muito doce, ou até rola um churrasco com muita cerveja e outras bebidas, mas a gente come bastante carne, linguiça, espetinhos, saladas e farofa. No carrete não. O carrete é um festival de garrafas e das famosas “promos” que são as bebidas de marca alternativa mais um refrigerante de um litro e meio por um valor quase que simbólico. É basicamente puro álcool!
Pra não dizer que não se come nada, no carrete sempre tem: batata frita, ramitas (que são um salgadinho com a mesma forma da batata palha, mas é uma massa com sabor a queijo), uns doritos e, se o carrete for chique mesmo, tem bolachinhas untadas em queijo Filadélfia.
Nada contra, já passei por essa fase em que o álcool era o personagem principal e achava até divertido, mas é como ir sempre ao mesmo restaurante e pedir repetidamente o mesmo prato. Cansa minha beleza. Sem contar que, pra mim, é bem estranho ver um bando de balzaquianos ainda vivendo esse tipo de rotina. Eu, pelo menos, fiquei mais exigente com os anos. Prefiro algo bom e gostoso a beber grandes quantidades.
Aí me dizem: mas o brasileiro vive bebendo “uma cervejinha”. E tenho que concordar. A gente também bebe bastante. Mas a nossa sociedade e nossa forma de viver a vida faz com haja uma diferença. No Chile não se bebe nas ruas, por exemplo. Se te pegam com uma lata de cerveja na praia, você pode ir preso, ter que pagar uma multa ou, no mínimo, tomar uma bela de uma bronca de um carabinero e no Brasil não há praia sem um barzinho à beira mar e uma caipirinha na mão.
Mas quando o brasileiro bebe, fica mais alegre do que o normal, se solta, dança e se diverte até…. o chileno quando bebe, na maioria das vezes, procura briga, fica amuado ou de mal humor.
Mas uma coisa é certa, com comida ou sem comida, o chileno no carrete se solta, conversa mais e mostra o lado mais amável. Os carretes podem ser uma boa forma de entender como funciona a sociedade chilena e o que pensa e sente a juventude por aqui. Pode ser uma imersão cultural bem divertida. É só não exagerar na dose…
3 Comments
Achei bem interessante e esclarecedor seu ponto de vista da situação
Parabéns
Muito bom texto e interessante de ver que a invasão comercial de barzinhos e restaurantes não tenha sido extensiva como em outros paises. Pra muitas culturas onde as pessoas teem dificuldade de se abrir “beber”bebidas alcolicas é com certeza um momento de exorcismo rsrsrrsrs Parabens pelo texto! Namasté
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