Iuri Ribeiro fala sobre como arrumar emprego na Alemanha.
Iuri Ribeiro é natural de Taubaté, São Paulo. Veio a primeira vez para a Alemanha a passeio, adorou o país e resolveu mudar-se para cá. Formado em Ciências Sociais na USP, chegou em terras germânicas em 2011 e cursou aqui um MBA em International Business. Fundou o grupo online de Brasileiros na Alemanha (atualmente com mais de 70 mil membros), onde dá consultoria e ajuda brasileiros que residem na Alemanha ou desejam emigrar. Nessa entrevista ele nos falará sobre processo de conseguir emprego como estrangeiro na Alemanha.
BPM – Como foi a sua trajetória laboral na Alemanha?
Sendo da área de humanas, minha trajetória foi mais demorada. Falar alemão fluente, fazer estágios em multinacionais para adquirir experiência na Alemanha e por fim um MBA foram os requisitos nos quais tive que trabalhar muito para conseguir entrar no mercado de trabalho alemão. Candidatei-me para muitas vagas de trabalho até conseguir uma colocação. Há algumas profissões na Alemanha em que a demanda é tão alta que mesmo os profissionais alemães não conseguem suprir. Dessa forma há um potencial muito grande para estrangeiros qualificados que querem trabalhar e viver aqui.
BPM – Quais as áreas profissionais com mais demanda no mercado de trabalho alemão?
Profissionais das áreas de engenharia, TI e saúde são as mais requisitadas.
BPM – Quais são as dificuldades que um estrangeiro enfrenta para conseguir emprego na Alemanha?
Primeiramente é necessário reconhecer o diploma (caso tenha estudado no Brasil). Uma questão que dificulta é que os alemães dão pouco valor à formação profissional no exterior. Eles não conseguem (e com certa razão) saber qual a diferença entre um diploma universitário em uma universidade pública ou privada no Brasil, por exemplo. Da mesma forma funciona com a experiência profissional no exterior. A língua também é um fator chave para conseguir um emprego na Alemanha. Salvo a área de TI, onde se fala muito em inglês, é importante ter bons conhecimentos de alemão para conseguir se encaixar no mercado de trabalho e ter possibilidade de crescer profissionalmente.
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BPM – Uma das críticas de estrangeiros em busca de emprego na Alemanha é que a estrutura laboral é muito engessada, por exemplo, para qualquer cargo que você queira exercer há um curso técnico específico de formação, tornando o mercado inflexível. Como você vê essa estrutura?
Creio que cursos profissionalizantes têm um papel muito importante na formação profissional de qualquer pessoa. Na Alemanha, os cursos profissionalizantes têm uma carga horária prática bem maior que em outros países (como o Brasil, por exemplo). Logo, para alguém que é formado em um curso profissionalizante no Brasil, há sempre um déficit de experiência prática. Porém, para aqueles que não têm curso profissionalizante no Brasil, mas já trabalham na área, possuem somente a experiência prática e acabam por não aprender detalhes técnicos que influenciam muito no dia a dia do trabalho. Há pontos a favor e contra. Dado que a cultura alemã é muito baseada em ter uma formação profissional para exercer uma profissão, vejo isso de uma forma positiva. Porém, isso acaba “engessando” os profissionais de uma determinada área por não poderem migrar para outros setores, pois não têm a formação para tal. Há, claro, especializações onde se tem uma certa flexibilidade em uma profissão, mas percebo que ainda é muito pouco flexível como no Brasil.
BPM – Como você vê a aceitação do estrangeiro no mercado de trabalho alemão, você considera os empreendedores suficientemente abertos para dar chance a um estrangeiro quando esse compete com um alemão?
Em empresas de médio e grande porte, principalmente multinacionais, há uma aceitação grande de estrangeiros. Essas empresas já têm experiência de longa data com estrangeiros e por isso não há muita diferença entre um candidato alemão e um estrangeiro. Claro que devemos ter sempre em vista a área de atuação. Empresas pequenas, por outro lado, ainda se sentem inseguras em contratar estrangeiros, principalmente pelo fato de não terem experiência com isso.
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BPM – Muitas vezes a barreira do idioma é um argumento para que empreendedores não contratem um estrangeiro. Por outro lado, se ao estrangeiro não é dada a oportunidade de trabalhar, como ele poderá melhorar o seu alemão?
Essa é uma questão clássica para quem busca um trabalho na Alemanha. O mesmo acontece com aquisição de experiência. Muitos empregadores esperam experiência de trabalho aqui, mas não estão dispostos a empregar estrangeiros sem experiência de trabalho na Alemanha. Isso é um dos fatores que torna difícil a entrada no mercado de trabalho por estrangeiros. Importante é persistir e ser sempre ativo. Uma dica que sempre dou para melhorar o alemão é a de encontrar um hobby e buscar revistas, documentários, etc. sobre aquele tema que te interessa. Assim há sempre a motivação para ler e aprender alemão, mesmo sendo complicado.
BPM – Que dicas você daria a centenas de mulheres brasileiras que vêm para a Alemanha, acompanhando os seus maridos a trabalho, para que elas consigam posicionar-se no mercado de trabalho alemão?
O primeiro passo é, sem dúvida, aprender a língua. Sem o conhecimento de alemão, a vida aqui é bem mais limitada. A Alemanha é um país muito aberto no que se diz a mulheres no mercado de trabalho, logo eu aconselharia a primeiro aprender o idioma (até chegar a um nível intermediário) e se candidatar a uma vaga para um curso profissionalizante ou um curso superior. Estudar na Alemanha irá aumentar muito as chances de conseguir um emprego aqui, dado que a formação é igual a de um alemão nativo. Há muitas formas de consultoria para encontrar uma formação e criar um plano para não pular etapas. A Alemanha é um país de muitas possibilidades, basta ter um plano traçado, trabalhar (e insistir), que as oportunidades surgem.
2 Comments
Meu filho se formou em engenharia industrial e pretende trabalhar na Alemanha. Fala o alemão intermediário. Seus bisavós por parte de Mãe são alemães.
Começaria por onde?
Agradeço muito a gentileza da resposta e algum apoio.
Olá Ivanilde,
A autora não faz mais parte do nosso time de colunistas.
Entretanto, sou colunista da Alemanha. Eu indico que ele procure por vagas no LinkedIN. Ele pode indicar um CEP de Berlim (por ex) na busca. Ou qualquer região.
Ele tem que se candidatar a vagas. Existe um visto de procura de emprego. Procure saber no site do consulado alemão na sua região. Ele pode ficar uns meses na Alemanha buscando trabalho e fazendo entrevistas nesse tempo.
Equipe BPM