Como é a comida típica panamenha
Adaptar-se a uma nova culinária é uma das maiores dificuldades que muita gente aqui no Brasileiras Pelo Mundo e tantos outros imigrantes e expatriados mundo afora enfrenta. Há quem sofra por viver longe do clássico arroz e feijão, coisa que em muitos lugares é impossível de se encontrar (ou quando se acha, custa ridiculamente caro). E há os que não ligam muito para isso e se adaptam ao que tem, como é o meu caso.
Felizmente aqui no Panamá me viro bem sem muitos dos nossos queridos pratos típicos. O mesmo aconteceu quando eu morei em Madri, há 19 anos, quando fui estudar lá. Em um mês já não sentia tanta diferença e já tinha incluído o jamón serrano (presunto espanhol) e o queijo manchego (um queijo de ovelha típico de lá) nos meus sanduíches, e a sangria se tornou uma das bebidas preferidas nas noites de festa.
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Claro que de vez em quando bate uma vontade de comer pizza (como todo paulistano de nascença ou de criação, eu acho que a pizza de lá é melhor até que a de Nápoles), pastel de feira, coxinha e paçoquinha. Mas nada que não se resolva naquela aguardada visita à família nas férias de fim de ano, ou quando algum amigo vai para o Brasil e traz uma encomenda para a gente.
Se você está vindo morar no Panamá e não tem a menor ideia de como é a gastronomia local, não se assuste. A comida típica daqui não é tão estranha, e nos supermercados você poderá achar vários ingredientes semelhantes aos brasileiros (não todos, infelizmente) para preparar suas refeições tranquilamente em casa. Até massa de pão de queijo encontra-se em em alguns lugares (o que é motivo para pulinhos de alegria no meio do corredor do supermercado, no meu caso).
Você também poderá encontrar aqui ótimos restaurantes de todas os tipos e origens, o que eu vou contar num post futuro.
A seguir, apresento um pouco das delícias locais – e de outras coisas nem tão boas assim para o meu paladar e meu estilo de vida, mas há quem aprecie – que você irá encontrar para esses lados.
Para o café da manhã (ou o dia inteiro, se preferir)
Os pratos típicos são como a música tradicional daqui: muito parecidos com a de países vizinhos, como a Colômbia e a Venezuela. Come-se sempre (o tempo todo, mesmo) arepas, que são primas das tortillas mexicanas, mas mais grossinhas, feitas de farinha de trigo, mandioca ou milho. Existem versões com farinhas sem glúten, também, mas são mais difíceis de se encontrar, e por isso mais caras.
Muita gente as consome logo no café da manhã, com queijo, mel, geleia, frios ou frutas. Há quem seja mais valente e faça um sanduíche de carne desfiada e arepas logo cedo, o que eu acho bem estranho, mas tem gosto pra tudo nesta vida.
Outro hábito de café de manhã que os panamenhos têm é tomar o chamado desayuno chino aos finais de semana, o que nada mais é que comer dumplins e outros pratos chineses nas primeiras horas do dia, em restaurantes e hotéis. Cerca de 5% da população panamenha tem como origem a China, e por isso esse costume se arraigou.
Do lado dos norte-americanos que construíram e ocuparam o Canal do Panamá veio o hábito do brunch, oferecido em muitos restaurantes e cafés aos domingos. No Brasil, esta refeição meio café da manhã (breakfast) e meio almoço (lunch) também virou moda nos últimos anos, mas aqui ela é levado super a sério.
Há centenas de opções de sanduíches, frios, queijos, bolos e doces, sempre acompanhados por uma taça de mimosa, aquele drinque à base de espumante e suco de laranja.
As empanadas que fazem a fama da Argentina, do Uruguai e do Chile (mas que têm suas versões em quase todos os países da América do Sul e Central) também estão por aqui, mas são fritas e têm uma massa mais pesada.
Elas também são consumidas a qualquer hora do dia – eu não consigo comer fritura nem no almoço, quem dirá no café da manhã. Felizmente é possível encontrá-las também versões sem glúten e em preparações mais saudáveis em alguns mercadinhos de orgânicos da cidade, como a Orgánica, que tem vários lojas pelo país (mas como eu falei lá em cima sobre as arepas, não são baratas).
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Comfort food panamenha
Um prato que está presente em toda mesa panamenha (venezuelana e colombiana também) é o sancocho, que é uma versão da nossa canja, só que mais parruda. Leva frango (não o desfiado, mas coxas e sobrecoxas inteiras), mandioca, batata, coentro, inhame, cebola e outros condimentos, ao gosto do freguês. É bem gostoso e reconfortante, apesar de não combinar com o calor que faz o ano todo aqui.
Outro hit da comfort food panamenha também é compartilhado com outros países da região. A ropa vieja, apreciada no Caribe (Cuba e Porto Rico), na Colômbia e na Venezuela tem o seu clone por aqui. Trata-se de uma carne desfiada (de preferência um corte mais macio) que depois de ser cozida por horas, é refogada com coentro, tomilho, cebola, tomate, pimentão vermelho e, às vezes, cenoura. É bem gostosa também, e não oferece “perigo” para quem é adepto de uma dieta mais saudável e sem fritura.
O refogado é acompanhado dos também regionais patacones, que são chips de banana-da-terra – estes sim podem acabar com a sua dieta. Cozinha-se a banana, depois estica-se esta massa à textura ideal para ir à frigideira. Compra-se em pacotes, também, como se fossem batatas fritas. Eu tinha minhas questões com essa coisa de comer banana salgada e, ainda por cima, frita, mas hoje em dia as encaro os patacones de vez em quando.
As frituras são as reinas (rainhas) do cardápio diário do panamenho: pratos de vários paises latino-americanos, como chicharrones (o equivalente ao nosso torresmo), almojábanos (uma massa fininha frita e recheada de queijo) e hojaldras (que aqui são parecidas aos anteriores, mas num formato diferente) estão presentes na mesa do café da manhã e são usados como lanchinho dos panamenhos.
Não é de se estranhar que 46% da população local acima dos 40 anos é obesa, de acordo com o Ministério da Saúde local: a dieta típica panamenha é rica em gorduras e carboidratos, e bem pobre em outros alimentos imprescindíveis da pirâmide alimentar, como frutas, verduras e legumes.
Entretanto, experimentar a comida local é parte do processo de adaptação e de conhecer a cultura do país no qual você está morando. Você não precisa incluir os pratos típicos na sua rotina, mas pode gostar de algumas coisas e comê-las de vez em quando, ou até arriscar umas preparações mais leves e saudáveis em casa. Experimente sem medo e bom apetite!