Transporte público no Panamá.
Com quase 1 milhão de habitantes, a capital do Panamá sofre do mesmo mal de quase todas as grandes cidades latino-americanas: excesso de trânsito e transporte público deficitário. Há quem acredite que o primeiro é resultado do segundo: as pessoas compram mais carros por que o transporte local é ruim.
Por conta do clima quente e chuvoso, a maior parte dos panamenhos ou estrangeiros prefere ter seu próprio veículo, mas há algumas opções coletivas para quem precise ou prefira usar esta forma de locomoção.
Além do carro, existem quatro modais (expressão usada principalmente para se falar de tipos de transporte) aqui: os ônibus antigos (conhecidos como diablos rojos), os mais recentes (Metrobus), o metrô (El Metro de Panamá) e as vans (ou chivas, espanhol para cabra, ou piratas, porque não são legalizadas).
Juntos, eles são utilizados por cerca de 70% da população, mas não tanto pelos estrangeiros que aqui vivem. Vou falar um pouco de cada um dos deles a seguir.
Ônibus antigos, os diablos rojos
Este tipo de transporte começou a circular na cidade no final dos anos 60, substituindo as antigas chivas, veículos menores e desconfortáveis, e que não eram suficientes para transportar a crescente população panamenha.
O governo de então importou (e logo terceirizou) a administração de uma frota de ônibus escolares americanos (os clássicos amarelos, ainda usados nos Estados Unidos, à la Charlie Brown), por terem maior capacidade e serem considerados mais confortáveis para rodar na cidade.
Até hoje existem veículos deste tipo em circulação que, de tanto tempo na estrada, já não são dos mais cômodos: estão sempre cheios, não passam em horários regulares e são muito abafados (não têm ar-condicionado, o que numa cidade em que a temperatura média anual é de 27 graus é dureza).
Outro ponto ruim é que os motoristas correm muito, fato um tanto assustador. Há quem diga que é questão de costume, mas eu prefiro evitar usar este tipo de ônibus.
Um ponto importante é que eles chegam a algumas áreas onde ainda não há metrô e nem Metrobus, o que é fundamental para os trabalhadores que moram na periferia da cidade ou outros pontos de difícil acesso na região metropolitana. O valor da passagem é de 0,35 USD.
Os diablos também são considerados marcas artísticas da cidade. Cada proprietário costumiza o seu da maneira que quiser, criando um tipo muito particular de arte urbana.
Há ônibus adornados com figuras folclóricas, bandeiras do país, personagens e trechos da bíblia ou até ditos populares não muito politicamente corretos (outro dia vi um onde se lia Feliz fue Adán que no tuvo suegra, Feliz foi Adão que não teve sogra).
Folclore à parte, os diablos rojos estão sendo retirados pouco a pouco das ruas, e substituídos pelos Metrobus e pelas vans.
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Metrobus
É a rede de ônibus mais recente, que conta com veículos em melhores condições e um número maior de linhas (260 no total, atualmente). Os ônibus são novos, confortáveis e têm ar-condicionado.
Foi implantada em 2010 e, apesar de ter algumas deficiências (como não atender a todos os bairros) e os constantes atrasos (que podem ser de mais de 1h), ainda é a melhor opção para quem depende do transporte coletivo na capital e em San Miguelito, na região metropolitana.
Um problema recorrente são os casos de vandalismo, que muitas vezes provocam a retirada do ônibus de circulação e prejudicam milhares de usuários.
Segundo o consórcio MiBus, que administra o sistema Metrobus, atualmente 600 mil pessoas usam seus veículos diariamente e espera-se que até 2020 este número cresça pelo menos 10%.
Recentemente a empresa comprou 203 novos ônibus e passou a disponibilizar o sistema de cartão unificado com o metrô, que permite ao usuário fazer até três viagens pagando uma só passagem (que custa 0,25 em vias normais, e 0,75 USD nas que têm pedágio), dentro de um período de 40 minutos.
Só acho que esse tempo deveria ser aumentado, porque o trânsito daqui é tão pesado que muitas vezes leva-se até 1h parado em um único quarteirão.
Metrô
Mesmo com suas estações e trens modernos aliadas ao baixo custo de seus bilhetes, o metrô panamenho é o modal menos expressivo em volume de pessoas transportadas.
Diariamente, 240 mil pessoas por dia cruzam os 16 quilômetros da linha única que liga as regiões norte e sul da cidade, com 14 estações.
De acordo com dados da empresa que administra o Metro Panamá, a linha 2 (que ligará as regiões leste e oeste) está em obras e prometida para ser entregue em 2019, o que muita gente que mora aqui há mais tempo que eu diz ser pura lenda. Acho que nós brasileiras já vimos este filme, não é?
Para usar esta opção é necessário comprar um cartão (os sistemas de metrô e Metrobus são unificados, mas dos outros sistemas ainda não), que pode ser encontrado em redes de farmácias, supermercados e nas estações, e carregá-lo com pelo menos 2 USD.
Cada viagem individual custa 0,35 USD, que vão sendo debitados do valor creditado.
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Meios alternativos: vans e táxi
Como há bairros que não são servidos pelo Metro Panamá e tampouco pelo Metrobus, é comum que muitas pessoas usem os táxis e as vans como complemento para chegar ou voltar de seu destino.
Dos primeiros falarei no meu próximo texto, mas o que posso adiantar é que como acontece em outras capitais latino-americanas (Lima, por exemplo), aqui não existe taxímetro e, por isso, você sempre deve negociar o preço da corrida com o motorista ao entrar no carro.
Quanto às vans, a única vantagem real delas é que são opções para quem vai às regiões mais remotas e carentes de outras alternativas.
A passagem é mais cara que a dos diablos rojos e a do Metrobus (0,50 USD), os veículos não têm ar-condicionado e, infelizmente, alguns dos seus motoristas são irresponsáveis e se envolvem em acidentes. Toda semana há notícias sobre isso na TV e nos jornais.
Trânsito gigantesco e outras alternativas
Mesmo com algumas opções, o transporte público panamenho esbarra em um dos maiores problemas do país e da capital: o excesso de trânsito, que é grande em qualquer horário e insuportável nas horas de pico.
No meu próximo texto falarei mais sobre sobre as particularidades deste aspecto tão importante na vida de uma cidade, visto pelos olhos de alguém que odeia dirigir e não tem carro aqui.
No Panamá, bicicleta infelizmente não é considerada transporte, mas apenas lazer. Eu e meu marido usamos sempre as nossas bicis para irmos ao supermercado ou para outras fazer pequenas coisas no bairro em que moramos, mesmo assim só à noite, quando o fluxo de carros e o calor são menores.
Nossas bicicletas são, quase sempre, as únicas nos bibicletários por aqui. Independentemente disto, vamos tentando deixar nossa vida mais leve e nos deslocando da melhor maneira possível, dentro dessa cidade tão peculiar.