Como saber se um produto é biológico?
Aqui na Itália – como em todo o mundo, imagino eu – a procura por itens orgânicos está cada vez maior. Li esses dias que, em 2017, 78% das famílias italianas compraram produtos biológicos*. Não sei se por modismo, pois muitos acham cool comprar ou comer em mercados e em restaurantes que priorizam a agricultura biológica ou por conscientização mesmo. No texto Que tipo de “comedor” você é?, que escrevi para o meu blog Pelos campos de trigo há algum tempo atrás, eu comento justamente sobre a importância da nossa conscientização em relação aquilo que comemos, visto que estamos gradativamente nos alimentando de agentes químicos e agrotóxicos.
Falo ainda de dois grupos de indivíduos, o industrial e o agrícola, que alguns estudos distinguem com base em seus perfis de alimentação. O comedor industrial é aquele que ingere a comida sem responsabilidade, de forma entorpecida e passiva. Seu alimento é quase todo produzido de forma mecanizada, com substâncias processadas e refinadas, camuflado sob corantes, aromatizantes e sabores artificiais.
Para este a comida é um conceito abstrato sem conexão com a realidade biológica, pouco importa quem plantou ou colheu ou qual é a oferta da estação. A sua consciência está no valor, no custo e na aparência, a terra é apenas uma fonte de recursos. Enquanto, o comedor agrícola, ao contrário, “reafirma sua conexão com a terra pela refeição. Ele vislumbra as vidas envolvidas na cadeia alimentar – da semeadura à colheita, da embalagem à distribuição – e seu prazer surge também da sua relação responsável e harmônica com o ciclo orgânico. Para ele, o mundo é uma comunidade viva.”
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Logo, a saúde, a segurança e a qualidade são as principais motivações dos que adquirem artigos orgânicos. Dados do Osservatorio SANA 2017* mostram que, aqui na bota, os consumidores optam pelos produtos de agricultura biológica, principalmente, no departamento dos alimentos frescos, como as frutas, verduras, laticínios e ovos, evidenciando a atenção sempre crescente as mercadorias naturais, cultivadas com respeito ao meio ambiente.
“Saúde, segurança e qualidade são as principais motivações que induzem a escolha pelo biológico.”
Mas, afinal de contas, o que é a agricultura biológica?
Agricultura biológica, segundo o SINAB – Sistema di Informazione Nazionale sull’Agricoltura Biologica, é uma maneira de produção agrícola que, com o objetivo de oferecer ao consumidor um produto genuíno, respeita, em todo o processo produtivo, o ambiente, a biodiversidade e os equilíbrios existentes na natureza. As técnicas empregadas pelo homem, sob essa ótica, excluem completamente a utilização de organismos geneticamente modificados, de fertilizantes, herbicidas, inseticidas e produtos veterinários químicos.
“O termo ‘agricultura biológica’ indica um método de cultivo e reprodução que permite apenas o uso de substâncias naturais, isto é, presentes na natureza, excluindo o uso de substâncias de síntese química (fertilizantes, herbicidas, inseticidas).”
Por aqui existe a Regulamentação Europeia da Agricultura Biológica, que determina como este setor agroalimentar deve ser conduzido e estipula quais são as obrigações dos fornecedores em relação à identificação das mercadorias orgânicas que produzem. Todos os stakeholders, da cadeia produtiva de um item que pretende usar a referência biológica, devem se submeter a esta normativa, que entre outras coisas, os obrigam a se sujeitarem a controles e inspeções ao menos anuais.
Como saber se um produto é realmente orgânico?
A este respeito, existe um símbolo específico que facilita a identificação do produto biológico pelo consumidor. Esta marca e as regras de rotulagem são uma parte importante da regulamentação europeia, pois garantem que o volume foi efetivamente produzido dentro das suas normas.
O logo biológico europeu – criado por Dusan Milenkovic, um estudante alemão – representa uma folha estilizada desenhada com as estrelinhas da União Europeia.
Além do mais, a utilização dessa identificação e a rotulagem correta são obrigatórias para todos os alimentos orgânicos pré-embalados ou produzidos na União Europeia. O logotipo europeu deve ser fixado em todos as embalagens fechadas e rotuladas, com uma porcentagem de produto de origem agrícola orgânica de pelo menos 95%. Ele é opcional em mercadorias com as mesmas características, mas provenientes de países terceiros, isto é, em alimentos biológicos importados de outros países, não pré-embalados ou produzidos na UE. E depois, este símbolo comum está salvaguardado contra a sua utilização em mercadorias não biológicas em todo o território controlado por esta regulamentação – a inserção do logotipo europeu é proibida em produtos com percentagem bio inferior a 95%. O que aumenta a proteção do consumidor.
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Ademais, ao lado da marca devem constar algumas informações como: a identificação da nação; o tipo de método de produção; o código do fornecedor; e o código do organismo de inspeção precedido (cá na Itália) pelas palavras: “Organismo di controllo autorizzato dal Mi.P.A.A.F”.
Muito bem, agora você já sabe como identificar os alimentos orgânicos aqui pela Itália e Europa. No entanto, o legal mesmo é se conscientizar, de verdade, quanto a importância do que você come. Quando você se informar um pouquinho mais sobre as doenças provocadas pela alimentação moderna, os tratamentos cruéis aos quais os animais são submetidos, o ritmo ininterrupto da produção atual, além de toda a esfera pouco democrática (que não atende a todos), logo constará que uma alimentação saudável – que faça menos mal a tua própria saúde, a saúde dos agricultores, a qualidade de vida dos animais e não por menos, a preservação do nosso planeta e, portanto, do nosso futuro – é algo, deveras, essencial.
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Citações, fontes de inspiração e fontes: *Dados apresentados pelo Osservatorio SANA 2017 na feira Sana di Bologna, Salone Internazionale del biologico e del naturale. Matéria “Salute e benessere protagonisti”. Publicada na revista Buon Giorno, Anno 9, Número 2, pg. 22,23. | Come riconoscere un prodotto biologico – il logo europeo |The EU organic logo and labelling rules | Que tipo de “comedor” você é?