Como vim parar na Tailândia.
Vou começar o ano contando um pouco sobre mim e sobre como a minha vida veio parar exatamente nesse ponto em que estou hoje, expatriada do outro lado do mundo vivendo no continente Asiático.
Me casei no Brasil em 2013, onde tinha estabelecido minhas bases, construído uma casa e meu emprego concursado, o que parecia ser uma combinação “perfeita” para passar o resto da vida sob esses pilares.
Acontece que meu marido escolheu uma profissão peculiar, jogador de futsal. E para poder exercer esse tipo de profissão, é necessário se desapegar de algumas coisas e estar disposto a correr atrás dos seus sonhos, seja lá onde for. Optar por ficar no Brasil era ao mesmo tempo abrir mão da carreira que ele sempre quis e que fazia o seu coração vibrar.
Não vou ser hipócrita e dizer que sempre aceitei essa situação, porque não foi. Ele começou a sua carreira no exterior quando ainda éramos noivos, e eu sempre fui a primeira pessoa a apoiar e incentivar essa decisão. Passávamos de 6 a 8 meses do ano distantes, ele estava fazendo o que gostava, e eu só pensava no dia em que essa situação iria chegar ao fim.
Porém o casamento chegou, nos mudamos para nossa casa, e logo a minha esperança de uma vida “normal” foi por água abaixo quando chegou a nova temporada, e um novo time em um lugar já conhecido, a Tailândia. E por mais que eu desejasse muito estar ao lado dele, não me sentia no direito de pedir para que ele abrisse mão da profissão, e principalmente do seu sonho.
E assim foi mais um ano à distância. Eu comecei a repensar se aquela vida realmente fazia sentido pra mim, e foi nesse momento de turbulência e inquietação que enxerguei o que realmente estava acontecendo. Aquela não era a vida que eu sonhava! A vida que eu sonhava era estar ao lado da pessoa que eu escolhi, poder compartilhar nossos dias, e principalmente, viver com propósito.
O que eu pensava que estava construindo, na verdade era uma ilusão. Casa, carro, emprego concursado, plano de saúde, são os principais valores que a sociedade empurra na gente como padrão de vida perfeita. Mas e eu? Onde eu entrava nisso? Viver sem amar seu trabalho, sem um propósito maior, em algum momento vai pesar. E foi diante da crise que eu tive a maior resposta: se eu quisesse buscar a minha felicidade, eu deveria recomeçar a partir das coisas que realmente me fizessem vibrar.
Comecei a investir em autoconhecimento e me munir de informações e relatos de pessoas que passaram por processos semelhantes ao meu, e a cada dia me sentia mais próxima do que eu procurava. Me descobri, consegui começar a pensar fora da caixa e isso é um processo sem volta. A partir daí, comecei a me preparar e estruturar nossas vidas para poder seguir um novo caminho.
Um ano depois, estava eu confiante tomando a melhor decisão da minha carreira, de pedir uma licença sem vencimentos abrindo mão da minha comissão e do meu ofício por 8 anos, para embarcar para a Ásia. Sem saber a língua, sem nenhuma perspectiva de emprego, e sem saber o que esperar dessa nova vida, mas sempre com a certeza de que eu estava seguindo o meu coração.
E desde então, eu vivo os dias mais realizados da minha vida. Me preparei psicologicamente para ficar sem trabalhar e me adaptar à nova rotina. Não me deixei acomodar. Procurei amigos, criei relações, fiz contatos. Me desafiei a fazer coisas novas, viver experiências diferentes, me abri ao novo mundo. Me propus a descobrir como posso ser melhor e impactar positivamente as pessoas.
Já fiz teste para dubladora, casting de propaganda indiana, já dei aula de inglês em acampamento de férias. Já fui guia turística, e guia de muitos amigos também. Já fiz trabalho voluntário e acompanhei de perto a rotina de um hospital com tratamento de células-tronco. Virei tradutora freelancer. E no meio disso tudo me descobri escritora, sempre com o desejo de poder compartilhar com o mundo aquilo que acredito.
Depois de uma temporada linda de praticamente dois anos morando na Ásia, posso dizer que me reinventei e aprendi muita coisa. Aprendi a viver longe dos amigos e da família e a criar uma nova família, aprendi a respeitar e admirar uma nova cultura, a enxergar as coisas de outra forma. Me dei conta de que tudo muda de acordo com o ponto de vista, e que isso não é necessariamente ruim.
Aprendi que seguir a intuição e ouvir nosso coração é uma receita imbatível. Dias ruins existem, como em qualquer escolha, mas eu não me arrependo em momento algum de estar em busca daquilo que faz sentido pra mim. Se eu descobri meu propósito? Ainda não, mas a cada dia sinto que estou mais próxima.
E uma das coisas mais importantes que aprendi nessa nova jornada é que a gente não tem certeza de nada, nem daquilo que a gente acha que tem. Então vivo meus dias com intensidade e amor, e sigo firme no propósito de ser cada dia melhor e descobrir minha missão. Espero que meu relato sirva para inspirar, e nunca tenha medo de mudar. O ano que começa é uma bela oportunidade para criar a realidade que você deseja. Seja guia dos seus caminhos e faça sua vida valer a pena!
Um beijo e um 2018 cheio de luz!