Cultivo orgânico na Dinamarca.
No começo desse ano espalhou-se em vários sites no Brasil e ao redor do mundo uma notícia a respeito da Dinamarca que, segundo diziam, caminha rumo a se tornar o primeiro país de agricultura exclusivamente orgânica por lei no mundo. As pessoas estavam, na verdade, se referindo ao Økologisk Handlingsplan 2020 (leia aqui em inglês), um plano de ação da Secretaria de Agricultura e Alimentos dinamarquesa que visa a duplicação da área atual de cultivo orgânico no país e o aumento em 60% no consumo de produtos orgânico pelo público até 2020.
Esse projeto, por ser oficial, acabou sendo mal traduzido como ‘lei’ e, portanto, divulgou-se erroneamente que a Dinamarca ambicionava ser o primeiro país 100% orgânico do mundo por lei, o que, como vemos, difere dos fatos. Boatos e traduções mal feitas à parte, a verdade é que a agricultura orgânica possui importância maior por aqui do que em muitos lugares do mundo – aqui, o cultivo orgânico é reconhecido e certificado pelas autoridades há 25 anos.
Nas escolas dinamarquesas a merenda oferecida já é proveniente de alimentos orgânicos desde 2009 em muitos lugares e, oficialmente, a partir de 2015 as escolas, estabelecimentos de ensino infantil e creches públicas têm de oferecer alimentos orgânicos em seu cardápio. Nos supermercados é possível encontrar produtos orgânicos com preços equiparáveis ou iguais aos de agricultura convencional e há setores completos dedicados apenas aos produtos de origem orgânica. Fazendas de cultivo orgânico se espalham por todo o território dinamarquês e o ocupam aproximadamente 7% da área total do país, o que é considerável se tomamos em conta a extensão do território dinamarquês.
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Os produtos orgânicos dinamarqueses seguem as regras de qualidade vigentes em todos os países da Comunidade Europeia e recebem um selo certificando sua qualidade.
Por que a Dinamarca investe tanto em produtos orgânicos?
A preocupação com o meio ambiente e com processos de cultivo sustentáveis e responsáveis com os recursos naturais e com a fauna e flora são os principais motivos pelos quais a Dinamarca decidiu investir na produção orgânica.
Em pesquisa feita pela Secretaria da Agricultura e Alimentação dinamarquesa em 2014 foram entrevistados 1045 dinamarqueses, para os quais se perguntou o motivo pelo qual compravam produtos orgânicos. 47% dos entrevistados respondeu que escolhe orgânicos para escapar dos pesticidas e produtos químicos usados no cultivo de produtos de agricultura regular, os quais são proibidos no cultivo orgânico.
O cultivo orgânico tem se mostrado positivo também para o comércio exterior. A Dinamarca hoje exporta produtos agrícolas orgânicos para o mundo todo, tendo como principais mercados de destino a Alemanha, Suécia, França, Holanda e Itália, além da China. Os produtos cujo cultivo é maior no país são batatas, cebolas, cenouras em 40 variedades e ervilhas, produzidos durante o ano todo. A importância dada pela Alemanha aos produtos orgânicos, aliada à proximidade fronteiriça faz desse país o principal consumidor dos produtos orgânicos dinamarqueses destinados à exportação.
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Mas engana-se quem acha que por aqui só se produz vegetais orgânicos. O cultivo sustentável está também presente em granjas, produtores de laticínios e fazendas de cultivo de suínos. Alguns supermercados tomaram uma iniciativa inédita de retirar de suas prateleiras e, assim, aboliram a venda de ovos produzidos em grande escala por granjas industriais, por exemplo, preferindo ovos provenientes de galinhas criadas livremente e abatidas de acordo com o método orgânico.
Atualmente há mais de 180 empresas com foco na produção orgânica na Dinamarca, entre indústrias alimentícias, fazendas, granjas e abatedouros. A associação Organic Denmark reúne essas empresas e as auxilia na obtenção de informações, organização para feiras internacionais e encontros com importadores estrangeiros, ajudando no fomento do mercado orgânico dinamarquês.
Um selo para os cozinheiros que usam matéria-prima orgânica
Tão importante quanto a produção é o consumo de produtos orgânicos e de qualidade. Pensando nisso, em 2009 criou-se um selo de qualidade para classificar os cozinheiros e chefs que utilizam produtos orgânicos na composição de seus pratos. Esse selo, chamado de økologiske spisemærke (algo como selo de comida ecológica) é concedido a cozinheiros e chefs que utilizem no mínimo 30% de produtos ou matéria prima orgânica na execução de suas receitas. O selo é dividido em 3 cores: bronze, prata e ouro, dependendo da porcentagem de elementos orgânicos presentes na cozinha do chef. Para ler mais sobre como obter o selo e quem pode obtê-lo, leia o site do programa.
WWOOF, uma ótima experiência para estrangeiros
O cultivo e criação orgânicos de plantas e animais dá trabalho, já que todos os métodos de evitar pragas são naturais e sem agrotóxicos ou produtos químicos. Trocando em miúdos, podemos dizer que toda ajuda é bem-vinda. Pensando nisso e também como uma forma de intercâmbio cultural a Dinamarca faz parte do WWOOF, sigla para Working Weekends On Organic Farms – trabalhando nos fins de semana em fazendas orgânicas, em tradução livre -, um programa mundialmente conhecido e que permite ao voluntário trabalhar nas fazendas de cultivo orgânico por um determinado período em troca de alimentação e hospedagem. O programa tem duração variável, de alguns dias até seis meses, dependendo das condições do voluntário em relação a vistos e da necessidade de quem oferece a vaga, e é muito interessante para aqueles que têm vontade de entender melhor e mais de perto como funciona o cultivo orgânico. Caso você se interesse pelo programa, clique aqui para acessar o site e obter informações mais completas. É necessário saber falar inglês para se comunicar com os fazendeiros que oferecem o programa. Em geral, as fazendas que o oferecem na Dinamarca são propriedades pequenas e familiares, sendo que a maior parte delas fica na Jutlândia. Para se candidatar é preciso pagar uma taxa de adesão de 25 euros e solicitar a participação através de e-mail direto para quem oferece as vagas. Veja aqui a lista de fazendas dinamarquesas participantes. Mais e mais fazendas dinamarquesas se juntam ao WWOOF todos os anos.
Leia mais sobre cultivo orgânico na Dinamarca (em dinamarquês) clicando aqui.
4 Comments
Ótimo texto, Cris!
Dinamarca – um país fit!! Cris, já vimos que eles são “os mais orgânicos” do mundo e também andam de bike o tempo todo! Mas como é relação dos dinamarquês com academias? São frequentadores assíduos na maioria?
Priscila, o que é fit pra você?
Os níveis de obesidade têm aumentado na Dinamarca. Em 2015 as estatísticas apontavam que 13% da população sofre com a obesidade e 47% está acima do peso, por isso eu discordo dessa afirmação de ser um país fit, como você sugere. Talvez um dos motivos para isso é a cultura da praticidade, onde muitas famílias têm optado atualmente por comprar pratos já prontos nos supermercados e delicatessens em vez de comprar os alimentos para preparar em casa. Segundo uma reportagem feita pelo Berlingske, os dinamarqueses tendem a ignorar a obesidade e posso lhe dizer que muita gente prefere passar uma tarde hyggelig comendo um bolo a ir pra academia. Faz falta um programa de controle alimentar e de exercícios seguido de acompanhamento voltado para adultos; esse programa existe para crianças e se mostra bastante eficaz, mas até hoje nunca vi incentivo ou campanhas do governo para estender aos adultos.
A questão da academia, por aqui, também tem seus pontos negativos. Muita gente não toma banho todos os dias e alguns vão para a academia, malham por 1 ou 2 horas e depois só se lavam com uma mera toalhinha e olhe lá… Não existe por aqui o conceito de higienização dos equipamentos após o uso, então o que acontece com frequência é que o primeiro usuário passa a máquina adiante com o seu suor… Enfim, tem gente que usa o álcool gel, mas não são todos e pelo que sei, a pessoa tem que trazer o seu de casa, pois a academia não fornece.
O que é bastante popular na Dinamarca em termos de exercícios físicos:
Zumba
Handebol
Corrida de rua
Spinning
Ioga
Natação
Obrigada pela sua pergunta e continue nos acompanhando!
oi Cris,
legal vc ter mencionado o WWOOLF, acho realmente fantástico. E…morro de frustração por minha/nossa falta de talento para atividades assim! Olha…se voce souber de algum projeto do tipo que não envolva cheiros/plantações ou afins, mas sim que seja voltado para atividades outras, me diga, sim?
vc participou do WWOOLF alguma vez?
beijinho,
Oi Touché,
Quais projetos seriam do seu interesse?
Eu nunca participei do WWOOF mas na região onde moro tem muitas fazendas de cultivo orgânico.