Curiosidades sobre o dia-a-dia no trabalho na Alemanha.
Procurar emprego na Alemanha sem falar alemão pode ser um desafio. Mas dependendo da cidade, é possível encontrar algumas alternativas, especialmente em empresas maiores e globais. Esse é o meu caso. Há um ano e meio trabalho em uma agência de publicidade aqui em Düsseldorf e, nesse meio tempo, venho reparando em atitudes e costumes que são bem diferentes do que estamos acostumados no Brasil. Tudo bem, é um ambiente internacional, com pessoas do mundo todo, mas ainda assim, com uma cultura bem alemã.
Das coisas mais legais que já vi, está o fato de poder levar o seu cão para o escritório. Todos os cachorros na Alemanha precisam ser treinados, principalmente porque é permitido levá-los a restaurantes, lojas e ao ambiente de trabalho, para que passem o dia com seu melhor amigo humano. Eu, que sou daquelas pessoas loucas por animais, acho ótimo! Você anda pela agência e vê vários peludinhos, para, faz carinho, desestressa e segue o dia com a alma mais leve. Como eu trabalho em um ambiente aberto, sem salas, as pessoas que têm cachorro ficam em alas diferentes para que os bichinhos não fiquem muito agitados na companhia uns dos outros.
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Lá pelo meio dia, uma hora da tarde, é hora do almoço. Normal. Na Alemanha, não é comum receber vale refeição do trabalho e como comer fora costuma ser caro, quase todo mundo leva comida de casa. Muitas vezes as pessoas saem pra comprar comida e trazem para comer dentro do escritório, pois os supermercados oferecem buffet de saladas e pratinhos prontos, que basta colocar no microondas e voilá!
Levar marmita também é comum no Brasil, principalmente na segunda metade do mês quando o ticket já acabou faz tempo e ninguém quer mais gastar com alimentação. Mas lembro que no início do mês era de praxe usar a hora do almoço para socializar com os amigos, conversar e sair um pouco do ambiente de trabalho, o que não é tão comum aqui.
Acabou o almoço e é hora de escovar os dentes. Pego a minha necessaire, vou ao banheiro e as pessoas acham aquilo estranhíssimo! “Por que você está escovando os dentes aqui?”, “Os brasileiros devem aprender a dar muito valor aos dentes na escola”, são frases que já ouvi mais de uma vez e que me fazem ficar um pouco reflexiva. Sim, nós brasileiros somos o “estranho” povo que escova os dentes após as refeições. E olha que a empresa geralmente nos oferece plano dental no Brasil, o que na Alemanha é caríssimo e quase ninguém tem. Uma limpeza nos dentes custa em média 100 euros, o que me faz crer que eles deveriam ter um cuidado dobrado com isso. E sim, algumas pessoas até acham um pouco nojento o fato de escovar os dentes no escritório. Vai entender!
Quando chega o dia do seu aniversario, é comum que você leve bolo ou algo para as pessoas comerem e beberem. Os colegas de trabalho vão até a sua mesa numa certa hora do dia, cantam parabéns (sem bater palmas) – um dos momentos mais constrangedores que vivi aqui – e desfrutam da sobremesa oferecida pelo aniversariante. Isso tem um lado legal na minha opinião, porque se você é estrangeiro, é uma oportunidade de levar algo típico do seu país para as pessoas experimentarem. Eu levei brigadeiro uma vez, eles acharam muito doce (mas foi interessante mesmo assim). Além disso, assim como no Brasil, todos dão uma pequena quantia em dinheiro para comprar um presente para o felizardo do dia.
O fim do expediente vai chegando e as pessoas vão embora no horário. Estranho, né? Há excessões obviamente, especialmente quando trabalha-se com publicidade e tudo tem prazo. Porém, a maioria vai embora e nada mais justo. Eu já ouvi alguns alemães dizerem que não é legal para imagem do funcionário ficar até tarde na empresa. Primeiro porque é natural que todos saiam no horário e se alguns ficam, podem fazer com que os outros se sintam mal por irem embora, e isso pode de alguma forma afetar a política da empresa. Segundo, porque pode parecer que a pessoa não consegue dar conta do próprio trabalho dentro do devido tempo.
Às sextas-feiras, se o funcionário tiver terminado suas obrigações, está liberado para sair a partir das 15h30. O famoso Feierabend (não tem tradução, mas é algo como “hora de curtir a tarde”) é a melhor invenção dos últimos tempos. Tiro o meu chapéu para os alemães nesse quesito. Para eles, a qualidade de vida é mais importante e estão certíssimos. Quantas vezes no Brasil já me olharam atravessado por ir embora no horário… isso é muito mal interpretado na nossa cultura, o que não faz o menor sentido. Ponto pra Alemanha!
É interessante dizer que aqui o funcionário passa por seis meses de experiência antes de ser efetivado. Geralmente é feita uma avaliação aos três e aos seis meses e, se algo não vai bem, ainda há chance de melhorar. Quando esse período passa, o empregador precisa ter um motivo concreto para demitir o funcionário, caso assim queira. Ou a empresa perdeu clientes, ou a área dessa pessoa vai deixar de existir, ou seja, é necessário que haja uma justificativa oficial. Caso contrário, o colaborador pode processar a empresa e facilmente ganhar. Fora isso, o aviso prévio é de três meses, ou seja, quando alguém é demitido, deve receber três meses de salário, se pedir demissão e preferir deixar a empresa imediatamente, o funcionário precisa pagar o valor relativo a três meses de salário para ser liberado.
A licença maternidade/paternidade na Alemanha é de um ano e pode ser dividida entre os pais. Após um ano, pode-se tirar mais dois anos não remunerados, se assim preferirem. Também é muito comum aqui o part time job, onde a pessoa trabalha apenas meio período e ganha o salário proporcional a esse tempo. É claro que ainda assim, como em muitos lugares do mundo, a mulher na Alemanha ainda sofre muito preconceito antes de ser contratada para uma vaga. Especialmente se ela já está na casa dos trinta e “está na idade” de pensar em ter filhos. Mesmo que não seja obrigatório falar a idade ou colocar no currículo, ainda há esse preconceito que muitas de nós já vivenciamos. E mais, aqui também existe diferença salarial, onde ambos os gêneros ocupam o mesmo cargo, mas nós mulheres recebemos menos, apenas por sermos mulheres. Esse mundo ainda tem muito o que evoluir!
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O que posso concluir nesse tempo que estou aqui, é que o alemão sabe bem separar o trabalho da vida pessoal. Na empresa, não há amigos, mas colegas e você está lá para trabalhar e fim. Obviamente que as pessoas também fazem amigos no trabalho e separam momentos para trocar uma idéia, afinal somos seres humanos e não máquinas. No entanto, o alemão faz isso muito menos do que o brasileiro, por exemplo. Eles tentam focar o máximo de tempo no trabalho enquanto estão lá, para irem embora cedo e curtirem suas vidas fora de lá. Faz sentido.
2 Comments
Maira, aqui em Curitiba é bem parecido no quesito “colegas”.
Adorei Maíra! Que continue tudo dando certo por aí! Beijos