Como sempre sonhei em morar fora, eu e meu marido, com nossos dois filhos felinos, decidimos largar tudo e partir em busca de uma nova aventura em solos dinamarqueses. Tínhamos um casal de amigos morando em Esbjerg e por isso escolhemos essa pacata cidade no sul do país para chamar de novo lar.
No início, ninguém estava nos levando a sério, na verdade acho que nem nós mesmos acreditávamos, até de fato comprarmos as passagens. Demorou um ano pra organizarmos tudo e, pra cada coisa que resolvíamos, descobríamos três que ainda teríamos que resolver.
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Juntamos as nossas economias, organizamos a documentação, fizemos todos os exames necessários nos gatos, alugamos o nosso apartamento pra um completo estranho, com todas as nossas coisas dentro e partimos. Trocamos o certo pelo duvidoso e a estabilidade por algo que seria completamente diferente.
Após dois aviões, algumas muitas horas de trem, quatro malas e dois gatos, nós chegamos.
O meu marido tem cidadania alemã, o que facilitou bastante o nosso processo de mudança e nossos amigos (um deles dinamarquês), nos ajudaram muito na procura por um apartamento e burocracias. Sob as leis da União Europeia, nós dois tínhamos permissão para trabalhar e estudar.
Recebemos do governo um curso de dinamarquês gratuito para frequentarmos duas vezes por semana e a saúde pública funcionava maravilhosamente bem. Na Dinamarca, ao se cadastrar como morador, você recebe uma carteira de identidade com o nome e endereço do seu médico, que é um clínico geral. O interessante é que se você precisar ir ao ginecologista, por exemplo, é necessário ir primeiro nesse médico, para que ele te encaminhe a um especialista.
No inicio tudo parecia perfeito. Nós estávamos cheios de energia e absurdamente empolgados com a nova vida e com a ideia de fazer aquilo dar certo. Porém, o tempo foi passando, o dinheiro acabando, a dificuldade de conseguir um emprego legal permanecia e o inverno se aproximava.
Eu, como uma boa carioca apreciadora de sol, praia e calor, senti um grande choque nesses onze meses em que vivemos lá. Apesar de a Dinamarca ser um país incrível e que beira a perfeição quando se trata de qualidade de vida, saúde, educação e alimentação, deixa um pouco a desejar nos quesitos verão e relacionamento interpessoal.
Não que isso seja uma crítica negativa, afinal é cultural. Porém foi um choque gigante pra mim. Me vi em um ambiente completamente diferente do meu, com pessoas que se comportavam de um jeito completamente diferente do que eu estava acostumada. Pra mim, foi uma mudança muito brusca e em seis meses a depressão começou a me rondar.
Ninguém disse que ia ser fácil e eu sentia que não estava na hora de desistir e voltar. Foi aí que começamos a avaliar as possibilidades e acabamos na terra alemã da cerveja e do futebol.
Quando chegamos em Munique era verão. Saí do carro, tirei o casaco e chorei de felicidade quando senti o vento quente de 28 graus batendo no meu rosto. Era verão de verdade! (E inverno também!).
Perrengues à parte, morar lá foi uma experiência maravilhosa. Eu trabalhava num hostel pela manhã, estudava alemão à tarde e nas horas vagas trabalhava como voluntária pro TEDx da região. Entre setembro e outubro a cidade ficava em êxtase e mais lotada de turistas do que o normal. A tão esperada Oktoberfest chegava trazendo aquele espírito carnavalesco em que qualquer hora é hora pra tomar uma e celebrar.
Sempre fiz questão de me manter bem ocupada pra que aquela maldita deprê ficasse bem longe. Eu estava feliz, mas percebia que faltava algo. Por mais que Munique seja uma cidade extremamente turística, pasmem, ela não é tão internacional assim. A tradição é muito prezada lá, na mente e no dia a dia das pessoas, o que começou a me incomodar um pouco. A busca por uma vida mais livre de preconceitos, mais aberta a entender as diferenças e aceitá-las me trouxe a Düsseldorf. Uma cidade com a mente mais jovem e internacional.
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Hoje a nossa casa é aqui. Fomos muito bem recebidos e fizemos mais amigos do que em qualquer outra cidade fora do Brasil. Amigos de verdade, não só de cerveja. Pela primeira vez, nós dois estamos trabalhando no que gostamos e conseguimos juntar uns trocadinhos todo mês pra viajar e continuar desbravando esse mundão.
Outro ponto legal de Düsseldorf é que é bem central e dirigindo poucas horas você chega na Holanda, Bélgica e França. Eu adoro!
A saudade de casa, dos amigos, da família, do mate da praia, nunca vai passar. Às vezes parece que eu tenho um buraco negro que agoniza dentro do meu peito (sem exageros!). De tempo em tempo eles vêm nos visitar e vice e versa, mas é claro que não é a mesma coisa.
Sinto muita falta da convivência. De coisas simples como ir ao cinema junto, sair pra tomar um chopp gelado ou apenas fazer uma visita rápida. É reconfortante saber que as pessoas que você mais ama estão ali do lado, a alguns bairros e não a um oceano de distância. Mas a vida é assim e a gente vai levando.
Muitas vezes você se pega com vontade de largar tudo e voltar, e começa a arrumar desculpas pra si mesma: ‘’A língua é difícil’’, ‘’Nossa, como as pessoas daqui são frias!’’, ‘’Se eu estivesse no meu país essa situação teria sido diferente!’’. Mas aí você volta à consciência e se dá conta de tudo aquilo que você conquistou até o momento. De como você cresce a cada dia e da importância que tudo isso está tendo na sua vida, independente de se um dia, de fato, você decidir retornar ou não.
Como eu aprendi nesses três anos e continuo aprendendo! Trago comigo um pouquinho da experiência de cada lugar e sou extremamente grata por poder viver tudo isso. Eu sei que não é fácil, por isso fico feliz de poder compartilhar as minhas experiências, para que elas possam ajudar e encorajar outras pessoas a viverem esse mesmo sonho.
4 Comments
Adorei ,Maíra,muito bem situados suas experiências e ao mesmo tempo esclarecedoras e encorajadoras.
Obrigada, Dalva! 🙂
Muito bom o texto, Maira!!! Não é fácil mesmo essa vida de expatriada, mas vale a pena!!!! 🙂
Obrigada, Livia! 🙂 Sim, vale muito a pena!