Custo de vida e estilo de vida estão, obrigatoriamente, relacionados. Não há como pensar um sem o outro e, portanto, quanto custa viver em qualquer lugar do mundo é completamente peculiar ao modo de vida de cada um. Mas, reduzidas as suas expectativas, é possível oferecer algumas das minhas impressões sobre o tema.
Primeiro grande erro: comparar. Ao comparar damos relevo a algum aspecto que, em determinado momento, é muito importante. Por exemplo, se você mora de frente para a praia no Rio de Janeiro, ama caminhar nas areias ou no calçadão todas as manhãs e comparar essa realidade com a vida em Londres, certamente sentirá saudade da praia, do clima e da energia do carioca. Ou seja, cada comparação está prenha de valores e de pontos específicos que, se colocados sob a lente, podem lhe oferecer uma leitura comprometida de qualquer realidade.
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Entretanto, se compararmos vinhos, produtos de beleza, queijos, óleos essenciais, algumas marcas específicas (etc), a França é o paraíso econômico que você sonha! Mas, se comparados ao mamão, abacate, manga, carnes (várias), água, energia elétrica (etc), o Brasil é o éden.
Portanto, cada item que pensarmos, aqui, consistirá em alimentar o movimento pendular, cerne da questão.
Como é o seu estilo de vida e o quão flexível você pode ser?
Um apartamento de 2 quartos dependendo da cidade custa, em média, 700€ . Estamos falando de algo em torno de 60m² – o que é grande para os padrões franceses. Tudo pode tornar esse valor maior ou menor: se o apartamento é reformado, se é no térreo ou na cobertura (quanto mais alto, mais caro), se há elevador ou não, se há varanda ou não… e por aí vai. Um detalhe: é cultural que os imóveis “sirvam” aos seus donos e não o contrário. Ou seja, é possível que o apartamento esteja caindo aos pedaços, ainda que seja “aquecido” e “iluminado”.
Já a energia vai depender de quanto é contratado, em outras palavras, você diz quanto acha que gastará e paga por isso. Simples? Nem tanto, você pode pagar demais – e esperar pelo “ajuste”; ou de menos – e ter que desembolsar uma bolada. Em média, ficamos nos 100€ . A água e o condomínio podem estar relacionados, ou não. É possível pensar num valor em torno dos 80€. Além disso, há internet, telefones com planos de dados, TV (há uma taxa que pagamos por ter televisão e ela se chama “contribuição audiovisual pública”. Sim! Ter um aparelho de TV custa! Mesmo que você não tenha TV a cabo). Para isso, podemos considerar algo em torno dos 80€ .
Quanto custa morar é sempre relativo. Se você tem um imóvel próprio, paga duas taxas (como se fosse o IPTU e mais uma taxa de “moradia”). Se você aluga, paga apenas a taxa de moradia, que pode girar em torno de 1200€ por ano (em um apê de 60m², por exemplo). Os impostos são um caso à parte e assustadoramente cruéis.
Já a academia, eu acho uma pechincha: pagamos 30€ num plano em que um paga e o outro vai na aba! Inclusive, além disso, podemos fazer dança, yoga, pilates, assobiar e chupar cana! A única coisa que falta é a disposição.
A saúde é pública e quase gratuita. Quase. É preciso pagar a “mutuelle”, uma espécie de segurança para as taxas que não são cobertas pelo governo. Mas funciona. E bem. Os dentistas são menos “célebres” que os nossos.
Contudo, não respondi a pergunta, eu sei. “Quanto custa viver?”
Não custa nada! É de graça.
Sobreviver custa! É incansável a energia que dispendemos ao viver de maneira frágil. É dispendioso viver no vazio; é exorbitante o preço que pagamos pela infelicidade, seja ele qual for; é custoso não ousar, não tentar, não mergulhar nas infinitas possibilidades de experimentar a nossa própria existência. Viver é uma pechincha. Não viver custa caro.