Depois de quase três anos morando em Tallinn, a capital da Estônia, chegou a hora de me mudar mais uma vez de país. Dessa vez não foi uma escolha só minha, e sim uma decisão feita em casal. Nós amamos a Estônia, que é a terra natal do meu companheiro, mas depois de um tempo começamos a sentir que era hora de partir para o seguinte nível dessa aventura chamada vida.
Confesso que foi muito difícil para eu me acostumar com a ideia de mudar de país novamente. Até a hora da decisão final, onde não havia a opção de “cancelar tudo” e ficar, acho que ainda não tinha caído a ficha que eu estava deixando um lugar de que amava, rumo ao desconhecido uma vez mais. Eu já estava aprendendo a me comunicar no idioma local, tinha um emprego que adorava, montado o apartamento do jeito que eu queria e feito amizades muito especiais.
A mudança para Zurique veio em um momento em que tudo estava bem, e não foi uma decisão feita às pressas ou que era extremamente necessária em nossas vidas. Mas eu sei que é exatamente o sair da zona de conforto o que nos faz crescer, como pessoas e em nossa vida profissional. Por isso, fizemos as malas e partimos para a Suíça em busca desse crescimento que não estávamos seguros de que seria possível alcançar na Estônia.
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Como eu sabia que iria estar desempregada por um tempo em Zurique, preferi não me aprofundar muito na quantidade imensa de informação que existe sobre a cidade na internet antes de chegar de fato à Suíça. Sabia que teria bastante tempo para me informar, correr atrás de burocracias e conhecer a cidade e os costumes locais pessoalmente. Claro que procurei me informar sobre o básico antes da minha chegada, mas queria que a cidade me surpreendesse e que me fizesse sair de casa e explorá-la.
No começo, é inevitável comparar nossa nova cidade com a anterior. Quando me mudei do México para a Estônia, o choque foi grandíssimo pois comparada à Cidade do México, Tallinn é um “pueblito“! Já Zurique, apesar de ter aproximadamente o mesmo número de habitantes que Tallinn, é bem maior e mais cosmopolita que a capital da Estônia.
Eu cheguei em um final de semana de muito sol e calor, e no mesmo dia fizemos uma caminhada de 20km do hotel onde estávamos morando até o centro da cidade e o lago Zurique. A primeira coisa que me impressionou foi a quantidade de pessoas andando nas ruas, pessoas sentadas ao lado do lago e do rio, pessoas por todo lado! Em Tallinn, durante a primavera e o verão, o centro histórico com certeza fica lotado de turistas, mas em geral a cidade é bem “vazia”. Quando passamos muitos meses por lá, sem viajar para cidades maiores, é chocante ver tanta gente junta ao mesmo tempo.
O segundo choque cultural foi, com toda a certeza, o uso de cartas para resolver todas as questões burocráticas imagináveis, desde o registro na imigração, receita federal, abrir conta em banco, comprar um chip de celular, assinar documentos do seguro de saúde, tudo é feito através de cartas. Isso é até normal em muitos países no mundo, mas para quem estava acostumada com como as coisas funcionam na Estônia, é realmente outro mundo. Há poucos meses escrevi sobre a sociedade digital da Estônia, e confesso que aceitar que agora teria que me acostumar com esse esquema de correios-cartas-carteiro me tirou do sério nos primeiros dias.
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Depois de um tempo entendi que o sistema de correios funciona muito bem e é extremamente rápido, mas é claro que eu gostaria de ver, no futuro, mais países usando a Estônia como exemplo e começando a digitalizar serviços. É muito mais rápido e prático!
Outra coisa que senti (e ainda sinto!) muita falta que na Estônia tem, mas na Suíça não: transporte público gratuito. Em Tallinn e cada vez mais em várias outras cidades do país, todos os residentes tem acesso à rede pública de transporte, de graça. O sistema público de Zurique é excelente e muito eficaz, mas também bastante caro. Entendo que os salários também são maiores que na Estônia, mas seria ótimo ter um gasto a menos, principalmente enquanto dependemos de apenas um salário em casa. O mesmo vale para o seguro de saúde: importantíssimo e obrigatório, e infelizmente caríssimo, ao contrário do sistema público estoniano.
Uma das poucas coisas que eu já sabia sobre a Suíça antes de chegar era o fato dos sinos das Igrejas tocarem muito. Eu não entendi muito bem a primeira vez que me disseram para escolher “qualquer apartamento, menos um que seja ao lado de uma Igreja!”, mas entendi direitinho no meu primeiro domingo em Zurique: nosso quarto de hotel tinha vista para uma Igreja, cujo sino tocou sem parar das 9:45 da manhã até as 10. Isso mesmo, 15 minutos de badaladas, e é assim regularmente durante o dia e a noite também. A Estônia é um dos países menos religiosos do mundo e mesmo havendo Igrejas, o badalar de sinos não é tão extremo como do da Suíça. Assim como o transporte público sempre chega no horário, os sinos tampouco falham aqui em Zurique!
Outro ponto que acho que impressiona a todos os recém chegados na Suíça, é a coleta de lixo. Eu já sabia que o país possui um sistema de coleta seletiva muito eficaz e é um dos que mais reciclam no mundo. No começo confesso que foi bastante complicado entender o quê, onde e quando deveríamos jogar nosso lixo, principalmente com tantas embalagens de mudança! Algumas coisas são coletadas na porta de casa, como lixo comum, papel e papelão, e outras você tem que levar a algum dos centros de coleta espalhados pelos bairros, para reciclar vidro, metal, baterias, plásticos PET e óleo de cozinha, por exemplo. Apesar da Estônia contar com coleta seletiva também, minha primeira impressão é que a da Suíça é muito mais eficaz, por que praticamente “obriga” o cidadão a separar seu lixo adequadamente.
Mudanças são sempre difíceis, e as vezes é doloroso aceitar costumes e regras diferentes dos quais já estamos habituados. A Estônia sempre ocupará um lugar especial no meu coração, mas estou feliz por poder conhecer a Suíça e ter uma experiência incrível aqui!
1 Comment
Olá Ana, tudo bom?
Me chamo Mauro e estou lendo seus posts sobre a Estônia e estou muito interessado em imigrar pra lá, por conta das vantagens que vc mencionou, mas principalmente emprego, pois sou da área de TI.
Gostaria de ter seu e-mail para poder saber um pouco mais sobre alguns processos de imigração e etc. Além de tirar algumas dúvidas.
Desde já, agradeço pela atenção!