Quatro danças peruanas que você tem que conhecer e se você gosta de manifestações culturais, o Peru é um prato cheio!
No Peru existem mais de 800 tipos de danças, em suas três regiões: costa, serra e selva. Hoje vou falar de quatro delas que eu mais gosto. São danças que encantam, não só por sua beleza, mas também por sua história.
Huaylarsh – Também conhecida como Huaylas, é uma das minhas favoritas, a qual carinhosamente chamo de “sapateado ou catira andino”. Vem da região de Huancayo (Junín), considerada a região mais feliz do Peru, porque tem festa o ano todo, mas também é dançada em Cusco e Huancavelica.
O Huaylarsh, do aymara “campo verde”, são celebrações que estão associadas à cosmovisão andina da cultura Wanka, que veio bem antes dos incas. É uma dança forte e alegre, onde se batem palmas e os pés, acompanhadas de gritos de felicidade, e é dançada por homens e mulheres que podem representar a celebração pela colheita (Huaylla), a “paquera” entre dois jovens (Huayllu), uma briga entre homens ou competição entre homens e mulheres (Waylas).
Existe o Huaylarsh Antigo e o Moderno (data de 1973). A diferença entre eles são os trajes e os instrumentos utilizados. Enquanto o Huaylarsh antigo tem uma vestimenta mais simples e menos instrumentos musicais, o moderno traz trajes luxuosos, com finos bordados e uma verdadeira orquestra acompanhando.
Os instrumentos usados são o clarinete, o saxofone, o violino, o violão e a harpa.
Em Lima, você consegue assistir a uma apresentação de Huaylarsh em qualquer época do ano, agora, se você quer se aprofundar e conhecer o verdadeiro Huaylarsh, vale viajar até o Valle del Mantaro (Junín) no mês de fevereiro, quando celebram o carnaval por lá.
Tushruhuy walarsh: Dance, disfrute e se alegre, jovem!
Danza de Tijeras (Dança das tesouras) – A primera vez que vi essa dança, fiquei hipnotizada: “Como conseguem dançar, pular, e segurar uma tesoura ao mesmo tempo?”. É uma mistura de dança com acrobacias.
Reconhecida como Patrimônio Cultural da Nação em 1995, e como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade em 2010 (UNESCO), a Danza de Tijeras é indígena e veio de Ayacucho, mas também é dançada em Huancavelica e em Apurímac. Os dançarinos são chamados de Supaypa Wasin Tusuq ou Danzaq, dançarino da casa do diabo. Mas, de onde vem esse nome?
No século XVI, os videntes, bruxos e curandeiros foram perseguidos e eram chamados de filhos do diabo (supaya wawan, em quéchua), e se refugiaram nas zonas mais altas do país. Pra voltar a viver em suas cidades, os “filhos do diabo” deveriam dançar em honra aos santos e a Deus, com trajes espanhóis. As tesouras teriam sido feitas pelos auquis, divindades indígenas, e o som que reproduzem viria da lagoa Yauruviri. Outra versão da história, é que a dança se chamava Taki Onkoy, que em quéchua significa “Rebelião dos Huacas”. Huacas eram seres que possuíam os índios e os faziam dançar e cantar, impondo-se sobre outros deuses para manter viva sua religião.
Os instrumentos utilizados são o violino e a arpa. E, detalhe, as tesouras, de 20 cm de comprimento, devem “tocar” no compasso da música!
Vídeo: Danza de Tijeras (a partir de 4:20)
Los Caporales – Los caporales é a recriação de várias danças e é executada no Peru e na Bolívia, e nasceu, mais precisamente, às margens do Lago Titica, na fronteira dos dois países.
A dança se originou do Tundique que era dançado somente por homens, que ao mesmo tempo tocavam seus bumbos. Logo, derivou a Tuntuna, onde os homens deixaram os bumbos, e entrou a mulher para acompanhá-lo. A dança evoluiu mas não perdeu o seu ritmo próprio: dois golpes seguidos ao som do bumbo, um breve espaço de silêncio e outra vez os dois golpes, e assim sucessivamente. Logo surgiu a Saya, com movimentos mais elegantes, e delicados por parte das mulheres e mais fortes e “varonís” por parte dos homens. Entre eles pareceu o caporal, que era um capataz escolhido pelos espanhóis na época colonial para supervisionar o trabalho dos escravos, quem dirige a dança com um apito e um chicote. Como o número de caporales foi crescendo, se deu origem à nova dança: Los caporales.
Os instrumentos usados são o violão, a flauta, o bumbo (ou bateria), pratos, e um tipo de soalhas que os caporales levam em suas botas e batem os pés no ritmo da música.
Os trajes são muito coloridos e chamativos, mudando os tons da roupa de acordo a qual agrupação pertence. Os homens usam blusas e calças largar com botas, e as mulheres saias curtas com um tipo de body com mangas bufantes e longas, e o chapéu tipo coco, chamado de gorro de cholita.
Clique aqui para conhecer o Caporales.
Marinera – No Peru, existem dois tipos de Marinera: a Limeña e a Norteña.
A Norteña é a minha preferida por ter movimentos mais fortes, enquanto a Limeña é mais “suave” e elegante.
A Marinera Norteña, como o próprio nome diz, vem do Norte do Peru (Chiclayo, Piura, La Libertad), e tem sua origem nos bailes africanos inspirados no ritmo de acasalamento do galo e da galinha (eu sempre desconfiei disso, mas pesquisando pra escrever este texto, confirmei minhas suspeitas), nomeada como Zamacueca. A Marinera teve vários nomes: Mozamala, Pelea de Cajón, e Chilena, esta última foi descartada pelos patriotas nacionalistas na época da Guerra do Pacífico contra o Chile, e decidiram fazer uma homenagem à Marinha de Guerra do Peru, nomeando a dança, por fim, como Marinera.
É uma dança em que o casal “flerta”, como uma dança de acasalamento. O homem usa um elegante traje, com sapatos e um chapéu, e a mulher usa vestidos esvoaçantes e leva um lenço à mão, que dá mais leveza e elegância à dança. Na Marinera Limeña a mulher usa sapatos de salto, e na Norteña ela dança descalça.
A Marinera também é dançando com o cavalo de paso peruano! Sim, um cavalo! E é linda.
Os instrumentos utilizados são o violão, o cajón , tambores, e instrumentos de metal como o trombone.
Clique aqui para assitir ao video da Marinera Norteña (a partir de 1:07)
E você, qual dessas danças peruanas mais gostou?