Casamento é uma escolha e uma decisão a ser levada muito a sério, mais ainda quando decidimos nos casar com um estrangeiro/casamento multicultural. São tantos desafios a serem enfrentados que, na maioria das vezes, causam muitas duvidas sobre casar ou não, muito mais que entre casais da mesma nacionalidade. Alguns dos desafios são a barreira da língua, costumes, hábitos alimentares e até a decisão de em que pais irão morar. Estes desafios se multiplicam quando o casal decide ter filhos, pois sempre há diferença na criação quando os pais possuem diferentes nacionalidades.
Eu me lembro claramente da reação da minha avó, quando meu marido me pediu em casamento para ela. Ela amava o Larry e pediu para conversar individualmente com cada um de nós. Eu só vim a saber o que ela conversou com o Larry um ano depois de casada, mas ela deu excelentes conselhos a ele. Para mim, a primeira coisa que ela perguntou foi se eu estava preparada para morar em outro país, mesmo que naquele momento morássemos no Brasil e se estava preparada para enfrentar os desafios de um casamento.
Minha avó havia morado nos Estados Unidos no inicio do casamento dela porque meu avô era médico e veio passar dois anos na Pensilvânia fazendo uma especialização. Mesmo ela não sendo casada com um estrangeiro, ela enfrentou diversos desafios. Esta conversa me marcou muito e até hoje me beneficio da experiência dela e de seus conselhos. E durante o meu casamento, o apoio e compreensão dela foram fundamentais.
O primeiro ano de qualquer casamento é um período de adaptação, onde o casal passa a se conhecer de verdade porque a convivência do dia a dia muda todo o relacionamento. Eu sempre brinco que em um casamento multicultural este primeiro ano é um “primeiro ano com esteroide”! É muito mais intenso para um casal multicultural do que para qualquer outro. Nós, que sobrevivemos a este ano, sabemos o quanto ele é difícil e o quanto é recompensante. E sabemos também o quanto de trabalho dá investir nesta relação.
Nós abrimos mão de muitas coisas para viver um grande amor. Só nós sabemos o quanto isto é difícil mas também o quanto vale a pena nos arriscarmos. Muitas pessoas próximas questionam a nossa decisão. Na maioria das vezes nós acabamos sem família ou amigas por perto. Nas horas difíceis não temos ninguém ali do lado para nos ajudar ou apenas para ouvir os nossos desabafos. A solidão passa a ter um outro significado para quem encara o desafio de se mudar por causa de um casamento.
Por mais que a Internet tenha feito o mundo ficar menor, quando se está longe nem sempre as pessoas estão disponíveis nos horários que precisamos falar com elas. E as conversas pela Internet não substituem um almoço ou um encontro com a mãe, a irmã ou a melhor amiga. As amizades que ficam se fortalecem muito. Por outro lado, esta distância das pessoas acaba aproximando os casais porque vocês acabam só podendo contar um com o outro e fazendo com que o relacionamento se fortaleça. Não dá para ficar brigado com a única pessoa que está a seu lado! Querendo ou não, acabamos amadurecendo muito durante este primeiro ano.
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As dicas que eu costumo dar para os desafios deste primeiro ano, mas que valem também para qualquer fase de um casamento feliz são as seguintes, mas eu preciso fazer um parêntese aqui e dizer que estas dicas são para relacionamentos saudáveis. Se você estiver em um relacionamento abusivo procure ajuda imediatamente:
- Respeito: respeite sempre o seu parceiro, respeite a si mesma e exija ser respeitada;
- Assuma responsabilidade pelos seus atos e suas escolhas. Não se vitimize;
- Nunca, jamais, em tempo algum discuta com o seu marido quando estiver muito irritada. Você irá acabar se alterando, levantando a voz e perdendo a razão. Espere seus ânimos esfriarem e converse sobre o problema;
- Sempre que for conversar sobre o problema foque em pontos específicos: o que te incomodou, como e porque e procurem encontrar uma solução juntos;
- Tente conhecer e se adaptar à nova cultura, aprendendo a língua e incorporando certos hábitos mas sem perder a sua identidade;
- Procure apoio da família e de amigos sempre que precisar;
- Quando falar de problemas com pessoas próximas, exponha a situação mas evite falar mal do marido: você irá perdoá-lo e esquecer e eles, não;
- Considere que certos hábitos do seu marido que a incomodam podem ser diferenças culturais e converse com ele sobre estas diferenças, explicando como nossa cultura é diferente;
- Se abstenha de julgar antes de conversar;
- Faça o seu marido entender o quanto você abriu mão da sua vida para estar ali ao lado dele e o quanto ele precisa te apoiar;
- Criem rituais e os mantenham, mesmo após ter filhos – sair sozinhos, só os dois; tomar um vinho ou um chá escutando uma música em casa; cozinhar um prato junto; pintar; enfim, algo que seja prazeroso aos dois e que vocês pratiquem uma vez por semana;
- Procure sair de casa e fazer amigos através de um emprego, um curso ou um hobby;
- E, por fim, o que eu considero o mais importante. Se pergunte sempre: O que é mais importante, ter razão ou ser feliz?
Seguindo estas dicas eu garanto que qualquer casamento será mais feliz. E no fundo, o que todas queremos é sermos amadas e felizes. O resto a gente resolve.
5 Comments
Muito bom texto!!
Obrigada, Pri!
Isso tudo é muito relativo..
E as dicas.. é praticamente o óbvio
Abraços e boa sorte
Boa noite Cecília!!
Parabéns pela objetividade em tratar um assunto tão complexo.
Excelente texto!
Sou advogada em Direito de Família, e é lamentável o alto índice de divircio gerada pela ausência de diálogo e compreensão.
Abraços,
Vânia Lucatelli
Obrigada, Vania! Abracos