Glasgow é a maior cidade da Escócia e por isso mesmo é a que tem o ar mais urbano e cosmopolita.
A arquitetura mistura edifícios da era vitoriana e pós-industriais com construções da chamada Glasgow School, um grupo de arte e arquitetura modernista cujo expoente é o arquiteto Charles Rennie Mackintosh. A assinatura dele e outras criações inspiradas em seu trabalho podem ser vistas pela cidade.
Algo notável aqui na Escócia é a diferença das rochas utilizadas na construção das cidades, dependendo do que há de disponível na região. Aberdeen por exemplo, tem o cinza do granito e Edimburgo, a cor do arenito amarelo. Em Glasgow foi usado o arenito vermelho, o que torna esta cor predominante em vários bairros.
Glaswegian é o termo que se refere tanto às pessoas que nasceram na cidade como ao dialeto local. É talvez o lugar em que tive mais dificuldade de me acostumar a ouvir os locais aqui no Reino Unido. Mas uma vez que se aprende o sotaque, é interessante e divertido notar as particularidades e as diferenças das formas de falar com o restante do país. Aqui na Escócia acho a maneira de falar mais musical, mais agradável de ouvir.
A cidade possui uma cena cultural invejável, comparável a Londres (considero até melhor em alguns aspectos). Quem gosta de música encontra shows todos os dias. Há uma cena independente de música e arte que é muito forte; não à toa a cidade lançou vários músicos e bandas ao mundo. Caminhar pela parte central de Glasgow é uma experiência musical, pois ouve-se vários artistas de rua tocando os mais variados estilos. Muita gente, eu inclusa, se desloca de suas cidades em diversas partes do país para Glasgow para prestigiar eventos culturais que só acontecem por lá.
Quem gosta de arte pode visitar a Kelvingrove Art Gallery, admirando não só suas diversas coleções, mas também seu magnífico corredor principal. Há também o CCA (Centro de Arte Contemporânea) e a GoMA (a Galeria de Arte Moderna), além de inúmeros outros locais dedicados a diferentes estilos.
Uma curiosidade: em frente à GoMA fica a famosa estátua do Duque de Wellington com um cone de trânsito na cabeça. Ela é o retrato perfeito do senso de humor dos Glaswegians. O cone foi colocado na cabeça da estátua por alguém e toda vez que a prefeitura o tirava, ele voltava para cabeça do duque. No dia em que foi retirado de vez, a população fez um abaixo-assinado contra a decisão, obrigando a prefeitura a voltar atrás. E então até hoje o “chapéu” inusitado está lá. De vez em quando outras estátuas também aparecem com o mesmo acessório. A estátua virou um dos símbolos da cidade.
O centro da cidade, marcado pela George Square, a principal praça e palco de celebrações e manifestações, concentra o comércio e serviços com lojas de rede e shoppings. Também marca a divisão entre o oeste, onde fica a Universidade de Glasgow e seus arredores – o boêmio West End – com vários cafés, bares e um comércio local, e o leste – o East End -, com sua herança mais industrial.
Quem vem visitar Glasgow não pode perder uma caminhada pelo parque Kelvingrove, com uma parada no campus da universidade. Outra visita imperdível é à Catedral, no East End. Dela é possível caminhar até Necropolis, o maior cemitério de Glasgow, construído em um morro de onde é possível se ver vários pontos da cidade. Para chegar lá deve-se atravessar uma ponte que, dizem, separa o mundo dos vivos do mundo dos mortos.
Mesmo estando no ambiente mais urbano do país, quem gosta de jardins e áreas verdes vai achar várias opções. No West End, fica o lindo Jardim Botânico; o Glasgow Green é a atração para quem está no East End; e a cidade é rodeada por outros parques maiores incluindo, mais ao norte, o famoso Loch Lomond & The Trossachs.
Se o dia estiver agradável, uma boa pedida é uma caminhada ou pedalada pela beira do Rio Clyde, que banha a cidade e foi o local de desenvolvimento da indústria naval que caracterizou Glasgow em boa parte do século XX. A área das docas foi transformada com a construção de várias empresas e centros culturais, como as sedes escocesas da BBC e da STV (a ITV escocesa), o Glasgow Science Centre (Centro de Ciência de Glasgow) e o Museum of Transport (Museu do Transporte).
Para se locomover entre todos estes pontos é possível caminhar, pedalar ou fazer uso do sistema de transporte público de ônibus, trem ou pelo curioso metrô de apenas duas linhas: uma que vai no sentido horário e outra no sentido anti-horário. Glasgow é a única cidade da Escócia que possui metrô, o terceiro mais antigo do mundo. Se o transporte público for a sua escolha, fique de olho na tabela de jogos de futebol, principalmente se for dia de clássico entre o Celtic e o Rangers, os dois maiores rivais. Os torcedores lotam os trens e os pequenos vagões do metrô para chegarem aos estádios.
Eu gosto bastante de Glasgow também por outro motivo: a cidade é considerada uma das melhores do mundo para vegetarianos. Há uma infinidade de restaurantes dedicados ao estilo e outros que, mesmo não sendo exclusivamente adeptos, oferecem uma variedade de opções. Eu recomendei alguns dos meus lugares preferidos em meu texto dedicado ao vegetarianismo na Escócia.
Glasgow é uma cidade que pode não conquistar seu coração imediatamente como Edimburgo, que parece saída de um conto de fadas. Sei disso por experiência própria. Mas conforme fui visitando mais e mais vezes, me apaixonei por sua cena cultural, sua diversidade e pelos habitantes com seu sotaque, bom humor, criatividade e seu orgulho desse lugar. São eles que fazem de Glasgow, uma cidade que poderia ser só mais um centro urbano parecido com vários outros, um lugar único. “People Make Glasgow” (“as pessoas fazem Glasgow”), diz o lema da cidade. E é verdade.
11 Comments
Que saudade de Glasow e dos glaswegians…. ????
Oi flor eu vou me casar e morar com meu esposo no País dele que é a Escócia você tem dicas de como começar a viver lá trabalhos essas coisas básicas,eu também quero fazer minha faculdade lá,preciso de dicas estou super nervosa beijos
Oi Bruna, é meio difícil responder assim sem algo mais específico. Escrevo todo mês sobre a vida aqui na Escócia, sugiro que leia os meus textos anteriores que têm bastante informação bacana pra você, incluindo sobre emprego, sistema de saúde e universidades. Se você tiver uma dúvida em particular, pergunte aqui ou nas seções de comentários de cada texto que posso tentar responder.
Obrigada,
Daniela
Oi, Daniela! Estou adorando seus textos sobre a Escócia 🙂
Estou em vias de ter minha cidadania italiana reconhecida e estou pensando em me mudar para a Escócia no final do ano que vem. Estou me formando em Direito e termino uma pós-graduação em Relações Econômicas Internacionais no meio do ano que vem. Gostaria de fazer um mestrado em International Economic Law e já vi opções interessantes por aí!
Meu plano seria: me mudar para Glasgow, tentar arrumar um emprego simples e juntar dinheiro por cerca de um ano para ajudar a pagar o mestrado, aplicar para o mestrado e bola pra frente. Você acha esse plano viável?
Queria saber também se você sabe como é a exigência das universidades aí quanto aos requisitos para ser aceito num mestrado. Sei que tem os requisitos básicos que estão nos sites das universidades, mas na prática: ter estudado em uma universidade particular não tão conhecida no Brasil pode ser um empecilho? Um CR de mais ou menos 8,5 é suficiente? Que tipo de experiência eles valorizam mais?
Desculpe pelo texto grande e muito obrigada desde já!!
Oi Paula, obrigada!
Sobre mudar pra cá, recomendo que você planeje bastante. Imagino que quando diz “emprego simples” você se refere a trabalhos como garçonete, atendente, vendedora? Se sim, com uma cidadania européia penso que não terá problemas em encontrar um desses (se nada mudar com o referendo que está acontecendo neste momento em que escrevo), mas sinto dizer que não são empregos para juntar dinheiro, apenas para pagar as contas. Até porque residindo por apenas um ano aqui você continua a ser considerada estudante internacional pelas universidades, tendo que pagar a anuidade que normalmente gira entre 12 e 15 mil libras, mesmo com o passaporte da UE. Claro que se conseguir uma bolsa tudo muda de figura 🙂
Sobre as universidades: vai depender de cada uma. Elas analisam não só a instituição onde você estudou, mas também a média (8.5 de um total de 10 é bem aceito geralmente), o currículo do seu curso do Brasil, as notas individuais em cada uma das cadeiras, etc. Alguns cursos pedem experiência profissional, outros não pedem mas é algo a mais pra fortalecer sua inscrição se você tiver. Eu escrevi dois textos sobre o assunto: a Parte I e a Parte II.
Abraços,
Daniela
Muito obrigada pela resposta, Daniela!
Caramba, não sabia que seria considerada estudante internacional tendo o passaporte da UE. O motivo principal pelo qual quero tirá-lo é poder estudar com as taxas para estudantes europeus. Sabe me informar se é assim em todos os países da UE ou apenas no Reino Unido?
Oi Paula, no geral são necessários 3 anos morando aqui pra ser considerada estudante com direito a pagar as anuidades de europeu. Quer dizer… agora com o resultado a favor de sair da UE pode ser que tudo mude.
Sobre os outros países, não sei te informar a respeito, só conheço as regras daqui do UK. Sugiro consultar os textos das colaboradoras que vivem nos outros países europeus.
Abraços,
Daniela
Daniela, parabéns pelos textos, todos muito bem claros ao que se propõe cada um deles! Creio não ter lido somente uns 2 ou 3, e ainda sim gostaria de uma opinião de quem está aí!
Meu noivo tem cidadania italiana e pretendemos, após nos casarmos, ir para aí já nos próximos meses, antes que comecem as mudanças em função do Brexit. Assim como você, somos vegetarianos, e a parte que fala sobre Glasgow nos influencia a tentar ir pra lá. No entanto, estamos de fato dispostos a começar com empregos mais “simples”, como atendente, garçons, já que nossas formações (Administração e Ciências Sociais) não devem nos ajudar muito com trabalho. Uma amiga que morou aí há mais de 10 anos diz que Edinburgh talvez seja mais indicado pelo turismo. Se fosse nos dar uma simples opinião, onde você acredita que teríamos mais facilidade em encontrar trabalho? Desde já agradeço pelos textos excelentes e que são de grande ajuda!
Oi Talita, eu não vejo muita diferença entre Glasgow e Edinburgh neste sentido. Edinburgh é sim mais turística, mas Glasgow é maior, então creio que haja um equilíbrio aí.
Se vocês têm permissão para trabalhar (a cidadania européia, ainda, dá isso) eu recomendaria a vocês tentar encontrar algo nas áreas de formação que você mencionou. As duas áreas são bem amplas, e se vocês tiverem um bom background e inglês fluente, não vejo porque não dar uma chance a empregos nestas áreas ao invés dos outros citados. Não estou dizendo que há garantia de encontrarem algo (nunca há) e nem que é fácil (não é), mas eu focaria mais nessa opção. Vocês podem começar a procurar agora, ainda no Brasil, em sites de empregos pra sentirem como é o mercado, o que eles esperam e qual a forma de se inscrever para as vagas. E planejem! Lembrem-se que, se vocês não vêm já com um emprego certo, pode ser que tenham que procurar por um tempo, e os gastos aqui são em libras 🙂 Então considerem esta possibilidade e façam um bom pé de meia antes.
Ah! Edinburgh é muito boa pra vegetarianos também 😉
Obrigada por acompanhar os textos e boa sorte!
Sim, já estamos nos preparando financeiramente para o caso de levar algum tempo para encontrarmos algo, já que nada, em lugar nenhum, é garantido! rsrs! Aqui estamos sem boas perspectivas, embora eu seja funcionária pública, não estou feliz e não ganho um salário que faça isso valer a pena. Já ele, a mesma coisa, é professor emergencial no estado, sem perspectiva de concursos em razão da crise que se instalou por aqui… Mas estamos justamente pesquisando bastante, planejando, trocando ideias com quem conseguimos que é para não termos surpresas ruins! Muito obrigada pela sua atenção! Sucesso! 🙂
Igualmente! 🙂