O primeiro passo, que pode fazer uma pessoa beirar o desespero em uma mudança de país, é encontrar uma casa, um quarto ou uma cama que seja para viver tranquilamente e no meu caso, alugar casa na Itália.
Todos os dias vejo nos grupos de facebook as mesmas postagens: “procuro quarto /casa”, e sempre vejo a dificuldade das pessoas para conseguirem um lugarzinho para chamarem de seu. No último período, coube a mim passar por esta desmoralizante e cansativa situação, e confesso, não foi nada fácil, demorei praticamente 6 meses para encontrar um lugar que satisfizesse as minhas exigências e o meu bolso.
Ao mesmo tempo, acompanhei três casais de amigos e pude também observar de perto o quanto esta buscar por um lar doce lar pode descabelar qualquer caboclo, e tirar do sério as pessoas mais calmas, inclusive os que aqui estão há anos, como é o meu caso.
Para alugar uma casa é necessário estar regular na Itália com todos os documentos em dia e a menos que você burle muito o sistema ou invada uma propriedade, com os riscos de ser preso e deportado, conseguirá uma casa fora das regras. Ter conhecidos ajuda muito, mas infelizmente não faz milagre.
Na Itália é possível alugar com imobiliária ou diretamente com o proprietário. Ambos te pedirão a mesma lista de praxe: comprovante de renda italiana em forma de contrato de trabalho por tempo indeterminado, documentos pessoais regulares, 3 meses de aluguel mais a soma do valor do mês corrente, aproximadamente 150€ para gastos com registro de contrato e timbres, e no caso da imobiliária, a soma entre 8% a 10% do valor total do contrato anual e as despesas, mais o valor do IVA (impostos) sobre a negociação. Diretamente com o proprietário tem a vantagem de não pagar a comissão do agente da imobiliária; entretanto, é muito raro conseguir.
Esta brincadeira não sairá por menos de 2.800€ (baseando-se em um valor mensal de aluguel de um monolocale de 500€). Os contratos baseiam-se sempre em 1 ano, 18 meses ou 4 anos + 4 anos, ou seja 4 anos de aluguel com o direito de permanecer o contrato intacto por outros 4 anos sem reajustes e taxas. Para sair da casa ou pedir a casa de volta será necessário um pré-aviso de 3 meses de ambas as partes por carta registrada.
A maior dificuldade aqui é comprovar a renda familiar. Isto impede muitos contratos e te dá o desprazer de muitas portas fechadas na cara. Como muitos proprietários ainda têm a mentalidade da formalidade do contrato de trabalho por tempo indeterminado em mente, graças aos antigos tempos gordos, fica complicado apresentar novas formas alternativas de renda, como as dos trabalhadores autônomos.
A Itália já foi um país muito bom para se viver, e por anos a fio todos tinham bons contratos por tempo indeterminado, sem riscos de ficar na rua da amargura ou desempregado da noite para o dia, com bons valores e atrativos. Sendo assim, esta cultura ainda permanece na cabeça dos mais antigos e de muitos italianos e fica muito difícil explicar que os tempos mudaram e as regras no trabalho também.
E como resolver este impasse? Algumas pessoas pagam a soma de um ano inteiro de uma vez ou até de todo o contrato, outras apresentam extratos bancários, declaração de impostos de renda traduzidos; porém mesmo assim o proprietário cabeça-dura pode não aceitar e bater na tecla do tal contrato e abandonar a tratativa sem a menor compaixão.
Outro grande impasse se liga à esfera do preconceito racial e contra imigrantes; ter a cidadania aqui te abre algumas portas. Um outro grandíssimo problema é o preconceito com um casal jovem que pode vir a ter filhos, ou famílias com crianças; pois aqui é um grande problema para o locador colocar para correr locatários com proles para fora da casa se os mesmos não estão pagando as contas ou criando algum tipo de problema, então para evitar dor de cabeça, muitos nem aceitam pedidos de aluguéis de pessoas com este perfil familiar.
Diferente do Brasil, aqui se a casa foi alugada com a imobiliária a mesma nunca mas vai dar as caras depois da negociação, seja em um aluguel ou na compra. Assim que o agente pegar sua gordinha comissão de ambas as partes, ele simplesmente some e vai sempre caber ao inquilino e ao proprietário todas as demais tratativas. O serviço imobiliário por estas bandas é péssimo, não se espante se você ou o locador correrem atrás de tudo e mesmo assim tiverem que pagar a imobiliária.
Superada a barreira de encontrar uma casa e locador e locatário estarem de acordo, antes de assinar o contrato, eis aqui uma pequena listas de coisas importantes a serem pautadas e discutidas seriamente.
1- Contratos de serviços de água, luz e gás: Deixe claro que você vai escolher o prestador de serviço de acordo com as suas necessidades. Como será possível fazer estas mudanças somente depois do contrato registrado, tire fotos dos contadores junto com o proprietário a partir do momento que as chaves forem entregues, e assinem um documento com as somas registradas.
2- Defina quem vai ficar responsável por toda e qualquer manutenção, de caldeiras, de eletrodomésticos e afins.
3- Negocie pintura e eventuais reformas antes de entrar na casa por escrito, acordando valores e quem vai pagar pelo o que for.
4- Controle as janelas dentro e fora, é muito importante que estejam perfeitas para manter a sua casa aquecida no inverno e não fazer com que o calor saia e horrores de aquecimento sejam pagos. Antes de assinar o contrato, avalie a vedação. Da mesma forma peça ao locador um controle da umidade do local e defina quem deve arcar com problemas causados pela mesma.
5- Faça junto com o locador uma lista de tudo que foi encontrado na casa, assinem juntos para saber o que tem que ser devolvido no final do contrato e separar as coisas da casa das suas.
6- Tente não manter laços estreitos sem limites com o seu senhorio. Mantenha uma relação de locador e locatário prazerosa. Vai ser o suficiente. Cansei de ter amigos, clientes e conhecidos que reclamam da invasão de privacidade, assédio e controle por parte dos proprietários. Ouvi relatos nos quais o locador passa todos os dias apenas para “conferir” a casa, ou liga para te dizer que você não fechou as janelas.
2 Comments
Olá Bruna,
A situação perpetua em 2018?
Olá Polyane,
A Bruna Roland, infelizmente parou de colaborar conosco.
Obrigada,
Edição BPM