Todo ano é a mesma coisa. Vai chegando o verão e em vez de um calor no coração, aqueles que não saem de férias como todo o resto da Itália começam a sentir um frio na barriga, bem no estilo corre-corre que os lugares vão fechar. Aqui, agosto é o mês das férias oficiais de 90% dos italianos e todos escapam literalmente das cidades rumo às montanhas, praias ou até para outros cantos do mundo, se tiverem sorte; porém mesmo sendo férias para quase o país todo, muita gente ainda permanece na dura rotina contando as horas para o mês escolhido das férias chegarem.
Aqui existem 3 períodos nítidos de férias nos quais uma grande parte da população se divide. A primeira leva de junho/julho, a segunda, de agosto, e o pessoal que optou para voltar para casa no Brasil e afins no final do ano em dezembro/ janeiro.
A escola termina nas primeiras semanas de junho e as crianças e adolescentes iniciam as férias escolares. Como muitos pais vão conseguir somente férias no mês de agosto as cidades ficam cheias de atrativos nestes meses de junho e julho. O comércio abre alguns dias da semana até mais tarde com os famosos saldi – as liquidações – de até 70% nas mercadorias; as piscinas públicas abrem por longas horas; teatros, cinemas, museus e tantos outros lugares oferecem programas de verão. Para mim este clima de euforia total é muito semelhante ao das festas de final do ano no Brasil, aquela alegria de viver e esperança de dias melhores contagiantes tamborilando no ar.
Mas assim que se aproxima o final de julho, as coisas começam a mudar; as cidades ficam vazias, as pessoas repetem em demasia as mesmas frases: “E para aonde você vai nestas férias?”, “Vou para a praia!”, “Nos vemos em setembro”.
Quando eu cheguei aqui, em meados de 2011, lembro que a coisa que mais me marcou e principalmente custei a entender foi como um país saia de férias no mesmo período e como todo o comércio e empresas fechavam sem abalar toda a economia? Confesso que alguns anos se passaram e eu ainda não entendo e não gosto desta época. Fico extremamente estressada em ver esses dias transcorridos em marasmo e pausa total. Como boa paulista eu transpiro corre-corre e adrenalina, sempre amei este vaivém e a freneticidade da vida urbana e aqui, agosto me traz este desgosto de viver em modo ‘férias forçadas’, deixando a vida e projetos em pausa, pois eu faço parte da leva que escolhe o final do ano para tirar férias e poder aproveitar o Brasil.
Como mencionado em outros textos eu vivo em uma cidadezinha nos arredores de Milão, amo a cidade grande e seus agitos mas sempre precisei daquele abraço de paz e tranquilidade que uma cidade pequenina pode proporcionar nas minhas horas de repouso; porém são nessas pequenas cidades que o que acontece em agosto fica mais claro na minha mente: uma cidade inteira em pausa, cheia de cartazes dizendo um “até breve”, “até agosto”, “nos vemos depois de…”, fechado do dia tal ao dia tal”, que deixam qualquer pessoa acostumada com rotina mais perdida que cego em tiroteio.
Tenho que mudar os meus horários e até mesmo mudar os lugares que frequento para poder ir naquele que vai estar aberto e pronto para atender as minhas necessidades. Apenas as grandes redes funcionam quase no modo normal, mas em horas reduzidas. Até mesmo o serviço público tem a sua queda nas horas de trabalho e atendimento. Nada se resolve, nada se programa em um país em pausa total, é uma eterna espera para setembro chegar e normalizar a vida e voltar à correria.
O auge da paralização dos italianos acontece no dia 15 de agosto, que é o dia do ferragosto, dia no qual nos primórdios as pessoas paravam para comemorar o bom andamento do ano e das colheitas. Se no dia 15 for um dia que der para emendar o feriado, aí, sim, meu amigo, esquece – é tudo fechado!
Para quem está no meio de uma família italiana, pode se programar que um longo almoço com um menu delicioso é sagrado neste dia. Algumas famílias também saem para almoçar em restaurantes em cidadezinhas vizinhas e lagos.
Durante todo p mês de agosto surgem muitos turistas de todos os cantos do mundo. Caso você, querido leitor, esteja pensando seriamente em planejar umas férias por estas bandas, desaconselho totalmente agosto. Ok, as cidades ficam vazias, encontram-se em grande quantidade lugares vazios para sentar nos trens, trans e metrôs; entretanto quase tudo vai estar fechado com o clássico cartazinho maroto na porta.
E aí vem a pergunta: mas se todos viajam, como vai ser nos lugares mais turísticos?
À primeira vista, vai ser bem lotado e tudo vai dos gostos e vontades dos comerciantes; se o local for de praia e viver desta temporada, a abertura do comércio e uma quase vida normal é certa, mas caso o seu destino não seja um ponto tão turístico assim, pode ser que você dê com a cara na porta em muitos lugares. Por isso, antes de pegar o primeiro voo para a bota pensando em aproveitar o calor pense e repense duas vezes e cogite a possibilidade de mudar a data para setembro, para poder aproveitar quando aqui as coisas voltarem ao normal agito!
No mais, desejo a todos que saíram de mala e cuia de férias por este mundão um bom verão e até setembro!
2 Comments
Bruna, ri tanto com seu post. Morei em Firenze em 2008 e via essas placas mas sei lá, nem me liguei. Eis que um dia rodei a cidade e não achei uma padaria aberta para tomar café. Todo mundo na praia e eu na cidade haha. E pior é que é uma época que o tursimo é bem forte, e eles nem ai….
Ai esses italianos….
Beijos
Rsrs, é rir para não chorar!!! Obrigada por ler o texto! Beijos