Confesso que a ideia do consumo consciente começou a fazer parte da minha vida mais por necessidade do que ideologia. Já contei aqui no blog que nesta segunda mudança para a Austrália eu vim sem emprego garantido e com o dinheiro contato para passar somente os primeiros meses. Então tínhamos um plano simples para montar a nossa nova casa: iríamos comprar o máximo de coisas usadas que pudéssemos, para economizar. E só se não achássemos o produto usado é que compraríamos o novo. A única exceção à regra eram os colchões, panelas, talheres e acessórios de cozinha, roupas de cama, mesa e banho, tapetes e sofá, que preferimos comprar novos.
Ao contrário do que ocorre no Brasil quando alugamos uma casa “pelada”, a maioria das casas ou apartamentos mais novos aqui já vem com cooktop e forno embutido, armários planejados na cozinha, lava-louças, secadora de roupas e closet em todos os quartos. Ainda assim teríamos que comprar todo o resto, como camas, eletrodomésticos, itens de cozinha, mesa de jantar, móveis para sala, TV, microondas, lava-roupas, etc.
O hábito de comprar coisas usadas é algo ultra difundido por aqui. Eu sempre me perguntava por que aqui existiam tantos brechós. Eu acredito que seja porque após os filhos saírem de casa – o que acontece comumente a partir dos 18 anos – muitos casais não vêem mais sentido em manter uma casa grande, vazia, trabalhosa e cara de se manter. Muitas famílias não têm ajuda alguma com o trabalho doméstico. Faxina, cortar grama, limpar piscina, tirar as folhas do quintal… Tudo isso é feito pela gente mesmo.
Em busca de uma vida mais fácil e simples, idosos resolvem se mudar para as retirement villages, que são apartamentos ou casas menores e bem localizados perto do centro comercial do bairro. Acabei de procurar no Google e só no meu bairro existem 25 retirement villages para pessoas a partir de 55 anos. Com o downsize eles acabam doando para as ONGs tudo que não irão levar para a nova vida.
Ou seja, ao invés de gastar tempo limpando e mantendo uma casa e todas as coisas acumuladas em uma vida, eles vão viver a vida: tomar café com os amigos no shopping e restaurantes, jogar baralho na biblioteca ou fazer caminhada nos parques. É a a valorização do SER, ao invés de TER.
Bom, mas vamos então às dicas para os recém-chegados ou para quem estiver planejando a mudança para cá:
- Facebook – Grupos de compra e venda – Os grupos da comunidade brasileira sempre têm posts de pessoas vendendo isto ou aquilo. Entre também nos grupos de vendas do seu bairro ou região.
- Facebook – Grupos de doação – No meu bairro temos um grupo só de doações, que inclusive foi criado por uma amiga brasileira. Quem pedir primeiro no comentário leva. Eu já ganhei caixas de brinquedos e jogos, roupas de inverno novas, mesa de estudos para a minha filha, cama de casal, jogos de copos e outras coisas que nem me lembro mais.
- Marketplace do Facebook app – Muitas ofertas de coisas para venda que foram postadas em grupos acabam aparecendo ali e sempre as ofertas mais perto de você aparecem primeiro.
- Lojas de ONGs – Aqui na Austrália, é bastante comum ver lojas de ONGs como Salvation Army, St Vincent de Paul Society ou Lifeline. Cada bairro tem a sua, ou ainda mais de uma. As maiores vendem móveis e as menores somente roupas, acessórios, livros, DVDs e coisas de decoração e cozinha. Já comprei roupas com etiquetas ou itens dentro da caixa, sem nem terem sido abertos. Eu particularmente gosto de garimpar louças e itens de decoração nessas lojas.
- Garage sales – O pessoal divulga no facebook ou através de cartazes pela vizinhança. São excelentes para comprar itens de bebê e crianças, alem de livros e achados de decoração.
- Gumtree– Este é o principal site de classificados da Austrália. Lá vende-se de tudo e a busca pode ser delimitada por um raio de km a partir de uma localidade que você define. Existe uma categoria chamada Freebies, onde as pessoas postam as doações, desde pets em busca de um novo lar, até pianos, móveis, pneus e tijolos.
- Mercado das Pulgas – Ou em Inglês “Treasure Market”. Recentemente descobri um no bairro ao lado do meu. Imperdível para quem gosta de “garimpar”. Tem sim muita porcaria e cacarecos, mas também coisas bem interessantes e antigas (vintage). Os preços são simbólicos. Comprei cadeiras de madeira sólida para minha sala por $5 cada uma. Vi mesa de jantar com vidro temperado e pés e aço escovado por $30.
- Lojas de departamento – Em termos de preço o Kmart é imbatível. Itens de cozinha como jogos de pratos, copos, acessórios, tapetes, móveis básicos como estantes, almofadas, vasos, velas, tudo isso a preços mais baixos do que em outras lojas. Tem também a Target que eu gosto principalmente pela qualidade e bom preço das roupas de cama e banho.
- IKEA – A famosa loja sueca vende móveis e todo o tipo de artigos para casa que você puder imaginar. São peças lindas, de design arrojado, versáteis e a preços acessíveis. Para minha sorte, tem uma a 1km da minha casa. 🙂
Acho que 70% de tudo que tenho em casa eu comprei em feiras, garage sales, lojas de coisas usadas, ou ganhei nos grupos de doações ou de amigos. TV, video-game, beliche das crianças, máquina de lavar roupas (semi-nova), geladeira, mesa de jantar, tudo isso comprei usado. Tive também a imensa sorte de morar num bairro com uma grande comunidade de mães brasileiras maravilhosas. Logo que cheguei aqui, sabendo da minha situação financeira delicada, ganhei muitas coisas para ajudar a montar minha casa, como mesas de escritório, panela de pressão, mesa e cadeiras para a varanda, torradeira, brinquedos para os meus filhos e até um lustre lindo. Quem tem amigo tem tudo.
Antes quando eu precisava de algo eu simplesmente ia até uma loja e comprava. Hoje eu primeiro pergunto se alguém tem para doar, depois procuro online usado e só então, esgotadas essas possibilidades, eu compro o produto novo. Leva um pouquinho mais de tempo, mas a natureza e o meu bolso agradecem!
“Onde quer que viva, esse é o seu templo, se o tratar como o tal.” – Buda
1 Comment
Perfeito! Meu sonho é poder abrir meu negócio em outro país, e me parece bom a austrália!
grato desde já