A Austrália tem sido, há anos, um dos destinos mais procurados por estudantes do mundo inteiro que desejam estudar inglês ou fazer faculdade fora do seu país de origem. Um dos grandes diferenciais de vir estudar inglês aqui é que o visto de estudante permite 20 horas de trabalho por semana. Segundo o relatório “The value of international education to Australia” elaborado pela Deloitte Access Economics, estima-se que o setor de educação internacional na Austrália tenha contribuído com $17.1 bilhões de dólares ao PIB do país entre 2014–15.
Bem, eu já me considerava fluente em inglês quando cheguei na Austrália para morar e trabalhar aqui. Já havia feito dois cursos completos no Brasil (FISK e Phil Young’s, ambos de inglês americano), já tinha morado nos EUA por 1 ano, lia somente livros em inglês e, de quebra, ainda usava o inglês diariamente no trabalho, há pelo menos 8 anos. Achava estar preparada para entender o Aussie English. Confesso que, mesmo com toda esta bagagem, tive bastante dificuldade para entender o que eles falavam nas ruas, caso não falassem pausadamente.
Mas assim que cheguei aqui pela primeira vez, percebi que o inglês australiano não se parecia com nada do que eu estava acostumada a ouvir nos filmes ou nas conference calls semanais com meus colegas de trabalho europeus, americanos e indianos. O sotaque australiano é fortíssimo e diferente de tudo que conhecia. Para piorar a situação, eu também não estava muito familiarizada com o vocabulário britânico. Nos meus primeiros 3 meses aqui eu assistia à TV e não entendia nadinha, só uma palavra ou outra perdida no meio das frases. A impressão que eu tinha era de que os apresentadores dos telejornais estavam com uma batata quente na boca.
Pausa para contar uma história engraçada: um outro brasileiro, com quem eu trabalhava, me contou que certa vez, conversando com o segurança do escritório, o mesmo lhe disse que a esposa havia ido ao hospital “to die” (tradução: para morrer). O brasileiro ficou perplexo com a informação e tratou de começar a consolar o segurança que estava prestes a se tornar viúvo. Mas o cara não parecia lá muito preocupado… Bem, no final das contas descobriu-se que ele quis dizer “today” (tradução: hoje) e não “to die”. UFA!
Além do sotaque peculiar e do novo vocabulário a aprender, descobri também que os Aussies AMAM encurtar as palavras – e as usam o tempo todo como se fosse a coisa mais normal do mundo. Para se ter uma ideia do tamanho da encrenca que os iniciantes em inglês australiano enfrentam ao chegar aqui, assista a este vídeo hilário:
Fonte: YouTube How to speak Australian : Abbreviate Everything
Eu ainda adicionaria à lista dos meninos as seguintes pérolas:
Preso – Apresentação de PowerPoint
Spready – Planilha (spreadsheet)
Ta – Thanks again
Barbie – Churrasco ou churrasqueira (versão abreviada de barbecue / BBQ)
Wifey – Esposa (wife)
Missus – Esposa (ele fala rapidamente no final mas não aparece na legenda)
Flanno – Camisa de flanela, geralmente xadrez (flannelette shirt)
Daks – Calças
Tellie – TV
Woolies – Woolworths (nome de uma rede de supermercados)
Supa – Super
Pokie – Máquina de Poker (bastante comum nos pubs)
Bogan – Australiano do interior. No Brasil ainda existe uma marca de botas tipo UGGs com este mesmo nome
Heaps – Muito
Thongs – Chinelo de dedos, tipo Havaianas. No inglês americano thongs significa calcinha ou bikini fio-dental.
Esky – Cooler para bebidas
Ute – Caminhonete tipo Saveiro ou caminhãozinho aberto
B.Y.O. – Bring your own (traga sua própria bebida)
EFTPOS – Electronic Funds Transfer at Point of Sale ou pagamento com cartão de débito
Kiwi – Neo Zelandês
E também as expressões:
G’day mate – Olá, oi (mais comumente usado entre homens)
Good on ya, mate – O mesmo que well done
No worries – O mesmo que no problem
Fair dinkum – Real, verdadeiro (“She’s a fair dinkum Aussie girl”)
Bloody oath! – Com certeza!
Poderia ficar aqui até amanhã escrevendo gírias e suas traduções, mas achei este glossário muito legal e completo para facilitar as nossas vidas!
Não existe maneira mais eficiente de se aprender um novo idioma do que o vivenciando no dia a dia. A assimilação de novos conteúdos é praticamente instantânea quando a experiência foi vivenciada com todos os sentidos. Aliás, acho que em tudo na vida a gente só aprende mesmo vivenciando, e com idiomas é a mesma coisa. Nos primeiros meses, entretanto, parece que andamos para trás, ou que esquecemos tudo que sabíamos, ou que não sabíamos era nada mesmo… Isso é normal. Passado o susto inicial, lá pelo segundo ou terceiro mês, tudo começa a fazer mais sentido e a confiança aparece. Aos poucos o processo de aprendizado passa a ser cada ver mais rápido e eficaz.
Lembrei de outra história engraçada… Esta eu li em algum dos grupos de brasileiros do Facebook: uma brasileira foi a uma entrevista de emprego e, ao final, a entrevistadora muito querida e simpática lhe disse: “Thank you for coming, it was lovely meeting you” (Obrigada por ter vindo, foi um prazer conhecê-la). A menina, nervosa pelo stress da entrevista ou mesmo pela falta de fluência, simplesmente teve um branco e respondeu: “I love you too.” (Eu também te amo). Até hoje não sei se ela conseguiu o emprego.
2 Comments
“Não existe maneira mais eficiente de se aprender um novo idioma do que o vivenciando no dia a dia.”
Concordo plenamente, e não acho que seja apenas em casos de novo idioma. Morei por 12 anos na Alemanha, outros 30 passei no Brasil. Acabo de retornar para o país das salsichas, da cerveja e de muitas outras coisas. Como passei muito tempo longe, vindo esporadicamente à trabalho – as visitas eram mais um turismo que uma volta.
Minha rotina (rsrsrs) é composta por rádio com notícias de manhã. Não se trata de compreender tudo, posto que as realidades econômica, sociais e culturais mudaram radicalmente. Prefiro apenas ouvir, sem stress – uma atualização mais orgânica:).
Percebo que meu alemão ficou envelhecido – por outro lado seria ridículo, aos 42, alguém chegar falando cheio de gírias. Hoje, no – Dia Internacional da Língua Materna – o idioma “vivo”, aquele que evolui principalmente por meio dos jovens, as gírias foram tema da matéria e confirmaram que não é esperado que as pessoas mais velhas falem como se tivessem 16 anos.
Tasla, obrigado pelo post – gostei demais do blog =0)
K
Exatamente Klaus! Ufa, que bom que nao esperam que a gente fale como a molecada de 16. Alemão é uma língua dificílima, então tenha paciencia… Eu cheguei aqui de novo e estava mega enferrujada, após ‘somente’ 5 anos fora, normal. Muitas das coisas que nao compreendo ainda são referências super locais a programas de TV ou filmes, ou nomes de lugares e pessoas que eu desconheço. Mas amo cada dia descobrir uma palavra nova! Muito boa sorte aí!!! Bjs