Do portunhol ao espanhol fluente.
Qualquer um que já viajou para um país hispano hablante sabe que dá para se virar com o “portunhol”, nosso jeito carinhoso de chamar a mistura do português com o espanhol, idiomas que fazem parte da família de línguas românicas. São chamadas assim porque vieram do latim vulgar, aquele “falado” na Roma antiga, não o latim culto que foi preservado pela escrita. Exatamente por se derivarem da fala, segundo pesquisa de Ataliba de Castilho para o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, é que se deu a criação de tantos dialetos e línguas atualmente distintas, não só o português e o espanhol, mas também o italiano, o francês, o catalão, o romeno e o galego – as sete que fazem parte da família das românicas. Portanto, essa história de falar portunhol ficou lá no passado do Império Romano!
O portunhol ajuda?
Sim! Não dá pra negar. Quando mudei para a Cidade do México eu tinha tido pouquíssimas aulas de espanhol no Brasil e obviamente tive que me comunicar o tempo todo no começo da vida em um país com outra língua: visitas à escolas, supermercado, compra de móveis para a nova casa, etc. Por isso, não tive outra alternativa senão me aventurar no portunhol, sem me preocupar com o vexame que estava dando. E me surpreendi com a receptividade dos mexicanos para nos comunicarmos! A Cidade do México é bastante internacional, muito mais que São Paulo, por exemplo, então acredito que os chilangos (moradores da capital) estejam acostumados a recepcionar estrangeiros de todo o mundo tentando falar a língua deles. Além disso, o mexicano é como o brasileiro e outros latinos no quesito “amabilidade”, completamente diferente dos parisienses, por exemplo, ao arriscarmos a falar uma mistura de francês e português.
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E depois?
Bom, depois dos primeiros meses hablando portunhol, comecei a me incomodar bastante com esse improviso na minha fala. E eu que já fazia aulas de espanhol desde o início da minha chegada no país, priorizei ainda mais o estudo para melhorar a minha comunicação. O fato é que há muitos brasileiros que vivem aqui e que não se incomodam com isso, ao contrário, dizem que exatamente por entenderem o espanhol mexicano e se fazerem entender, não querem perder tempo estudando. É uma escolha, claro, mas por que não aproveitar a vivência no México para garantir um espanhol fluente? Além de proporcionar uma qualidade de vida melhor no país, pode abrir portas profissionais e pessoais no futuro.
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Mas, é mesmo preciso estudar espanhol?
Para dominar a língua, sim! Não adianta só morar no país e querer aprender no dia a dia, sem estudar. Há brasileiros que moram há anos no México e vejo erros básicos em suas falas, porque é fundamental estudar gramática no espanhol. Assim como o português, o idioma tem inúmeros tempos verbais, divididos entre pretérito, presente e futuro, nos modos indicativo, subjuntivo e imperativo, que ainda podem ser simples, compostos, perfeitos, imperfeitos, e por aí vamos, revivendo todos aqueles nomes dos modos verbais parecidos com os que estudamos no colégio e nem lembrávamos mais. Além disso, há uma lista enorme de verbos irregulares, que mudam de acordo com o tempo e modo verbal, além de variar entre os pronomes (eu, tu, ele, nós, vós, eles), como acontece na nossa língua. Falar português ajuda – e muito – no aprendizado do espanhol. Por isso, vale a pena investir no estudo desse novo idioma para enriquecer o currículo.
Como e onde estudar?
Na capital mexicana há opções diversas de espanhol para estrangeiros: em escolas de idiomas, nas universidades e com professores particulares. Duas opções bem populares entre as brasileiras são os cursos do CEPE (Centro de Enzeñanza para Extranjeros) da Universidade UNAM, e os do CIEL (Centro Internacional de Educación La Salle), da Universidad La Salle. Porém, muitos optam por aulas particulares, que podem acelerar o aprendizado, mas não promovem o convívio com outros estrangeiros, em uma oportunidade de praticar mais o idioma e se relacionar com eles, situação que ajuda muito quem está chegando sem amigos em um novo país. Além das aulas de aprendizado do espanhol, é importante buscar o convívio com mexicanos por razões óbvias: quanto maior a exposição à língua, maior é o aprendizado. Algumas dicas são participar de visitas guiadas em museus, que são lindíssimos e estão por toda a cidade, eventos culturais em livrarias ou cafés e cursos diversos, como história do México, literatura ou culinária, por exemplo. Basta pensar no que mais te encantaria estudar e procurar, pois a Cidade do México tem uma riqueza cultural enorme e uma diversidade de eventos para promover o conhecimento. Recomendo muito o Museu de Antropologia, que oferece quatro horários de visitas guiadas gratuitas, de terça a sábado, e a rede de “cafebrería” (café com livraria) El Pendulo, que tem seis sedes na cidade e um calendário recheado de eventos, de bate-papos gratuitos a contação de estórias para crianças, e cursos diversos, de curta duração, como escritura criativa, filosofia e história do jazz, entre outros. Por último, eu acrescentaria que os mexicanos são de fácil amizade, assim como os brasileiros, e também adoram tomar um café ou sair para “desayunar” (tomar um café da manhã) juntos. Então, não recuse um bom papo com um mexicano para fortalecer o seu espanhol.
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E há certificações oficiais do México no espanhol?
Sim, assim como os famosos certificados de Cambridge para o inglês, há o reconhecimento da fluência na língua espanhola como uma segunda língua através de exames, assim como também há qualificações para o ensino da língua para estrangeiros, que pode ser uma oportunidade de trabalho no futuro – por que não? Ou seja, para se aprofundar e sair do México com um certificado de espanhol reconhecido em outros países, para o futuro profissional, vale investir em cursos específicos para a realização dos exames. Deixo aqui, por fim, duas sugestões deles, para quem quiser se qualificar no aprendizado da língua espanhola: o ECELE (Examen de Certificación de Español como Lengua Extranjera), que é a certificação oficial do governo mexicano, reconhecida no mundo acadêmico e profissional em diversos países, e o CELA (Certificado de Español como Lengua Adicional), que pode ser feito em centros da UNAM, universidade que aplica o exame, em diversos países, como Reino Unido, Estados Unidos e Coreia.
Entonces… deixemos o portunhol para os romanos antigos e vamos hablar español!
3 Comments
Concordo totalmente com você! Aqui na Bolívia a grande maioria dos brasileiros não estuda o idioma e vive por anos a base de um portuñol cheio de erros básicos!!! Já passou da hora de valorizarmos a importância (e a oportunidade, por que não?) de estudarmos espanhol e nos tornarmos fluentes em outro idioma!
Estou contigo, sigo estudando!!! E morro de orgulho quando me dizem que tenho pouco sotaque ou não sabem qual minha nacionalidade!
É isso aí, Letícia! É uma oportunidade de ouro em nossas mãos! Parabéns pela falta de sotaque! Eu ainda chego lá! Também sigo firme estudando 🙂
Paula
Como sempre seus textos são ótimos é muito instrutivos
Estou sempre esperando no começo do mês pelos seus escritos
E acho que o México deve ser ótimo para morar
Beijos ????