Nova carreira com a vida de expatriada.
Muita gente abre mão da carreira no Brasil para acompanhar o marido ou a esposa em uma oportunidade de trabalho no exterior, por motivos diversos: se dedicar à família, por não conseguir a validação do diploma ou por dificuldade de se realocar em um novo mercado. Porém, a expatriação pode ser uma chance de reavaliar os nossos planos, abrir a cabeça para novas ideias e começar uma nova carreira. Em meu último artigo sobre o México, quero contar sobre minha transição de publicitária a professora de línguas, escolha que fiz com o coração e trouxe leveza ao meu novo estilo de vida.
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Uma inquietude e uma paixão
Durante 20 anos, trabalhei na área de marketing em grandes empresas, em Belo Horizonte e São Paulo. Cresci, fui feliz, reconhecida e construí uma carreira da qual me orgulho e tenho boas lembranças. Porém, depois de 3 filhos, tinha uma constante sensação de que não estava me dedicando da melhor maneira a nenhum dos meus papéis: como mãe, profissional e esposa. Não é fácil administrar o leva e busca na escola, idas ao pediatra com crianças pequenas (que frequentemente estão doentes), escolinhas de esporte, festinhas nas casas dos amigos, etc. Muito menos conciliar tudo isso com reuniões até tarde na empresa e apresentações de trabalho finalizadas em casa, depois das crianças dormirem. Até aí, nada de novo na vida da mulher moderna, só mais um retrato comum a tantas outras que têm o mesmo sentimento.
Porém, eu tinha um plano B para esta situação, que veio de uma paixão por pessoas e por estudar línguas. No trabalho, mais do que a vivência em marketing, o que eu mais gostava era ser gestora do meu time. Também já havia dado aulas de balé e experimentado o quanto gratificante é poder fazer diferença na vida de crianças, ensinando-as sobre a importância e o resultado da resiliência, com afeto e paciência. Essa inquietude me fez sonhar em abrir mão da minha carreira em marketing para ser professora de inglês, profissão que além de me permitir trabalhar com minhas paixões, trazia um bônus de ser dona do meu horário e, por consequência, me dedicar mais à família. Por isso, quando aceitamos a proposta que o meu marido recebeu para trabalhar na Cidade do México, soube que a minha hora também tinha chegado. Estava com “a faca e o queijo na mão” para começar a segunda fase profissional da minha vida.
O Começo
Apesar de me mudar com um plano definido, o começo foi mais inesperado do que planejado. Meu filho precisava fazer uma prova para o processo de seleção da escola internacional e fui a professora de inglês dele na transição da mudança do Brasil para o México. Como estava acompanhando a evolução dele no Brasil e conhecia o conteúdo que a escola internacional exigia para a aprovação, não foi difícil criar material para as aulas. Além disso, tive recomendações de alguns sites de apoio, como o British Council Kids.
Meu filho passou na prova e logo depois conheci uma família que precisava da mesma ajuda. Comecei a dar aulas regulares para meu novo aluno, que também entrou na escola, e vieram as recomendações. Mais uma aluna, desta vez adolescente, com um nível intermediário de inglês, e senti necessidade de me capacitar mais. Com meu certificado de inglês avançado de Cambridge (CAE) que tinha tirado no Brasil, consegui aplicar para um curso para obter uma nova certificação, desta vez com aptidão para ser professora.
Fiz o CELTA (Certificate in English Language Teaching to Adults), também pela Universidade de Cambridge. Não é um curso fácil, pois há uma primeira parte teórica bastante densa, com dedicação ao redor de quatro horas diárias, e uma segunda parte prática, quando, durante duas semanas, fui professora de duas turmas reais de alunos, em diferentes níveis, sendo monitorada por tutores certificados por Cambridge.
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Nessa época, minha média de sono diária era de apenas 4 horas, pois os detalhadíssimos planos de aula eram feitos de um dia para o outro, depois de chegar em casa exausta das aulas, física e emocionalmente, tendo que focar no feedback dos tutores para a melhora da entrega no dia seguinte. Como optei pelo curso intensivo, em pouco mais de 3 meses eu estava certificada e muito mais preparada para minha nova carreira, com conhecimento de metodologias para cada tipo de aula ou skill (leitura, gramática, escuta, conversação, etc.), além da experiência com as aulas coletivas.
O Ensino do Português
Depois de algum tempo, comecei a avaliar também a possibilidade de dar aulas de português para crianças, pela demanda enorme de famílias expatriadas, brasileiras ou de outras nacionalidades, mas que já viveram no Brasil e querem manter nosso idioma.
Usei meu conhecimento do CELTA para adaptar as aulas para o português e criei meu próprio método de ensino, depois de conversas com amigas pedagogas no Brasil. Como tenho filhos pequenos, guardo livros, brinquedos e jogos que podem ser úteis nas aulas e crio meu material com abordagem lúdica, respeitando um mesmo tema a cada conjunto de aulas, que é revisado posteriormente em associação com os conteúdos seguintes.
Apesar de não ter formação no ensino do português e na alfabetização de crianças, fiz isso com muita segurança e respeito pelo nosso idioma, pois há muita demanda para pouca oferta de profissionais da área. Além disso, ser mãe de crianças no processo de alfabetização me ajudou a familiarizar com fonemas e a construção da leitura e escrita a partir deles. Do inglês para o português foi só uma adaptação, com inclusão de novos fonemas exclusivos da nossa língua.
No México, muitas empresas que contratam professores de português para dar aulas a seus funcionários exigem apenas a cidadania brasileira e um exame relativamente simples de português na seleção dos profissionais. Por isso e pela minha pequena experiência com o inglês e como mãe, me senti mais que confortável para ensinar nosso idioma a crianças.
Londres
Estava feliz da vida com meus alunos de português e inglês no México, adultos e crianças, dos níveis básico a avançado, quando recebemos a notícia de que o nosso próximo destino seria Londres. Logo associei à oportunidade que eu teria em aperfeiçoar meu inglês com os britânicos, principalmente pronúncia e extensão do vocabulário. Já estudei muito inglês na vida, morei no Canadá por 3 meses, mas nunca tive um inglês perfeito. Avançado, sim; proficiente, não. No começo fiquei relutante em dar aulas, pois me cobrava muito pela perfeição na fala, mas aprendi que a dedicação e a humildade são mais importantes do que a plena capacitação em um início de carreira.
Por isso, meu objetivo com este artigo é inspirar outras brasileiras que queiram se aventurar em novas profissões, em novos países. Cada país pode proporcionar uma experiência diferente, e muitas vezes o que funciona no estilo de vida em um, não funciona no outro. Já estou há quatro meses em Londres e muita coisa mudou. A vida aqui é mais dura e o cuidado com a família precisa ser muito maior. O começo não é fácil e pode ser desanimador, mas continuo com foco nos meus sonhos.
Aqui me despeço de um México que me acolheu no melhor estilo “mi casa, tu casa”, encheu minha vida de música, cores e sabores, me trouxe amizades para toda a vida e uma nova carreira. Que povo lindo o México tem! Que privilégio tive em conviver com mexicanos por dois anos, aprender a língua e conhecer os valores de um povo que se orgulha tanto de sua história. Que te vaya bién, México! Hasta pronto! And welcome to my life, London! Mês que vem tem artigo sobre minha chegada na terra da rainha. See you!
4 Comments
Paula
Conhecer vc melhor e saber desta sua capacidade de trabalho é muito bom
Muito orgulho de você
Merece os parabéns e eu fico feliz com seu sucesso
Já espero seus textos sobre Londres com ansiedade
Vamos através de vc conheceres-te lindo país
Um abraço da sua avó e fã ????Léa
Obrigada, vovó querida! Você será a primeira a saber do próximo texto!
Lindo lindo lindo!
Amei!
Doida pra ver os próximos textos!
Logo, logo chegam os próximos! Obrigada 🙂