Silêncio total. Da balburdia, confusão e sentidos embaralhados, escuta-se o silêncio. Calmo, profundo, irreal. Sair do México e parar na Suiça é quase como transportar-se à outra dimensão onde tudo é diferente e ao mesmo tempo igual. Nada como viajar entre os opostos para perceber, que ao mudar o ambiente externo, nossas percepções mudam e com elas, nossa forma de pensar, de falar, de ser.
Em todas as minhas andanças pelo mundo, entendi que não há lugares bons e ruins, melhores ou piores. Há percepções distintas e relações ( seja consigo, com outros ou com o ambiente) que se transformam em cada lugar que moramos. Para mim, sair da Cidade do México e chegar a Berna é como mudar da extroversão para a introspecção. Isso não é bom, nem ruim. Apenas é.
Uma das consequências desta introspecção é o modo de olhar. Na América Latina, todos se olham mais, se julgam mais, se objetificam de uma forma ou de outra. Aqui isto é menos evidente, dado que dificilmente alguém vai te encarar dentro do metrô, ninguém nunca vai assobiar quando você passa, etc. Isso dá a mulher uma oportunidade de liberar-se de padrões impostos, se quiser. Digo, se quiser porque muita gente não quer romper com estes padrões e vive feliz neles. Para mim, o que acho bacana é a oportunidade de escolha que um lugar introspectivo proporciona. De olhar para si mesmo e escutar seus silêncios.
Claro que, também tem o lado chato de ter que sussurrar em qualquer lugar público se não quiser ser alvo de olhares discretos, porém maldosos, que abominam qualquer espécie de ruído. Tudo bem que Berna não é nenhuma Cingapura, onde há multas até para ficar pelado dentro de casa. Mesmo assim, a distância do modo de ser Mexicano logo transparece quando o seu filho te faz uma pergunta dentro do bonde e o silêncio é tamanho que temos a impressão de que até os povoados mais cercanos podem escutá-lo.
A outra coisa que me chamou logo atenção ao chegar aqui foi respirar ar puro. Há muito verde, poucos carros e muitas bicicletas. No DF quase não há parques arborizados e a poluição é um fator de stress na vida cotidiana do Mexicano. Berna, em contrapartida, é pequena e muito tranquila, o que para a maioria dos Mexicanos que conheci por aqui, é um problema. Para quem gosta de agito, festas e tal, a Suiça é um lugar chato , com mais vacas que gente. Para quem gosta de sossego e vem de alguns anos morando na populosa Cidade do México, pode ser uma dádiva e tanto, porém. É questão de percepção, como falei anteriormente.
Para crianças é um lugar seguro cuja educação é excelente e gratuita. Um verdadeiro alívio para quem vem do México onde o ensino público é ruim e os pais acabam investindo grande parte do salário em escolas particulares. Acredito que o ensino privado no Brasil seja ainda mais caro que no México, de modo que para quem tem família, viver na Suíça tem esta vantagem.
Outra vantagem é que todos falam muitos idiomas aqui. Pelo menos três. Eu que sempre sonhei em ser poliglota, terei finalmente a chance de alcançar meu objetivo. Isto é, se é que este tal de alemão suíço pode ser de fato aprendido pois por enquanto tenho sérias dúvidas quanto a isso. Juro que sempre que entro em alguma loja tenho a impressão nítida de que falam Klingon comigo. Enquanto não viro um explorador de galáxias, prefiro mesmo ir me virando com inglês e francês.
Como boa comilona que sou, uma das primeiras coisas que faço para começar a entender uma cultura é passear nos supermercados e feiras de rua. Aqui na Suíça, frutas e verduras são caras, porém de excelente qualidade. Agora, os queijos, vinhos locais, pães, chocolates etc são um capítulo a parte. Deliciosos.
A variedade de produtos é grande. Em sua maioria importados dado que a Suíça não é um país de grande produção agrícola. Até Guaraná – acredito que em virtude da Copa do Mundo- encontramos com facilidade em qualquer supermercado por um precinho bem salgado como tudo por aqui.
Para os que sofrem com alguma necessidade de alimentação especial, fiquei surpresa com a oferta de produtos gluten free, veganos e orgânicos. No México há produtos de qualidade , porém não há variedade.
A qualidade dos ingredientes aqui traduzem um aspecto interessante da cultura Suíça : frugalidade. O Suíço é reservado e frugal dado que o pouco aqui é muito bom e altamente satisfatório. Na América Latina é justamente o oposto. Uma vez que o básico não costuma ser de boa qualidade, há sempre a necessidade de ter mais e mais para se chegar a um nível médio de satisfação.
Enfim, críticas políticas e sociais a parte, a Suíça me recorda mesmo é que saber escutar silêncios e estar no local adequado ao seu modo de ser, pode ser mais valioso que a gente imagina. Portanto, procure o seu lugar na chuva como eu ( ou ao sol , se gostar de calor) e explore o mundo. Vale a pena.
Leia – A dimensão da pobreza na Suíça!
Leia – Dez diferenças entre o México e a Suíça!
12 Comments
Fernandinha querida, tô doida pra te encontrar, irei em breve em Berna, e ai vamos ter oportunidade de nos encontrarmos e também de apresentar algumas brasileiras nota 1000 por ai, pra aqueles momentos que a gente sente saudade de falar nossa língua e matar saudade da nossa cultura. Adorei seu texto, fava esperando com anseio rsrrs pois queria ver como seria a sua primeira impressão da Suica, concordo em gênero, numero e grau em todos os sentidos sobre os aspectos que você tao lindamente descreveu! Eu acho a qualidade de vida que se tem aqui um luxo: o silencio, a natureza, a segurança, a qualidade das coisas e as oportunidades de lazer, eventos culturais do mais alto nível e educação literalmente TOP. Estar envolvida com grupos de pessoas do mundo inteiro, e ter dicussoes maravilhosas com pessoas envolvidas com projetos globais tanto no setor empreendedor, como no político, ecológico, tecnologico e social. Seja super bem vinda linda! Organize com a maridao e vir passar um dia por aqui em Montreux, o Festival começa em breve, e mesmo que não queiram ir a um show pago, passear na beirada do lago com os shows em espaço aberto e de graxa, ja é uma experiência em si mesma. so posso recomendar! Abreijos linda e inté breve uai!!!!! :)))) Vamos tirar fotos juntas, pra documentar mais um encontro de BPM’s ao redor do mundo! Bjus Só falta a Christiane Lima vir nos encontrar também, vamos marcar! UHUUUU Namasté 🙂 Linda!
Obrigada, querida! Será uma alegria poder encontrá-la, bater papo, e de quebra, ainda conhecer outras brasileiras bacanas. Quanto a Montreaux, queremos muito ir. Como estamos nos mudando para o apartamento definitivo amanha, espero já estar bem instalada para podermos ir. Pode deixar que te aviso se passarmos por aí. Um beijo grande! 🙂 Ahh e sim, se a Chris Lima puder vir tb será bárbaro!
Queridas, estou ansiosa por esse encontrinho “BPM na Suíça”. Até o final do ano, pode ser meio complicado porque estarei por conta da Manuela (a nova integrante da família que “chega” em SET). Mas depois disso, podemos marcar sim!
Fernanda, adorei seu texto! Realmente aqui os “olhares julgadores” são bem mais tranquilos e você pode até dar uma relaxada no visual. E os produtos naturais, orgânicos, gluten free, etc não faltam! Espero que continue curtindo a Suíça. Eu amo! =)
bjs
Ah ja ia esquecendo de dizer, os eventos do lado de fora do Montreux Jazz ja comeca a partir do inicio da tarde, e as crianças também podem participar, pois adoram brincar e ficar em ar livre, é super seguro! 🙂
Nossa! Uma aula de antropologia o seu texto. Parabéns e sucesso nesta nova etapa.
Obrigada, Ju! 🙂 Um beijo grande!
Ai Fernanda como adoro seus textos!!
Verdade que pude te entender quando você fala de sair da loucura do México para ir pra Suiça. claro que França não é uma Suiça da vida, mas a cultura, costumes e o silêncio, Ah o silêncio. aqui quando eu falo mais alto ou gesticulo um pouco mais , já sinto os olhares sobre mim!!!
Bom Fernanda ” hecha ganas” e aproveite muito essas oportunidades do destino, porque você JA é poliglota!!
Bisous!!
Fico tao feliz em saber que vc gosta dos meus textos!!! É uma honra para mim poder compartilhar minhas experiencias com mulheres tao bacanas e poderosas. Quanto a ser poliglota, sempre achei que teria que falar pelo menos 5 idiomas. Estou errada? Ou será que já sou eu, exagerada como sempre, aumentando o desafio? Hahaha beijos!!!
Pronto, decidí, to indo aí te visitar e curtir um pouco desse silencio (nem sei mais o que é isso), ar puro, guloseimas e da compania é claro!?
Eba!! Vem sim, Fê! Vamos bagunçar essa tal de Suiça com as nossas gargalhadas regadas a muito vinho após as 10 da noite ( aqui reclamam até da descarga de vizinho após as 10!!) rsrsrs Beijo em vc, lindona!
Me identifiquei com o texto. Eu cheguei a essas mesmas conclusões que você quando fui passear de férias na Noruega esse ano. Meu conceito de “riqueza” mudou completamente.
Oi Renata. Obrigada pela mensagem. É sempre gostoso saber que alguém se identifica com algo que escrevi. Nossos conceitos de riqueza, necessidade, beleza etc, sao constantemente postos a prova quando conhecemos outras partes do mundo, né? Acho que por esse motivo sou uma eterna cigana. È muito bom re-significar nossos valores e modos de ser. Um grande abraço!