Sentada em frente ao computador e buscando inspiração para o texto deste mês, eu me vi surpresa por não ter ainda pensando no óbvio … a eleição presidencial na França!
Afinal, as eleições francesas exercem uma influência significativa tanto local como internacionalmente, ainda mais em razão dos últimos acontecimentos: atentados, saída do Reino Unido da União Européia, entre outros.
Antes de entrar na questão da corrida presidencial em si, precisamos entender algumas particularidades do contexto político francês e de seu sistema eleitoral.
No país da “liberdade, igualdade e fraternidade” qualquer cidadão francês com idade acima de 18 anos está apto a votar, mas é importante saber que o voto não é obrigatório; além disso, o mandato do presidente é de 5 anos.
O candidato que tiver mais de 50% dos votos é automaticamente eleito, mas isso nunca ocorreu e, por isso, os eleitores sempre consideram que haverá um segundo turno. E como alguns já sabem, nem todos os países possuem um sistema eleitoral informatizado como o nosso queridíssimo Brasil – que diga-se de passagem, é bem controverso. – Aqui, assim como nos EUA e em diversos países do mundo, o voto é no papelzinho.
A corrida presidencial iniciou com 11 candidatos, mas apenas 5 contaram com a visibilidade da mídia, e isso é um dos pontos que mais me chocou em relação ao processo eleitoral francês, pois ao contrário do Brasil, imaginei que um país que preza pela democracia e pela participação cívica, seria mais igualitário neste processo. Aliás, a questão do tempo de visibilidade dos candidatos é motivo de grandes discussões entre os franceses.
Dentre os candidatos mais cotados estavam: Emmanuel Macron, do partido de centro “Em Movimento”; Marine Le Pen, do partido “Frente Nacional”; François Fillon, do partido “Os Republicanos” (antigo partido do ex-presidente Sarkozy); Jean-Luc Melechon, do partido de extrema esquerda “França Insubmissa”; e Benoît Hamon, do partido socialista. E como podemos observar, a cena política francesa continua sendo predominada pelo sexo masculino, pois dentre os 11 candidatos à presidência, apenas 2 mulheres figuram na lista.
Nessa campanha eleitoral existem dois outros pontos que chamaram a minha atenção: o comportamento fracês em relação à política e o nível de abstenção. Do primeiro, eu pude perceber que o país “respira, come e bebe” política, esse é o assunto principal em qualquer lugar, academia, trabalho, tv, bar. Existe uma verdadeira vontade de discutir sobre o assunto. Em contrapartida, o nível de abstenção é consideravelmente alto, chegando a um recorde de 31% durante o primeiro turno, com a tendência de continuar no mesmo nível no segundo turno. São inúmeros os franceses preferem se abster de seus votos por uma questão de descrença nas promessas dos candidatos, ou mesmo na representatividade do governo. Esse comportamento é de certa maneira bem contraditório, pois a grande maioria dos cidadãos são politizados e têm uma opinião formada sobre o contexto político do país, uma posição construída durante a mais tenra idade.
Os dois candidatos que disputaram a presidência a partir do segundo turno, Emmanuel Macron e Marine Le Pen, abordavam propostas um tanto quanto agressivas e radicais. Para Macron, vencedor das eleições, a França deve lançar-se ao liberalismo e, para alcançar os benefícios dessa medida, ele apoia a supressão de cargos públicos, o reestabelecimento do serviço militar obligatório, a redução da alíquota de impostos para empresas, dar ao empresariado mais liberdade para contratar, demitir e selecionar os benefícios alocados a seus funcionários, um verdadeiro problema para a questão da segurança social.
Quanto a Le Pen, a candidata de extrema direita, ela já carrega um sobrenome não “muy amigo” para os franceses mais modernos e de mente aberta. Filha de Jean-Marie Le Pen, figura política francesa bem conhecida por sua posição discriminatória em relação à presença de estrangeiros em território francês, Marine Le Pen seguiu o mesmo caminho. A candidata era contra o projeto da União Européia, pois julga que este é responsável pela fraqueza da economia francesa, inclusive pelo alto nível de desemprego, atualmente a 10%, e a imigração em massa pela qual o país passa atualmente. Assim, um de seus objetivos era retirar o país do bloco europeu e da zona euro para, assim, fechar as fronteiras para os imigrantes, construindo uma França para os franceses. Outra proposta que a candidata apoiou durante a campanha foi a instauração de um país verdadeiramente laico, uma das medidas de luta contra o extremismo e, consequentemente, o terrorismo. Com relação a esse ponto, a candidata defendeu, igualmente, a supressão do direito de solo para a aquisição da nacionalidade francesa.
Durante o período de eleições na França, costumava-se dizer: “nem peste nem coléra”. O país se viu dividido entre dois candidatos cujas propostas eram totalmente opostas, indo de um extremo ao outro e de uma forma nada positiva. Um deles, Macron, foi escolhido e o futuro do França continua incerto. Com tantos problemas sociais como a exclusão social, terrorismo, desemprego, crise econômica, sistema educacional engessado, etc, esperamos que o presidente consiga realizar o essencial: permitir aos cidadãos deste país, nacionais ou estrangeiros, que desfrutem de um melhor bem-estar social.
Enfim, nós brasileiros temos o velho hábito de criticar o nosso país como se não houvesse amanhã e, em contrapartida, colocamos outras nações europeias no alto de um pedestal. A questão, caros leitores, é que quanto mais tempo resido fora do Brasil, mais percebo que existem problemas políticos e sociais que são inerentes à qualquer país e, no caso da França, não deixa de ser diferente.
2 Comments
Excelente texto. Agora a Mme Le Pen veio para Londres apoiar os tories.
Abraço
Oi Daisy, obrigada pelo comentário e por acompanhar o BPM!
Abraço