Seja na condição de viajante ou moradora, uma situação de emergência é algo que lhe pega de surpresa e gera muito nervosismo. Saber o que fazer é o primeiro recurso para manter a calma e lidar com esse momento difícil da melhor maneira possível.
A Holanda é o país da bicicleta, um meio de transporte já incorporado ao estilo de vida local. Mais do que economia, ele gera uma enorme mobilidade em um país de pequeno porte, mas com algumas áreas densamente povoadas. Lógico que com tanta gente pedalando pra lá e pra cá, volta e meia há acidentes… principalmente compartilhando o espaço com pedestres e turistas desavisados, carros e trams (bondes que circulam pelas grandes cidades) – um caos organizado que precisa ser bem orquestrado!
Além disso, há fatores sociais que acontecem mesmo em um país de Primeiro Mundo como a Holanda. Não é algo incomum a mulher ser vítima de violência, muitas vezes até doméstica, e contar com a ajuda de estranhos ou de vizinhos pode ser um desafio, pois as pessoas têm medo de se envolver. Justamente nessas horas, saber como agir pode ser determinante para que o final da história seja feliz.
Eu não imaginava, de dentro da minha “bolha de mulher expatriada casada com um conterrâneo”, que este maravilhoso país que acolhe tão bem os estrangeiros apresentasse a triste estatística de cerca de 56 mil casos relatados de violência doméstica todos os anos.
Fui pesquisar mais em um site oficial do governo e fiquei chocada: estima-se que somente 12% das ocorrências sejam reportadas à polícia, o que implicaria em uma assustadora cifra de 500 mil casos por ano! Nem preciso ressaltar que grande parte das vítimas são mulheres. Uma realidade triste e estarrecedora!
Bem, mas não podemos achar que só casos extremos podem gerar alguma emergência. Acidentes podem acontecer a qualquer um, dentro ou fora de casa, em situações de exposição ao perigo ou não. Aliás, eu diria que com as escadas vertiginosas que temos dentro de casas-padrão holandesas, descer carregando grandes objetos é sempre uma situação de risco. Eu mesma já caí algumas vezes.
Recentemente fui testemunha de um evento do qual ninguém quer participar: uma emergência médica. Eu, que nunca havia precisado pedir uma ambulância em meu país e na minha língua-mãe, tive que agir. E rápido! Depois de passado o susto, percebi que nunca havia pensado no assunto e notei o quanto a orientação certa é fundamental nessas horas.
Busquei auxílio com uma vizinha holandesa com quem tenho muita amizade. Fiz toda a série de perguntas. Nada melhor do que uma amiga local para dar a informação certeira. Ela me explicou todo o procedimento. Espero que nunca precise; no entanto, se a necessidade surgir, você saberá o que fazer.
Vamos ao passo a passo para pedir ajuda num momento extremo:
Ligue para o 112
Este número, assim como em outros países, aceita gratuitamente ligações de qualquer telefone celular (mesmo sem crédito!) ou fixo. O número é o mesmo para todo o país e para toda a série de emergências. Aqui na Europa, pelo menos na França e na Espanha, o número é o mesmo.
Mesmo que você não fale uma única palavra em holandês, não há motivo para pânico. A maioria dos holandeses fala inglês o suficiente.
No meu caso, apesar de eu falar razoavelmente o holandês, eu estava nervosa e preferi falar em inglês, pois domino muito melhor. Os paramédicos foram extremamente atenciosos e conversaram comigo sem o menor problema.
Responda as três perguntas iniciais feitas pelo(a) atendente:
1. Sua emergência é incêndio, polícia ou ambulância?
2. De que cidade você está falando?
3. Em que endereço você está?
Forneça todos os detalhes possíveis
Após respondidas as três perguntas que já darão início ao atendimento, o(a) atendente ficará com você na linha até que o socorro chegue. É ele(a) quem decide a seriedade da situação e a prioridade de atendimento. Daí ser tão importante fornecer as informações corretas sobre a gravidade do acontecido.
Em geral, o socorro vem bem rápido. Parece até que havia alguém bem pertinho, mas não é uma coincidência. É bom planejamento, mesmo.
No caso de uma emergência médica, a vítima é levada para dentro da ambulância, onde recebe o atendimento inicial, que pode ir desde um exame de sangue até um eletrocardiograma. Se a situação não é extrema, a pessoa é liberada e um relatório é emitido poucos minutos depois, para que posteriormente ela vá ao huisarts (o médico da família, que normalmente é um clínico geral – veja no texto da Cintia) e ele decida se é preciso fazer exames mais completos ou apenas incluir o ocorrido no registro médico.
Além de conversar com minha vizinha, fui em busca de estatísticas…
Encontrei um documento em PDF que traz informações detalhadas dos atendimentos médicos em toda a Holanda. Além disso, li que o limite máximo para atendimentos é de 15 minutos em todo o país (dados da Wikipedia); no entanto, na situação que presenciei, o socorro chegou em menos de 5 minutos.
Sou reflexiva por natureza e sempre que passo por uma situação difícil, agarro-me à firme ideia de que valeu pelo aprendizado. A maior lição que tirei desse evento foi de que é muito arriscado contar só com a sorte ou com a boa vontade dos outros. É preciso estar preparada para arregaçar as mangas e tomar o controle da situação com as próprias mãos!