Entrevista com o Ivan Domiciano, bailarino na África do Sul
Bailarino que encanta os palcos de Johannesburgo, levando sua dança e alegria! Conheça um pouco da história e trajetória de vida de Ivan Domiciano, um jovem brasileiro solista do renomado ballet da África do Sul, o Joburg Ballet.
BPM – Com que idade começou a dançar e como foi o início, onde foi?
Eu comecei a dançar com 8 anos de idade. Foi em Piracicaba (SP), através de uma voluntária no meu bairro. Ela criou um grupo de dança, e foi aí que eu comecei a dar meus primeiros passos. Com 13 anos, passei a frequentar uma escola particular de dança, a Academia de Dança do Clube Coronel Barbosa, em Piracicaba. Depois, dei continuidade nos meus estudos em Campinas – SP, na Academia de Ballet Lina Penteado, e complementei meus estudos no Edap (Espaço de Danças e Artes Paulista – SP) e a Cedan (Cia Estável de Dança de Piracicaba), ambos sob a direção da Maitre de Ballet Clássico Camilla Pupa.
BPM – Fale um pouco sobre como era a sua vida na sua cidade natal, sua família e amigos.
Eu nasci em Piracicaba e sou o caçula: tenho um irmão e uma irmã. A maioria dos parentes é toda piracicabana. Sou o único artista da família.
Meu bairro fica localizado na zona rural de Piracicaba, e sempre gostei muito de viver lá. Estudei sempre na mesma escola localizada no meu bairro, que é pequeno e todos se conhecem. Por isso, quando comecei a dançar, precisei muito do apoio da minha família, professores e amigos. Sou muito grato a eles, pois sem esse apoio talvez eu não conseguisse chegar onde cheguei. No começo não foi fácil enfrentar uma sociedade sem estrutura: um garoto de 8 anos trocando as chuteiras por sapatilhas.
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BPM – E como você foi parar na África do Sul e no teatro de Johannesburg?
Eu estava a procura de uma Cia de Ballet para trabalhar, foi então que eu mandei meu material via e-mail para o diretor artístico do Joburg Ballet, Iain MacDonald. Ele avaliou meu material e me ofereceu um contrato de Solista para trabalhar na Cia por um ano.
Eu nunca imaginei que em Johannesburgo teria uma cia de ballet clássico, então fui pesquisar sobre o lugar e me surpreendi com tanta tradição. Já faz três anos que estou morando aqui.
BPM – Quais foram as suas maiores dificuldades em deixar o Brasil e a família pra ir morar na África do Sul?
Essa não é a primeira vez que eu saí para morar em outro lugar. Já tive essa experiência. Com 18 anos, ganhei uma bolsa de estudos para morar na Áustria, e foi uma fase difícil, pois nunca tinha saído de casa.
Tinha que me virar com tudo e falar com meus pais só uma vez por semana. Foi uma experiência incrível para meu amadurecimento pessoal e profissional. Então, dessa vez, vir para a África do Sul não foi tão difícil assim.
Claro que não foi tão fácil, mas eu vim mais amadurecido, e hoje em dia a tecnologia ajuda bastante a matar as saudades da familia e amigos. No começo, à comida foi um pouco complicado de se adaptar, pois não sabia o que comprar ou se eu iria gostar. Ou seja, a comida é uma das coisas que eu mais sinto falta. A língua não foi um problema, pois eu ja falava inglês, no entanto, foi difícil de se acostumar com o sotaque deles.
BPM – E você teve algum problema com relação a preconceito ou rejeição por ser estrangeiro e brasileiro?
Nunca sofri preconceito aqui, pelo contrário! Sempre fui muito bem recebido nos lugares, e quando as pessoas perguntam de que país eu venho, sempre ficam encantados e fazem muitas perguntas sobre o Brasil.
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BPM – E sua rotina no ballet, como é?
Meu dia no ballet começa às 10 horas, e tenho aula de 1 hora e 15 minutos e um intervalo curto. A aula serve para que possamos aquecer e preparar o corpo para os ensaios no decorrer do dia. Esses ensaios variam de acordo com o que estamos dançando. No momento, estamos dançando o ballet A Bela Adormecida, então tenho aulas e vou para meu camarim me maquiar, colocar o figurino, me concentrar e dançar.
BPM – Pra concluir, o que mais lhe agrada em morar em Johannesburgo?
Johannesburgo é uma das cidades mais lindas que eu já conheci! As árvores e o pôr do sol são de tirar o fôlego! Mas eu nunca vou me acostumar com os blackouts e a desigualdade social.