Entrevista com Polly Anna de Andrade Freire.
Na coluna deste mês, como vocês já têm acompanhado por aqui, estamos entrevistando algumas mulheres brasileiras que têm se destacado no país onde vivem.
Aqui em Bogotá, a comunidade de brasileiros é relativamente grande, pelo menos muito maior do que eu imaginava. Pra vocês terem uma ideia, temos um grupo de Whatsapp formado só por mulheres brasileiras, com mais de 200 participantes! Vira e mexe escuto alguém falando português na rua, no mercado, no Shopping… Há uma ONG brasileira chamada Aquarela, que faz vários trabalhos sociais importantes, e é uma fonte de ajuda e apoio para os brasileiros que vivem aqui.
Digo tudo isto, porque aqui, como em várias partes do mundo, existem muitos brasileiros e brasileiras fazendo a diferença, se destacando, empreendendo, e mostrando o que temos de melhor.
E, no meio deste seleto grupo, é que se encontra a pessoa, a mulher que me concedeu a honra de conhecê-la um pouco mais, e cuja história apresento na coluna deste mês, para que vocês também a conheçam.
Apresento a vocês Polly Anna de Andrade Freire, brasileira, 51 anos de idade, mais conhecida entre as brasileiras por Polly Anna ou apenas Polly.
A Polly é brasileira, de Recife, e vive na Colômbia há 32, quase 33 anos! E uma das coisas mais interessantes e que mais me impressionaram ao conhecer a Polly, é que, mesmo vivendo fora do Brasil há tanto tempo, a Polly não perdeu suas raízes, e continua sendo muito brasileira. Tem dois filhos, já adultos, com 31 e 23 anos de idade, para os quais transmitiu não só nossa língua portuguesa, como também a cultura, e o amor pelo Brasil.
E é justamente a sua brasilidade que eu quero destacar aqui. Ela me contou que quando alguém faz um comentário do tipo: “Ah, morando aqui há tanto tempo, já é colombiana!” Sua resposta, gentil e com um lindo sorriso no rosto, é: “Não! Eu amo a Colômbia, mas sou BRASILEIRA!”
Abaixo, algumas perguntas bem simples que fiz a ela, cujas respostas mostram um pouco da sua vida e sua história aqui na Colômbia.
BPM: O que te trouxe para a Colômbia?
Polly: Casei-me com um colombiano que conheci em Recife. Ele foi estudar no Brasil e nos conhecemos na Universidade. Nos casamos no Brasil, e logo depois viemos viver na Colômbia, onde vivo há 32, quase 33 anos!
BPM: O que você faz, com o que trabalha aqui em Bogotá?
Polly: Trabalhei como gerente de lojas do Duty Free, no aeroporto, por muitos anos. Neste período, comecei a fazer minhas peças de bijuterias, uma paixão para mim, uma das razões que me fizeram sair deste trabalho. Depois de um tempo, estava num encontro de brasileiras, em que uma delas veio me perguntar se eu tinha interesse em dar aulas de português, porque o ILUD – Instituto de Lenguas de la Universidad Distrital Francisco Jose de Caldas, em Bogotá, estava precisando de professores. Então, comecei a dar aulas de português nesta universidade, e não parei mais. Hoje, dou aulas na Universidade, aulas particulares também, e monto minhas peças, sempre exclusivas, com pedras vindas do Brasil. Através do meu trabalho, consigo conciliar minhas paixões, que são as bijuterias e o Português, e tenho a possibilidade de difundir a cultura brasileira aqui em Bogotá.
BPM: Na sua visão, como os colombianos vêem os brasileiros e o Brasil?
Polly: Para mim, os colombianos vêem os brasileiros como os melhores vizinhos: alegres, divertidos, e até mesmo reconhecem que levamos vantagens em setores como Comércio e Indústria. O triste é quando joga Brasil x Colômbia, e aí os ânimos mudam nos dois lados. Eu e meus filhos temos vontade de sair correndo, e até evito assistir a essas partidas (risos). Com respeito a língua, o colombiano adora o Português, todos querem aprender nosso idioma. Nossa música também tem lugar de destaque.
BPM: Como é continuar sendo brasileira, mesmo vivendo tanto tempo longe?
Polly: Para manter esse vínculo depois de tanto tempo, para mim os meios de comunicação são fundamentais. Na minha casa assistimos a Globo internacional, e às vezes ouvimos emissoras de rádios brasileiras. E continuo tentando ser feliz sempre, apesar da distância do resto da família. Às vezes quero um pão de queijo com guaraná, ou uma tapioca de coco quentinha “para já”, mas não me deprimo se não tenho isso, simplesmente me jogo num pan de yuca* (risos).
BPM: Como você passou “o ser brasileiro” e suas raízes para seus filhos?
Polly: Meus filhos são grandes, 31 e 23 anos, mas sempre passei pra eles que o Brasil não é melhor ou pior que a Colômbia: só é diferente. E eles acabam tendo o melhor dos dois países. Antigamente era mais complicado, mas hoje em dia, a tecnologia ajuda muito nessa empreitada: whatsapp, chamadas de vídeo, facebook, todas essas ferramentas nos permitem estar mais próximos do Brasil e de nossa gente que está lá.
BPM: Como você mostra e difunde nossa cultura e nossa língua aqui?
Polly: Através de minhas peças (bijuterias) e das aulas de Português. Gosto que os alunos conheçam as manifestações culturais do Brasil, como as festas juninas, festa da cumieera, forró, capoeira, fazendo-os entender que o Brasil não é só Rio, samba, futebol e garotas de biquíni.
BPM: Como você foi recebida como mulher na Colômbia?
Polly: Na verdade, sempre fui muito bem recebida pelo círculo de amizades da família do meu marido, que é colombiano, e pelos meus companheiros de trabalho. Felizmente, foram poucas as vezes que ouvi comentários fora de contexto e perguntas do tipo se eu já tinha desfilado no carnaval do Rio de Janeiro.
Polly Anna não é uma celebridade aqui em Bogotá. Mas sua história e seu jeito de ser e viver, a meu ver, fazem dela uma mulher incrível, que saiu do seu país há tanto tempo, mas não perdeu suas raízes, ao contrário, procura mantê-la viva dentro de casa, e através do seu trabalho. Uma mulher de muita fibra, que trabalha muito, empreende, e faz diferença. Sem dúvida, uma Mulher Brasileira da qual podemos nos orgulhar!
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Polly Anna, muito obrigada pela sua entrevista! O BPM agradece a sua disponibilidade e gentileza em nos contar sua história!
* Pan de Yuca, que pode ser traduzido por pão de mandioca, é um pão feito com polvilho e queijo, e é muito, mas muito parecido com o nosso pão de queijo. Como disse a Polly, é uma ótima alternativa pra quando bate aquela vontade de comer nosso delicioso pão de queijo!
2 Comments
Que linda a história da Polly me indentifiquei.
Que legal, Michelle! A história da Polly é uma inspiração pra todas nós!!