Na Escócia o serviço de saúde é público, administrado pelo NHS Scotland (Serviço Nacional de Saúde, em português). Há também a opção de contratar um plano de saúde particular, mas ele é bem impopular, com apenas 11% da população do Reino Unido tendo este tipo de plano, a maioria destes por recebê-lo como benefício do emprego. Contarei mais sobre os convênios em um próximo texto.
O NHS Scotland tem os mesmos fundamentos do sistema inglês, mas por ser um poder devolvido, ou seja, é administrado separadamente pelo governo escocês, tem algumas diferenças. A eligibilidade dos brasileiros à utilização do NHS vai depender do tipo de visto. Em abril passado uma nova lei entrou em vigor, estipulando a quem tem determinados vistos uma taxa para poder utilizar o NHS, a chamada Immigration Healthcare Surcharge. Ao pagá-la o imigrante tem o mesmo acesso ao NHS que os cidadãos e residentes permanentes.
Como funciona
Se você precisa procurar um médico em um caso não-emergencial, o ponto de partida é o GP (General Practitioner, ou Clínico Geral). Você deve escolher uma das clínicas próximas do seu endereço residencial, de acordo com seu CEP. As clínicas normalmente contam com GPs e com enfermeiras. Estas fazem acompanhamento de pacientes com doenças crônicas (asma, por exemplo) e são responsáveis também por fazer alguns exames básicos, como de sangue. Elas também fazem o primeiro exame que é marcado quando você se registra na clínica.
Como há vários médicos atendendo em uma clínica, nem sempre o paciente é atendido pela mesma pessoa, apesar de esta escolha existir, basta ligar para marcar a consulta e pedir por quem você prefere. Normalmente as consultas estão disponíveis entre 1 e 2 semanas do agendamento. Para casos mais urgentes, o paciente deve ligar na manhã e verificar a disponibilidade de consultas no mesmo dia, e o recepcionista vai perguntar o motivo ou seus sintomas para confirmar a urgência.
Na consulta o GP faz perguntas sobre seus sintomas ou os motivos de você estar lá, fazer exames de toque e aqueles básicos – checar garganta, olhos, ouvidos, batimentos cardíacos, reflexo, entre outros, dependendo do seu relato e da necessidade. Tudo é anotado em uma ficha eletrônica sua que fica mantida no sistema para criar um histórico da sua saúde e tratamento que os outros médicos do NHS podem acessar caso necessário.
Se o GP tiver competência para resolver seu problema, ele receitará medicamentos ou o tratamento necessário, e pedir acompanhamento se for o caso. Se o seu problema tiver que ser examinado mais a fundo, o GP te encaminhará para um especialista.
Os especialistas atendem em hospitais e somente os pacientes com encaminhamento. Não adianta querer marcar consulta diretamente com eles, como acontece com quem tem plano privado no Brasil, que você não conseguirá. O GP solicita o encaminhamento no sistema, que envia o pedido ao hospital da sua região. Assim como as clínicas, o hospital é definido pela região onde você mora, e você só será encaminhado a outro caso a especialidade não seja oferecida no seu hospital principal. O hospital então agenda sua consulta e envia uma carta (nada de e-mail ou telefone, é carta, aquela de papel mesmo) para sua residência com a data e o horário definidos. Caso não seja possível comparecer, você pode ligar para agendar outra data. E ai de quem não comparece no dia combinado: se isto acontece, seu caso volta para o GP, e aí começa tudo de novo. Você tem que voltar no GP e pedir um novo encaminhamento.
De acordo com o regulamento do NHS Scotland, todos os pacientes devem ser atendidos pelo especialista em até 12 semanas a partir da data da solicitação pelo GP. Para casos de tratamento psicológico e saúde mental, são 18 semanas. E para casos de câncer são 62 dias o máximo tempo de espera entre a solicitação de encaminhamento (que se enquadra como urgente) e o primeiro tratamento, sendo 31 dias o máximo entre a confirmação da doença e o primeiro tratamento.
Diferentes serviços de atendimento
O NHS recomenda diferentes serviços dependendo do seu caso:
– Farmacêuticos devem ser consultados em casos mais simples e não-urgentes: dor de cabeça, dor no corpo, resfriados, pequenos cortes, etc;
– Clínicos gerais devem ser consultados na maioria dos casos de saúde;
– Serviços emergenciais, realizados nos A&E (Accident and Emergency, o equivalente ao Pronto-Socorro), lidam somente com casos de extrema urgência. E se você vai sem ser um caso emergencial toma bronca por estar tomando o tempo que poderia ser usado para salvar a vida de alguém;
– Out-of-hours clinics (clínicas fora do horário padrão), são os serviços que ocorrem fora do horário de atendimento regular dos GPs, como finais de semana, mas não são tão urgentes para serem tratados em um A&E. O servico é feito primeiramente por telefone (111), onde uma enfermeira ou um médico conversará com o paciente e indicará o melhor caminho: tratar em casa, agendar uma consulta ou ir a um A&E se for decidido que é na verdade um caso de emergência.;
– Serviços especializados são oferecidos em locais focados em uma área de saúde em particular: dentistas, oftalmologistas, clínicas sexuais, e clínicas de viagem, que oferecem vacinação caso a pessoa precise para ir para determinados destinos.
No próximo mês falarei um pouco mais sobre os serviços especializados e vacinação. Até a próxima!
7 Comments
Daniela, muito bom o post e estou ansiosa pelo post sobre vacinação. Tenho vacinas para serem tomadas quando estiver no meu intercambio na Escócia e queria saber como funciona. =D
Oi Tayse, muito obrigada pelo seu comentário sobre o texto, fico feliz que tenha gostado! E que bacana que você optou pela Escócia para fazer o intercâmbio, belíssima escolha 🙂
Mês que vem conto sobre a vacinação e outros serviços do NHS.
Pingback: Escócia – Cuidando da saúde: serviços especializados
Boa tarde, gostaria de saber se você tem informações sobre a validação do diploma médico. Obrigada
Olá Camila, qual a razão para a revalidação? Trabalho ou estudo?
Se for para trabalho, há algumas regras específicas para médicos que desejam atuar no UK, o site do NHS traz mais informações. De qualquer maneira, se você não é cidadã europeia, deve passar pelo mesmo processo de buscar um empregador que esteja disposto a patrocinar seu visto de trabalho, como qualquer outro profissional de fora da UE. Escrevi sobre a busca por empregos no UK neste texto.
Se for para estudos, você deve verificar com a universidade onde deseja estudar quais são os requisitos de admissão.
Daniela, parabéns pelo post.
Estou nos preparativos para ser transferido para o escritório de Aberdeen da empresa que trabalho. Algumas dúvidas quanto aos serviços de saúde me tiram o sono:
– Minha filha tem 7 anos e está no espectro autista. Ela realiza aqui no Rio diversas terapias (psicóloga, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, etc.). O NHS cobre/oferece todos esses tratamentos?
Abraço.
Olá Bruno!
A Daniela Madureira parou de colaborar conosco, mas temos outras colunistas na Escócia.
Você pode entrar em contato com elas deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Obrigada,
Edição BPM